𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 2

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CAPÍTULO 2

Eu passo o meu crachá e a porta é automaticamente destravada. Antes de encontrar o Hargreeves, eu passo na lanchonete do refeitório, fazendo o meu café por lá enquanto escuto notícias quentinhas das relações entre os funcionários.

Um grupinho escalou Johnson, Hargreeves e Carter como primeiro, segundo e terceiro lugar dos mais mulherengos desse lugar. Eu perdi a fome na hora.

Antes de sair, peguei um café preto para Hargreeves. Talvez assim nossa conversa seja um pouco melhor hoje. É incrível como essa bebida muda drasticamente o seu humor. Vou para o elevador e aperto o botão do andar do escritório dele, e sentindo um frio na barriga desconhecido, eu caminho até a sua porta. Por um lado, tenho medo de ele não aceitar a minha decisão, e se aceitar, dificultar o meu processo seletivo no futuro.

Acredito que ele faria isso como castigo.

Dou alguns toques na porta antes de abrir, só por precaução, muitas vezes tive surpresas desagradáveis, e então eu entro. Ele está sentado em sua cadeira, de cabeça baixa, e levantou somente os olhos para saber quem entrou.

— Bom dia, Hargreeves.

— Bom dia. — Ele responde, baixo e sem vontade.

— Aqui está o café. — Eu chego perto da mesa e coloco o copo sobre ela. Ele assente com a cabeça, sem falar nada.

Não está lendo, não está anotando, ele está estranhamente quieto. Não comentou sobre a minha camiseta de bolinhas que ele sempre tira sarro. Não me passou uma pilha de folhas para revisar. Nem mesmo tocou no seu café.

— Você tá mesmo pensando em sair? — Cinco pergunta, levantando o seu olhar.

— Sim, sem dúvidas.

Ele me observa por um tempo, e se levanta abruptamente. Cinco vai até o armário cinza de arquivos e tira algo lá de dentro, logo vindo em minha direção. Sua mão está inclinada para mim, segurando aquilo, e em seu rosto está a recorrente expressão de desculpa que ele costuma usar com os superiores dele.

— Olha, eu sei que sou difícil de lidar, mas eu preciso de você. Eu não quero ter que começar do zero com outro assistente, você já conhece toda a minha pesquisa, você… Seu trabalho é bom, Marilyn. — Ele olha para os próprios pés, depois para mim. — Eu vacilei ontem, me desculpa. Feliz aniversário.

Ele me entrega uma caixa de alumínio vermelha, com bombons de chocolate dentro. Lindo gesto para alguém tão desprezível. É uma pena que eu já tenha tomado uma decisão, e uma caixa de bombons não vale a humilhação que ele me faz passar todos os dias.

— É sério isso? — Eu revezo meu olhar entre ele e os bombons. Vindo dele, isso só pode ser uma brincadeira de mal gosto.

— É só um presente — ele dá de ombros — Olha, também foi o meu aniversário, mas eu estava tão ocupado que me esqueci de tudo. E dos seus avisos.

Eu, definitivamente, não precisava saber que divido o meu aniversário com ele. Não me sinto tão especial agora.

— Tudo bem, Hargreeves, mas esse não é o único problema. Eu realmente preciso trabalhar em outro lugar, com outra pessoa.

— Porra, mas o Frank? — Ele estala a língua, virando o seu rosto com desgosto. — Só fica até eu terminar essa pesquisa. Depois você vai para onde quiser.

— Não é assim que funciona. Eu vou sair hoje mesmo.

— Marilyn, me escuta! Me dá dois meses. Porra, não dá pra eu recomeçar agora, fomos tão longe. Dois meses. É só isso.

O Exílio - Cinco HargreevesOnde histórias criam vida. Descubra agora