"É preciso acreditar no sangue como parte de nossa vida.
A truculência. É amor também."
-Clarice Lispector.Levar Lily para casa foi trabalhoso e assustador. A mais velha não parava de sangrar e em certos momentos seu corpo dava pequenos espasmos. Winona tirou forças de um lugar que nem sabia que tinha para conseguir carregá-la até onde a égua de Lily estava.
Por sorte a égua, Epona, parecia bem esperta e com uma Lily desacordada e sangrando em suas costas e Winona a segurando, as guiou pela parte distante do vilarejo até chegarem na fazenda da família da Lily que ficava um pouco além do vilarejo. A primeiro momento ficou perdida mas conseguiu levá-la para um dos quartos. Por sorte a família dela não estava lá, não sabia o motivo mas agradeceu aos espíritos por isso, tinha noção de que se fosse vista por alguém, seria acusada de machucar Lily.
Cuidou dela da maneira que conseguiu, usando panos limpos e estancando as feridas, trocou suas roupas e em momento algum ela deu sinal de que iria acordar…
Precisou ir embora quando viu o quão tarde estava. Parou no rio limpando suas roupas e pele do sangue da mais velha, e quando alcançou sua aldeia, a pé, já estava amanhecendo… não era problema, não iria conseguir dormir por mais exausta que estivesse. Durante a manhã e à tarde não saiu de sua aldeia, seguindo sua antiga rotina buscando um pouco de normalidade, ajudando com o que precisava e passando um tempo com seu pai e seu irmão, mas em momento algum o alívio chegou ao seu peito.
A angústia de ficar sem saber se Lily estava bem, se tinha acordado, além daquilo, toda a preocupação sobre a mina e o santuário, ninguém da aldeia além dela sabia da decisão do governador, sobre a mina e o perigo que o Santuário sofria… quando descobrissem, não teriam palavras de anciãos que seriam escutadas, todos e seu pai inclusive se revoltariam e atacariam sem pensar duas vezes… afinal precisavam proteger as suas terras.
A noite chegou e todos foram se deitar. Winona buscou um cavalo e cavalgou mais uma vez até a fazenda da família de Lily, parou com o cavalo um tanto distante, seguiu andando até chegar próxima a casa, conseguiu ouvir vozes de um homem e uma mulher conversando em tom preocupado.
—...Claro que não…— O homem dizia.
—Querido, mas é o que disseram, os tiros ontem à noite, provavelmente a Lily confrontou alguém.— a mulher disse.
—Ela não se envolveria em brigas assim. Tem algo errado, Daisy, primeiro a briga no bar e agora isso?
—Tenha calma, amor.— O silêncio se fez por um instante. —Tenho certeza que quando ela melhorar ela se lembrará…
Winona parou de ouvir naquela parte, “se lembrará”? Significava que Lily tinha acordado? Um alívio tomou conta do seu peito, soltando um suspiro baixo, era tão bom saber daquilo.
Esperou um tempo, até tudo ficar em silêncio e a conversa terminar, quando teve certeza que tinham ido dormir, entrou no quarto em que Lily estava pela janela.
A sua expressão estava mais tranquila do que na noite anterior, dormia como um anjo…
Winona decidiu não acordá-la. Andou com seus pés descalços pelo quarto parando para observar os detalhes que não reparou na noite anterior.
Ao lado da cama de Lily tinha uma fotografia em preto e branco emoldurada, na foto tinha uma Lily criança sorridente com o que imaginou ser o pai e a mãe dela. Pareciam felizes. Havia uma estante com alguns livros, gostaria de saber sobre o que eles falavam, quais eram os assuntos que ela gostava de ler.
Tinha outra estante com diversos chapéus, ela realmente não estava brincando quando disse que tinha outros, e do outro lado do quarto um guarda roupas, tinha diversas calças, coletes e camisetas com tantas cores quanto às penas de um pássaro, todas tinham aquele cheiro caracteristico de grama e chuva que Lily costumava ter.
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Estrela do Oeste | Sáfico
Romance"-E se eu puxar o gatilho? Se eu acabar com tudo agora...?" Em Great Tilbury, no Velho Oeste estadunidense em 1871, o pavio é aceso depois que um jovem rapaz encontra ouro em território indígena. Esse achado desperta o olhar dos cowboys e foras da l...