𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 8

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CAPÍTULO 8

𝙰𝚋𝚎𝚛𝚝𝚞𝚛𝚊 𝚍𝚘 𝚍𝚒𝚊 2 𝚗𝚊 𝚊𝚐𝚎𝚗𝚍𝚊 - 06/10/2024

Cinco não abriu exceção por estarmos em um metrô interdimensional, e me colocou na função de anotar a quantidade de estações que passamos, até encontrarmos o caminho de casa.

Ele diz que está com a parte mais difícil, que é decifrar os símbolos, dar um número para eles, e descobrir para onde vão. Fora entender como a estação funciona porque aquele mapa nem sempre acerta. E então ele designou essa função para mim: a de deixar migalhas pelo caminho, como João e Maria, e catalogar os níveis de estações. Afinal, sou sua assistente, que dessa vez faço um trabalho não-remunerado.

Quando acordei hoje, Cinco estava sentado no outro banco da estação, a cabeça caída e um ronco horroroso. Eu o acordei, para continuarmos na procura do caminho para casa. Ele levantou  sonolento, e usou o banheiro do metrô. Nós conversamos, e decidimos que não seria bom arriscar e brincar com a sorte, não sabemos como será a próxima estação, então aproveitamos que essa é tranquila e estocamos alguns itens.

Cinco pegou mais cobertores em brechós, enquanto eu comprava comida no mercadinho da cidade. Foi como Hargreeves disse, todos eles olham torto para nós, e não sabemos em quanto tempo eles vão tirar suas espingardas e revólveres para nos aniquilar.

— Pegou bastante coisa? Nada de validade curta? — Diz Cinco quando me aproximo. Nós combinamos de nos encontrar na praça quando terminássemos.

Vejo que ele conseguiu duas mochilas, algumas roupas e cobertores. Também há alguns itens importantes, que talvez precisemos dele. Um rolo de fita, um estilete, fósforos, e mais caderninhos. Espero não precisarmos usar todas as folhas deles.

— Sim, tá tudo certo. Dá pra gente se virar — Eu falo, carregando três sacolas em cada mão, sentindo meus dedos congelaram com a temperatura do ar.

— Tá, vamos descer logo, eles estão encarando demais.

Cinco junta todo o seu material e segura o meu braço, em um piscar de olhos nos levando para o metrô. Descemos até a área de embarque, e lá ficamos mais tranquilos em organizar nossos materiais.

— Toma, dois cobertores pra você. Mas só deixa na mochila a comida mesmo. — Ele fala, dividindo. — Tem quantas garrafas d'água?

Eu conto rapidamente com os olhos.

— Onze. E oito latinhas de suco.

— Beleza, seis garrafas pra você e mais quatro latinhas… — Ele diz. Na minha cabeça, sua voz fica distante. Ele parece tão tranquilo com essa situação de quase sobrevivência. Fala como se fosse algo rotineiro, e dá para ver que tem experiência. Ele soube exatamente quais produtos devíamos buscar para nos suprir aqui embaixo. Esse fato me deixa triste por ele.

— Nenhum trem apareceu nessa madrugada? Um trem certo? — Eu pergunto, colocando meus itens na mochila, um por um.

— Não. Com certeza não existe um horário de funcionamento, o outro trem passou várias vezes. — Cinco faz o mesmo, olhando apenas para a sua mochila. — Ainda não sei porque isso acontece. Se há uma interdição, se essa estação é uma espécie de terminal… não sei.

Eu só balanço a cabeça, angustiada demais para pensar em responder.

— Mas fica tranquila. Vamos achar o caminho.

— É, vamos achar. Devemos estar perto.

Cinco balança a cabeça, com esperança. Ele se levanta de uma vez e coloca sua mochila nas costas, os cobertores pendurados no braço.

O Exílio - Cinco HargreevesOnde histórias criam vida. Descubra agora