Chapter thirteen

63 3 0
                                    

Tempestade.

   Surpresa. Raiva. Desgosto. Aversão.

   É isso que está estampado em sua face. E tudo isso direcionado para mim. Então tudo volta.

  Meu coração volta a bater desfreado, meu sangue volta a congelar em minhas veias, minhas mãos começam a suar e meus olhos se enchem de lágrimas, as quais seguro com todas as minhas forças. 

   Quase como se tivesse nove anos de novo.

   Quase como se mamãe estivesse gritando comigo de novo.

   Levo minha mão esquerda para o meu braço direito e acaricio a cicatriz um pouco acima de meu cotovelo que ganhei de Lorelai naquela noite.

   — Onde você estava com sua cabeça? — sua voz sai enraivecida, como se tivesse descoberto uma traição. E de fato descobriu.

   — Sinto muito — isso é tudo que consigo forçar a sair de meus lábios, mesmo assim é quase como se eu não tivesse dito.

   — Sente muito? Se sentisse, não teria saído de casa. Não teria bebido. Não estaria na situação em que está agora! — seus gritos ecoam por toda a casa e me machucam de uma forma que nunca achei ser possível.

   Continuo segurando as lágrimas.

   — O que você fez foi errado e arriscado — diz como se eu não soubesse desses fatores quando o fiz — Foi impensado e haverá consequências. 

   Abaixo meus olhos para o chão, começando a listar o que de pior ele pode fazer comigo, mas nada, absolutamente nada me preparou para o que disse a seguir.

   — Você vai morar com sua mãe.

Meus olhos se arregalam como nunca achei ser possível, nem mesmo nos filmes de terror, minhas mãos ficam mais geladas do que já estavam e minha boca fica seca como nunca. 

   — Não pode fazer isso — minha voz é falha e extremamente baixa, quase como se não existisse. 

   — Assim como você fez o que fez, posso fazer isso — sua voz sai sem qualquer emoção — para seu quarto. Agora! — ele grita a última parte quando não me movo. 

   Ele se vira e volta para a cozinha enquanto me forço a andar para meu quarto. 

   Assim que fecho a porta, me permito libertar todas as lágrimas que segurei, mas não paro por aí.

   Minha respiração começa a falhar e então começa a acelerar. No segundo seguinte, minhas mãos vão para o feche do meu colar, como se ele fosse o culpado por essa maldita falta de ar. Faço de tudo para abri-lo e, quando não consigo, o arranco, deixando meu pescoço com a sensação de estar pegando fogo.

   Não tarda muito para que me sente no chão, minha costa quase colada na parede, enquanto faço de tudo para tirar minhas botas que parecem fazer parte de mim. Quando finalmente consigo tirar as duas, as jogo para o outro lado do quarto, uma delas bate na escrivaninha e faz com que um quadro se estilhace no chão. Isso parece o menor dos meus problemas no momento.

   Deve ser decisão do momento.

   Uma parte de mim insiste em dizer. A parte positiva.

   Papai anda distante desde a notícia do novo emprego e anda para lá e para cá com o telefone colado na orelha, me evitando sempre que pode. Na verdade, ele anda esquisito muito antes do nosso jantar no Kylpos, até mesmo antes do jantar na vovó. E se ele estivesse planejando isso há tempos? E se ele só estivesse esperando um pretexto? E se for permanente?

  Mas a racionalidade se faz presente, trazendo alguns fatos consigo. O único problema é a racional ser pessimista e quase sempre estar certa.

   Minha mente começa a ficar nublada, como se alguém estivesse rabiscando com uma caneta permanente.

   E como se um estralo se fizesse presente, eu olho para baixo, mais especificamente para minhas pernas manchadas por sangue. Culpa das feridas em meus dedos que continuam a sangrar. 

   Não consigo evitar soltar alguns soluços enquanto continuo a chorar.

Gilmore GirlsOnde histórias criam vida. Descubra agora