Chapter eleven

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Avisos

   Minha perna se mexe freneticamente, em claro sinal de ansiedade.

   Meu rosto está um pouco baixo e meus olhos estão vidrados em ponto fixo no chão amarelo, sete pisos à minha frente e tenho certeza disso, pois os contei centenas e centenas de vezes. Novamente, um claro sinal de ansiedade.

    O som da porta se fechando com força atrás de mim chama minha atenção, fazendo-me levantar os olhos e encarar minhas mãos, mais especificamente meu dedo e o anel que está nele, agora manchado de sangue. A força que coloquei no soco não fez com que o homem largasse minha bolça, e sim o diamante do meu anel que cortou sua pele.

   Me encosto na cadeira e guardo minhas mãos no bolso da jaqueta, obrigando a parar de mexer minha perna. Mas não funciona, logo ela está se mexendo novamente, quase como se tivesse vida própria e essa fosse sua escolha.

   Nenhuma música toca, o que só deixa ainda mais a delegacia sem graça e mais propícia para um suicídio, claro, piadas à parte. 

   Não devia ter saído de casa. Isso é bem mais do que óbvio. Mas sai, mesmo com todos os avisos. Devia ter saído do Olympus Royale assim que vi os seguranças se aproximarem de mim, mas não sai, consequentemente me arrastaram para fora do lugar com o ladrãozinho de merda. Viro meu rosto para a esquerda, o encarando. Sim, o idiota que tentou me roubar está a duas mesas de distância da minha, algemado e sendo fichado neste exato momento.

   Volto meu olhar para o sétimo piso à minha frente e foco meu olhar ali por mais uns vinte minutos até que a cadeira do meu lado seja arrastada. Ergo meu olhar para a policial de cabelos pintados de vermelho, Margaret é o nome escrito em seu crachá.

   Ela digita alguma coisa no teclado sem desviar seu olhar do computador e então seus olhos escuros me encaram e tão rapidamente se voltam para o computador, como se fosse uma viciada usando sua droga preferida. Isso me faz gostar menos dela.

   — E então, estou liberada ou quê? — forço minha voz a sair, minha garganta raspando e pedindo por água. 

   Nunca mais beberei.

   — Ainda estamos averiguando sua situação.

   É tudo o que ela diz antes de se levantar e sair dali.

   E tudo volta como antes, meu olhar fixo ao sétimo piso amarelado, o som das vozes e risadas abafadas, com um acréscimo: minha garganta seca.

  Num momento, tudo está calmo e entediante e, no outro, meu coração está quase saindo pela boca, com seus batimentos reverberando por todo meu corpo, o sangue começando a congelar em minhas veias e minha visão ficando desfocada, assim como paro de escutar tudo exceto sua voz em meio aos outros barulhos. Nada mais é entediante e sim gritante como chamas em meio ao mar. Não faz sentido, assim como minha situação atual. Céus, até meus lábios formigam.

  Olho para trás e vejo papai conversando com Margaret. Ela deve estar contando neste exato momento que reagi a uma tentativa de roubo, que soquei o homem e cortei seu rosto com meu anel, e logo em seguida o chutei, e para fechar com chave de ouro: vomitei sobre ele. É exatamente isso que ela deve estar fazendo, pois a falsa ruiva aponta para mim e papai segue seu dedo em minha direção, junto de seu olhar indecifrável em sua face igualmente indecifrável.

   Estou muito ferrada.

Gilmore GirlsOnde histórias criam vida. Descubra agora