𝐀𝐜𝐞 𝐨𝐟 𝐇𝐞𝐚𝐫𝐭𝐬 - 𝑱𝒖𝒍𝒊𝒂 𝑩. [𝐄𝐦 𝐑𝐞𝐯𝐢𝐬ã𝐨]

17 - Medos

20 de Março

Marcela chegou ao Brasil depois de uma longa viagem para resolver questões com outros clientes. Cansada, mas aliviada por finalmente estar de volta, dirigiu-se diretamente ao apartamento de Petra, ansiosa para revê-la. Ao abrir a porta, ela sorriu e, brincando, anunciou sua chegada em voz alta.

— Querida, cheguei!

O silêncio que a recebeu a fez parar por um momento. Achou estranho não ouvir a voz animada de Petra respondendo de volta. O apartamento estava quieto demais. Lorenzo, provavelmente, havia saído para encontrar Marco, mas ainda assim, o ambiente parecia pesado.

Marcela avançou cautelosamente pelo corredor, chamando por Petra, mas sem resposta. Quando entrou na sala, encontrou Petra sentada no sofá, as pernas encolhidas, o rosto enterrado nas mãos. O som abafado dos soluços quebrou o silêncio, e Marcela sentiu uma fisgada de preocupação atravessar seu peito.

— Lizzie? – ela sussurrou, se aproximando lentamente.

Quando Petra finalmente levantou o rosto, Marcela prendeu a respiração. O que ela viu a deixou sem palavras: um roxo profundo ao redor do olho que parecia já estar ali há alguns dias. Petra rapidamente tentou esconder o rosto, como se quisesse evitar a reação de Marcela, mas era tarde demais.

— O que aconteceu? – a voz de Marcela saiu quase num sussurro, o choque e a preocupação misturando-se em cada palavra. Ela se ajoelhou à frente de Petra, segurando seu rosto com delicadeza.

— Foi... foi um acidente – murmurou Petra, desviando o olhar. — Eu... eu me machuquei na cozinha. Lorenzo estava cozinhando, acabou se machucando e eu...

A explicação saiu rápida, sem convicção, e Marcela imediatamente soube que era mentira. O desconforto de Petra, a maneira como ela evitava olhar diretamente nos olhos dela, tudo indicava que havia mais por trás daquilo.

Marcela tentou não deixar a raiva tomar conta. Ela se sentiu culpada, profundamente culpada, por ter apoiado a ideia de Lorenzo vir para o Rio, para perto de Petra. No fundo, sempre teve suas desconfianças sobre ele, mas jamais imaginou que a situação pudesse chegar a esse ponto.

— Lizzie... – começou Marcela, tentando manter a calma. — Isso não foi um acidente, foi?

Petra balançou a cabeça lentamente, mas continuou tentando manter a versão da história.

— Eu... eu não quero falar sobre isso agora, Celly.

Marcela suspirou, sentindo o coração apertado ao ver sua amiga naquele estado. Ela queria gritar, confrontar Lorenzo, protegê-la de tudo aquilo, mas sabia que precisava ser cuidadosa, dar a Petra o espaço e o tempo que ela precisava.

— Tudo bem, querida, você não precisa falar agora. Mas eu estou aqui, tá? – disse Marcela suavemente, acariciando o cabelo de Petra. — E você não tem que lidar com isso sozinha.

Petra assentiu, ainda sem palavras, e Marcela a puxou para um abraço, prometendo a si mesma que faria o que fosse necessário para tirar Petra daquela situação, mesmo que isso significasse enfrentar Lorenzo de frente.

22 de Março

A semana passou em um ritmo estranho e tenso. Petra continuava sua rotina silenciosa e distante, sempre acompanhada por Lorenzo. Chegava ao treino com ele e ia embora da mesma forma, sem dar margem para conversas ou interações com as colegas de time. O roxo em seu olho estava quase sumindo, mas a sombra da preocupação ainda pairava sobre as meninas.

Julia, apesar de todos os esforços para se concentrar no treino, não conseguia afastar a imagem de Petra com o olho machucado. Cada vez que via Petra na quadra, um misto de frustração e impotência crescia dentro dela. Petra estava ali, mas ao mesmo tempo, parecia tão distante, inalcançável. Seus olhares se cruzavam apenas por breves segundos, sempre seguidos por um desvio de olhar, um silêncio carregado de coisas não ditas.