𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 3

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CAPÍTULO 3

O homem careca bate uma palma e continua o caminho, nos levando para um lance de escadas. Larry, amiguinho de Cinco, diz que este é o apartamento dos fundadores, e eu me sinto um pouco mais receosa com essa missão. Tudo bem que são só lunáticos, mas muitos deles podem ser perigosos.

— Fica tranquilo, Jerome. Se alguém perguntar, vocês estão comigo. — Larry diz, abrindo a porta de madeira escura e entrando primeiro. Deixo Cinco ir na frente, se for uma armadilha, ele será meu escudo humano.

Eu mapeio o lugar com os olhos, identificando janelas, portas e objetos letais como rota de fuga e armas de proteção. Parte do treinamento na CIA. E só então que reparo nas cadeiras postas no meio da sala, cerca de quarenta delas, todas direcionadas ao telão branco, ao lado um púlpito de vidro. As pessoas conversam entre si, comendo os petiscos que são oferecidos. Parece que também oferecem champanhe. Preciso guardar todas essas informações que o gravador não consegue captar.

Numa mesinha, pegamos adesivos e uma caneta para anotar nossos nomes. Eu aperto meus lábios, prendendo o riso, vendo Cinco escrever o seu.

— Vamos nos sentar aqui no fundo mesmo… — Cinco abaixa seus olhos para o adesivo colado em meu peito. — Olive.

Eu assinto com a cabeça, e pegamos as duas últimas cadeiras, ao lado do projetor, e esperamos os tais fundadores iniciarem a reunião. Um homem anuncia que Gene e Jene vão entrar, enquanto as luzes se apagam, e assim recebemos pela primeira vez o nome deles. Cinco e eu nos entreolhamos, preparados para o que está por vir. A mulher, baixa e de cabelos grisalhos, começa:

— Obrigada por virem hoje aqui. Nós planejamos uma grande noite, porque hoje nós vamos discutir sobre o Efeito Umbrella. E como eu acredito que nós podemos voltar para uma restaurada e correta linha do tempo.

O projetor é ligado, refletindo apenas a foto de capa do projeto.

— O que nós queremos dizer quando falamos do Efeito Umbrella? Bom, algumas pessoas se referem a isso como doença da linha do tempo.

As imagens passam de umas unidades de bonecos de cera, todos vestindo uniformes escolares, para carrinhos de bebês, um com símbolo de guarda-chuva e outro de um pardal.

— Estes artefatos são de outra linha do tempo. Como as memórias compartilhadas que muitos de nós experimentamos, não é? — O homem diz, não faço ideia se é Gene ou Jene. — Memórias que os poderosos querem que vocês acreditem que são apenas fábulas da nossa imaginação.

O projetor troca a imagem para um jornal, noticiando um obscuro culto sexual chamado Filhos do Destino, iniciado em 1960. É muito bizarro, eu saberia se isso realmente tivesse acontecido.

— Um livro chamado Extraordinário, que nunca existiu; uma maleta, levemente amassada, que comprova a existência de uma agência que tem controle sobre a linha do tempo; uma ninhada de crianças super heroicas de shorts, que é de onde tiramos o nome desse fenômeno. A pergunta é: quem se beneficia escondendo isso? — O homem faz uma pergunta num tom retórico, apenas para responder por si mesmo depois.

Nesse momento, escuto uma movimentação ao meu lado, e percebo que Cinco colocou seu braço sobre o meu ombro, apoiando na cadeira. O couro frio de sua jaqueta arrepia minha pele.

— As elites, é claro. A classe dominante sempre ameaçada pela verdade. Mas agora eles não podem impedir a verdade, podem?

Não. Não mesmo! — As pessoas dizem em conjunto. Cinco está com os olhos fixos em uma mulher na fileira da frente, de uma forma que provavelmente não o fez prestar atenção no discurso anterior.

O Exílio - Cinco HargreevesOnde histórias criam vida. Descubra agora