Capítulo 14

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"Tempestade... O desgrenhamento
das ramagens... O choro vão
da água triste, do longo vento,
vem morrer-me no coração."

-Cecília Meireles


18 de abril de 1871

Winona acordou tranquila naquela manhã, sem pesadelos e uma sensação de euforia que mal conseguia conter para si, Lily tinha feito morada em sua mente desde a pequena aventura que tiveram na tarde anterior.

Winona mal conseguia acreditar que tinha tomado coragem para fazer aquilo mesmo e sentia que poderia ter sido um sonho... um sonho lindo e maravilhoso.

Logo que saiu de sua tenda foi puxada por umas crianças da aldeia que queriam mostrar as tintas que conseguiram fazer, tintas vermelhas, amarelas e pretas e imploraram que deixassem pintar seu rosto. Winona estava cheia de afazeres, mas cedeu, deixando que pintassem. Sabia o que era aquilo, amava fazer tinta e pintar quando era criança também.

Cada pintura em sua tribo tinha um significado, a favorita das crianças naquela idade era a de jovens guerreiros. Tinta vermelha nas faces e uma linha reta em preto passando pelo meio do rosto, da testa até a ponta do queixo, assim como uma linha abaixo dos olhos. Era bonito, mas não tinha absolutamente nada haver com Winona, não era uma guerreira, era uma amante. Nunca se viu em uma batalha, mas ficou feliz em deixar as crianças alegres.

Ao fim permaneceu com a pintura no rosto apenas para agradar os pequenos, indo fazer suas tarefas.

Enquanto caminhava em direção à floresta conseguiu ver o Sol começar a ser coberto com nuvens... choveria em breve.

Foi ajudar a buscar frutas, notando que algumas mulheres percebiam a sua euforia e repentina alegria.

Winona parece tão iluminada hoje!— Uma delas disse enquanto Winona estava em cima de um dos galhos colhendo as maçãs e jogando no cesto abaixo.

Ah, eu também ficaria feliz assim.— Outra respondeu. —Breve ela completa mais um ciclo e logo vai se casar com Kangee.

Uma terceira mulher soltou um suspiro.

Kangee é um verdadeiro sonho.

Winona revirou os olhos dando uma risada baixa.

Não é por nada disso meninas, só é um dia bonito mesmo. Winona desceu da árvore após o cesto estar cheio. —Sinto que coisas boas estão por vir.

Tentou ser otimista, nenhuma delas pareceu acreditar em sua desculpa, a manhã mal tinha começado e estava nublada e fria com a chegada da chuva primaveril.

Coisas boas tipo o seu casamento com Kangee?— A primeira perguntou, fazendo as outras rirem. —Você está caidinha por ele, dá pra ver nos seus olhos brilhantes.

Acho que vocês esquecem que ele é meu melhor amigo. Pegou o cesto. —Aliás, uma de vocês ainda tem tempo de se juntar com ele.

Pode até ser, mas eles só tem olhos pra você.Disse a terceira.

Não fale besteiras. Winona disse e limpou a garganta. —Bom, já estou indo.

Disse e saiu enquanto escutava a conversa sobre ela e Kangee ainda rolando, algumas risadas e cochichos, até tudo se fazer em silêncio na trilha da floresta até a aldeia. Não se preocupava com sua união com Kangee, apesar de suas familias quererem, respeitariam suas decisões, além disso sabia que o amigo eventualmente encontraria alguém que o amasse e esse sentimento fosse recíproco.

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