22. Helena

5 1 0
                                    

A luz da manhã, pálida e fria como um fantasma, se esgueirava pelas frestas da cortina, pintando o quarto de um tom melancólico. Abri os olhos devagar, a memória da noite anterior ainda me assombrando como um fantasma delicioso. Dylan dormia ao meu lado, a respiração tranquila e suave, como se nada tivesse acontecido. Mas eu sentia a tempestade de paixão que havíamos vivido, ainda me consumindo por dentro.

Um sorriso involuntário se formou em meus lábios. Seu cabelo castanho estava espalhado pelo travesseiro, como se um anjo tivesse pousado ali, deixando um rastro de pura beleza. Era difícil acreditar que esse homem, tão tranquilo e inocente em seu sono, traria sensações que eu nunca imaginei experimentar.

Levantei-me da cama com cuidado, tentando não perturbar seu sono. A imagem de seus olhos escuros e intensos, a maneira como ele me olhava com um desejo que me deixava arrepiada, ainda me assombrava. Era como se a noite passada tivesse sido um sonho, um sonho tão real, tão intenso, que eu tinha medo de acordar.

Caminhei até a cozinha, sentindo a leve dor em minhas pernas, uma lembrança da intensidade da noite anterior. A água gelada escorria pela minha garganta, saciando a sede que me consumia. Era como se meu corpo estivesse faminto por tudo: por água, por comida, por algo que eu não conseguia nomear. O celular vibrou, mas eu não conseguia encontrá-lo. Levantei-me da cama, a memória da noite anterior ainda viva em meus sentidos, e corri em direção ao quarto. Dylan estava descendo as escadas, sonolento, com o meu celular em suas mãos. Ele estava nu, seu corpo ainda carregando a marca da nossa paixão.

— Quem é? — perguntei, e ele olhou para a tela como se tivesse esquecido que existia algo além do meu corpo.

Dylan arregalou os olhos, a mão tremendo enquanto me entregava o celular. Já sabia quem era. Revirei os olhos, a raiva me engolfando, e deslizei o botão verde.

Por que a demora, porra? O que estavas a fazer?

— Bom dia, Wilter. — respondi, exausta. —Por que essa gritaria?

— Puta merda, Helena. Você não deixa de ser burra!

— Vai te lixar, Wilter!

Joguei o celular no nada, e cerrei meus punhos. Todos os dias me pergunto como fui me casar com este nojo de homem.

— O que ele queria? — Dylan perguntou descendo as escadas, já vestido.

— O de costume. Me humilhar, ofender e arruinar a minha vida.

— Ignora ele, deve ser saudades. Ele está com ciúmes.

Dylan sorriu, e seus olhos brilharam com uma intensidade que me deixou arrepiada.

— Você nunca me disse para onde ele foi. — relembrou, a voz rouca, sentando-se na cadeira onde eu coloquei o prato. O olhar fixo no vazio, como se estivesse procurando respostas em um céu nublado.

— Não sei ao certo. — confessei, a garganta seca. — Quando ele começou a dizer, a única coisa que me deixou feliz, foi o facto dele estar indo embora.

— Mas deverias saber, e se acontecer alguma coisa? — a preocupação era visível em seus olhos, como um furacão prestes a se formar.

De certo, ele tem razão. O medo me engoliu, frio e cruel.

— África... África do Sul. Ele foi para África do Sul, disse que tem uma reunião com um dos maestros, também não entendi.

Chama Sombria Onde histórias criam vida. Descubra agora