27 | Um pedaço do passado.

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LENNA


   O meu corpo tremeu.

   O meu coração disparou.

   Alice era a minha irmã.

Eu fiquei boquiaberta, sentindo o corpo tremendo enquanto as minhas mãos seguravam a mão solta da minha mãe. A encarei chorando de olhos fechados para não precisar olhar nenhum de nós. Vi Arthur se afastando aos poucos, com os olhos marejados e a boca cheia, dando cinco passos para trás, vomitando no chão.

— Eu sinto muito — falei, me virando um pouco para ele, notando seu desespero.

Eu larguei a mão da minha mãe em cima da cama, saindo do quarto para me afastar do que tinha acabado de acontecer, e também, para não continuar encarando Arthur vomitando, para não acabar vomitando também.

Alice era uma de nós.

Alice era a minha irmã.

A minha mente não parava de pensar sobre isso.

Era inacreditável na mesma proporção que era tão possível... o que a minha mãe detalhou fazia tanto sentindo, porque eu conseguiria achar o meu pai louco ao ponto de vender a própria filha pra ter uma casa.

É algo que o meu pai faria sem nem pensar ou sentir culpa.

E também, a Alice era muito diferente do Natan fisicamente.

Eles não eram nada iguais.

Em nenhum aspecto físico.

E a minha mãe era loira como a Alice... e os olhos azuis dela eram idênticos aos olhos do meu pai.

Não havia como negar.

Era a verdade, por mais que pra mim fosse insano.

E era mesmo.

Não teria um motivo para a minha mãe ter mentido — ela não ganharia nada com isso.

Quando eu olhei pro lado, e vi o fim das escadas, enxerguei Natan de costas, perto da porta de saída, prenssando os olhos com as duas mãos.

— Quando pretendia me contar? — perguntei, descendo as escadas, devagar, segudando o choro intalado em minha garganta, o vendo torcer um pouco do tronco para me encarar de soslaio, voltando a posição que estava antes, agindo com indiferença, querendo evitar mais sofrimento para o seu lado.

— Eu não pretendia.

— Só não contava que a minha mãe fosse abrir a boca — especifiquei. — Não era óbvio que ela não conseguiria segurar essa informação dentro da boca?

Natan voltou a esfregar os olhos.

Ele não tinha matado o meu pai unicamente pela Alice; era um conjunto de coisas. Natan o matou porque estava com raiva, e na tentativa de prolongar mais as chances que existiam de alguém saber do segredo que guardava.

Lá no fundo ele tinha ciencia de que não conseguiria esconder por tanto tempo.

A minha mãe, que continuou viva, foi a principal participante da história.

E ela não demoraria nada para abrir a boca — e foi o que aconteceu.

— Eu jamais conseguiria dar um fim nela — falou, imaginando que eu estivesse pensando em algo parecido.

— Eu nunca te perdoaria — o olhei, com os lábios estremecidas.

— Eu sei — respondeu — Levo a sua dor em consideração acima dos motivos que eu temia que alguém soubesse da minha irmã.

Meu reinadoOnde histórias criam vida. Descubra agora