24. Dylan

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O medo se aninhou em meu peito, frio e apertado como um punho. Era como se eu estivesse assistindo a um filme de terror, mas eu era o protagonista, e o monstro era a própria realidade. Helena, pálida e trêmula, rastejou até o quarto. Minha mão tremia ao girar a maçaneta, um tremor que ecoava na minha alma. Antes de abrir a porta, eu orei. Orei com todas as minhas forças para que a tempestade se abatesse sobre mim, para que eu carregasse o peso, para que Helena ficasse ilesa.

Eu sabia. Sabia desde o início que isso aconteceria. Era uma maldição, uma sombra que me perseguia, e agora ela se estendia para engolfar aqueles que eu amava. E Helena, minha Helena, estava bem no centro da mira.

A maçaneta fria raspou em meus dedos. A porta rangeu, revelando uma visão que me deixou sem fôlego. Três homens, com expressões impenetráveis. Eles usavam roupas tradicionais nigerianas, tecidos vibrantes e coloridos que pareciam ter sido tecidos à mão.

Um deles, o mais alto, tinha um turbante azul-escuro envolto em sua cabeça, e sua túnica branca era ricamente bordada com fios dourados. O segundo, mais baixo e corpulento, usava um agbada azul-celeste, com um bordado de correntes douradas em torno do pescoço. O terceiro, mais jovem e magro, usava um dashiki vermelho vibrante, com um padrão de figuras geométricas em preto.

— Rodrigo Amberiz? — o alto se pronunciou, sua voz grave e profunda como o eco de um tambor ancestral. Assenti ainda os analisando, os três homens diante de mim, e calmamente, a tensão que antes me oprimia se dissipou.

— Em que posso ajudar? — perguntei, minha voz firme, buscando manter o controle da situação.

— Preciso que venhas connosco.

A voz dele, áspera como pedra-pomes, me arranhou a alma. Meu corpo travou, a respiração presa na garganta.

 — Como assim?

Dois outros caras me agarraram pelos braços.  A força deles era bruta, implacável, me puxando para fora da minha realidade.  Onde estava Helena?  Meu coração batia forte, um ritmo frenético que ecoava nos meus ouvidos.

— Isto é um erro! Eu estou do vosso lado!— eu gritei, a voz falhando. Mas eles me ignoraram, me arrastando para a máquina velha, enferrujada, que parecia ter saído de um pesadelo.

O cheiro de ferrugem e gasolina me invadiu as narinas, me sufocando.  A porta bateu com um estrondo, selando meu destino.

E então, eu o vi.  Wilter.

Ele estava saindo da mesma máquina, vestindo as mesmas roupas escuras que os outros, mas com um olhar que me congelou o sangue.

— Wilter?

Ele me encarou com um olhar de puro desprezo, a dor da surra que ele me dera ainda latejando em meu corpo.  Mas nada doía mais que a imagem de Helena, aterrorizada, sozinha.

— Você vai para cadeia, seu idiota! — ele gritou, a voz cheia de raiva. — Levem ele, já cumpri com a minha parte, não quero ele aqui.

— Wilter, isso é um erro... eu estou do vosso lado!

— Cala a boca, você é um idiota. Brincou connosco, eu dei essa casa com amor, mas você correspondeu com ódio e nojo, eu confiei em você...

Outro soco, brutal, me fez ver estrelas.

— ... ainda comias a minha mulher.

Outro soco, e outro, e outro.  Cada um deles me dilacerava por dentro, me arrancando pedaços da alma.

— Eu vou me certificar que tenhas o preço que mereces, como teve a tua família.

— O que tem a minha família?

Wilter riu, uma risada seca e cruel.

— O que tem a tua família, porra?

E a máquina começou a se mover, me levando para um destino incerto, mas que eu sabia que seria cruel e implacável.  A imagem de Helena, aterrorizada, sozinha, me assombrava.



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