8. Helena

9 1 0
                                    

O inferno. É assim que eu descrevo a minha vida. Um inferno que começou a arder no dia em que conheci Wilter. Eu era jovem, apaixonada, sonhadora. Ele me prometeu o céu, e eu, cega de amor, acreditei. "Sim", a resposta que mudou a minha vida. Fiz um buraco para mim mesma, pronta para abandonar o inferno dos berros dos meus pais, e a educação sufocante, mas tudo foi em vão. Wilter era a minha salvação, o meu caminho para a luz.

Mas a luz se apagou com o primeiro tapa. Um tapa que ecoou no meu coração, um sinal de que o inferno estava apenas começando. Eu tinha medo de voltar para casa, de enfrentar a desilusão dos meus pais, mas o medo de ficar com ele era maior. E assim me perdi na escuridão, cada dia mais profunda, cada dia mais insuportável.

Então ele chegou, um anjo de olhos azuis e sorriso tímido. Silan, o bebê que nasceu do meu tormento, o fruto amargo de um amor doentio. Ele era a minha âncora, o único fio que me ligava à vida, a única razão para aguentar o inferno que Wilter me impôs.

(...)

Não estava dormindo, na verdade, estava impossível. Não era insônia, era a maldita luz do sol tocando em minha cara. Horas atrás, senti Wilter levantando da cama, mas não demonstrei estar acordada. Mas eu senti seus beijos em minha bochecha, na bochecha onde foi depositada o tapa. Senti uma vontade de o vomitar, um nojo idiota, e limpei rapidamente sua saliva quando ele entrou no banheiro.

Enrolei meu corpo, ficando de barriga para cima. Ainda não cheguei na sala de estar, desde ontem à noite que não saio deste quarto. Olho pelo aparelho, e Silan não está cama. Espera, Silan não está na cama? Levantei na hora, correndo até seu quarto, para ter certeza que não era fruto da minha imaginação. E se minha mãe o levou ontem à noite por me achar uma mãe fraca? E se Wilter o entregou a minha mãe por eu ser uma esposa idiota? E as minhas paranoias estivessem certas e Dylan realmente não fosse quem eu pensava?

Suspirei de alívio e desespero. Peguei na parede, buscando o fôlego. Dylan olhou para mim confuso, e colocou Silan de volta em sua cadeira.

— Desculpa, é que ele começou a chorar então eu não queria interromper o seu sono...

Ele parou de falar. Praticamente congelou. Olhei em meu corpo, e notei que usava apenas o meu pijama ( um mini short, e uma regata). Que droga!
Não deu tempo de trocar as vestes, pois Silan decidiu chorar neste exato momento. Com vergonha, tentei cobrir meu corpo, enquanto andava em sua direção.

— Calma, meu filho... a mamã está aqui.

Beijei seus cabelos, evitando olhar para atrás. Mas eu sabia que não valia a pena, eu estava praticamente semi nua, e não foi proposital. Com o que aconteceu ontem, não tive tempo de processar e me arrumar totalmente, peguei tudo que vi, e deitei na minha cama continuando a derramar as lágrimas.

— Eu vou para cima.

Dylan avisou, e ouvi ele subindo as escadas. Fechei meus olhos, e um sorriso formou em meus lábios. Por que eu estou sorrindo? Por me sentir desejada. É bom saber que ainda possuo este papel, mesmo que Wilter faça da minha vida um inferno.







Chama Sombria Onde histórias criam vida. Descubra agora