28 | Aproximação forçada

4.4K 473 220
                                    


LENNA

1 mês depois.


   Em todas esses dias e semanas, pensei que a única pessoa que tentaria de todos os jeitos possíveis se aproximar de Alice, seria a minha mãe. Mas não.

Eu errei nessa questão.

Minha mãe nem sequer tocou no assunto. Eu não sei como ela estava conseguido lidar tão bem. Pensei que o momento a devastaria. Porém, ela estava lidando com tudo da melhor maneira possível.

Lidando bem até demais. Nos meus pensamentos, ela gritaria até morrer, depois se jogaria no chão, gritando mais, contando a todos do castelo que Alice era a sua filha.

Uma visão dramática e subestimada minha.

Cogitei que ela fosse tentar uma aproximação no mesmo dia, que uma briga do tamanho do mundo iria começar, e todos do castelo saberiam a verdade. Entretanto, quando me dei conta, quem estava tentando forçar uma aproximação, era eu.

Todo esse tempo que passei no castelo, nunca tive muito contato com Alice. Nunca tivemos uma troca de conversa extensa onde tivemos assunto sobre nossas vidas. Nunca contamos algo significante uma pra outra.

Eu só sabia que ela estava ali, em algum canto daquele castelo, mas também não ficava pensando na sua existência. Mas alguma coisa depois que eu fiquei sabendo que ela era a minha irmã, não me deixou em paz.

Essa coisa ficava a todo momento falando alto dentro do meu peito.

Eu queria saber mais sobre ela.

Queria saber como foi o seu crescimento aqui dentro; quais são os seus sonhos e planejamentos pro futuro; qual é a sua cor preferida; qual é a sua comida predileta; para qual lado ela gosta de dormir ( para a direita, ou para a esquerda?); qual foi o primeiro dente que ela perdeu?

E para a minha infelicidade ela não carregava as mesmas curiosidades.

Além disso, queria a todo custo manter distância.

Natan não notou as mínimas aproximações que tentei fazer, porque foram sutis demais. Comecei indo tomar café da manhã no mesmo horário em que Alice costumava ir todos os dias. Descobri o horário perguntando para Jez, aproveitando para perguntar mais coisas, e na maioria das vezes, ela não sabia me responder.

E era compreensível, pois seu trabalho não se resumia a ficar de olho em uma pessoa daquele castelo.

Jez, por exemplo, não saberia qual era a comida preferida de Alice.

Só que, conforme os dias foram passando, e Alice percebeu a minha mudança de comportamento, por mais que ficássemos quietas na mesa, sem dizer nada, apenas olhando para a comida, colocando-a na boca, olhando para o ambiente, e quando nossos olhos se cruzavam em fração de segundos, e desviavamos, ela passou a se afastar. Em todos os outros dias que desci para tomar café no horário que ela costumava ir, não a encontrei na mesa.

Alice passou a tomar o café da manhã no quarto.

Tudo para não me encontrar.

Resumindo: não consegui trocar uma frase com ela.

Eu parei de insistir em descer naquele horário exato quando percebi que a minha atitude não daria em nada. Mas essa não foi a última vez que eu tentei me aproximar. Depois da minha tentativa falha de encontrá-la na mesa do café da manhã para puxar assunto, soube mais uma vez por meio da boca de Jez, após entupi-la com perguntas, que Alice passava a maior parte da sua tarde no estábulo onde ficavam os cavalos, ou, fora do castelo, passeando com um deles, e que as vezes, podia passar quase o dia inteiro fazendo isso.

Meu reinadoOnde histórias criam vida. Descubra agora