4. Helena

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Dylan me deixava desconfortável. Não era só a presença dele, era a sensação que ele me dava.  Uma mistura estranha de atração e repulsa, que me deixava em alerta.  Meu instinto feminino foi direto para os lábios dele, como se estivesse hipnotizada. Me sinto um lixo. Depois de jurar fidelidade ao Wilter, me sentir atraída por outro homem é um pecado imperdoável.  Eu me sinto uma traidora, condenada ao inferno.

Faz meia hora que dei de mamar para o Silan, meia hora que ele dorme, e meia hora que eu estou nesse quarto, escondida nesse sofá minúsculo.Tentei me convencer que foi só um lapso, um momento de fraqueza.  Mas a imagem dos lábios dele não sai da minha cabeça.  Ele é um mistério, um viúvo que não parece carregar a dor da perda, o que me deixa ainda mais intrigada.  Preciso me afastar, evitar qualquer contato que possa me levar à ruína.  Arriscar meu patrimônio por um pênis não fazia parte do meu plano.

O céu está nublado, deve ser quase seis da tarde.  Não posso ficar aqui para sempre, porém, a ideia é tentadora.  Enquanto a ciência não inventa a máquina de duplicar, eu estou obrigada a encarar a realidade.

Silêncio na casa.

Dylan deve estar no quarto dele, ou saiu para respirar um pouco.  Coloquei uma roupa confortável e pensei no que fazer.  A janta está pronta, a casa está limpa, nada para me ocupar.  Peguei meu celular para me distrair nas redes sociais, e a Ester mandou mensagem:

Noite de meninas?

Ela sabe que esse tipo de encontro não faz parte do meu vocabulário marital.

Ester, sério isso?

Ela respondeu na hora, como se estivesse esperando por essa pergunta.

Helena, faz meses que a gente não tem uma mexida. Por quanto tempo tens que cuidar daquele idiota?

Ester é o oposto da mulher da Bíblia. Nomes iguais, personalidades diferentes.  Meus pais sempre a acharam uma má influência, só por causa de um abraço no meu primo/irmão.  Mas eu amo ela, as loucuras dela me salvaram uma vez.  Se não fosse por ela, eu não teria casado virgem.  Bebi tanto naquele dia que a considero um ser racional.  Ela sabia do meu noivado e o quanto a minha pureza era importante para todos.

Respondi rápido, porque o Dylan desceu as escadas, todo suado, só de regata.  Eu deveria achar isso normal?  Um estranho, quase pelado, na minha frente, e eu olhando para aqueles bíceps. 

Droga, o que é isso?

— Como estás? Achei que tivesses sido raptada. — ele disse, se sentando no sofá na minha frente. — Desapareceu por muito tempo...

— Peguei no sono, acho que o Silan sugou toda a minha energia.

Ele pareceu distante por um tempo, causando uma curiosidade.

— Wilter sempre chega tarde?

— Sim, o trabalho dele é muito intenso.

— Tenho saudades de passar tempo com ele.

— Correr alivia a sua dor? 

— Sim, como notou?

Ingênuo.  Eu conheço esse jogo.

— Nada, só estou surpresa. Está um frio lá fora, por isso a admiração.

Queria poder ler a mente dele, mas ele parece se divertir com a minha inquietação.

— Está tudo bem? — ele perguntou, mexendo no celular.  Quando ele pegou nele?

Acho que estou ficando paranoica.  Esse homem está me enlouquecendo e só se passaram sete horas.
Pela primeira vez, depois de meses, fiquei feliz por Wilter ter chegado.  Acho que só preciso do meu esposo para me acalmar.


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