𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 10

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CAPÍTULO 10

𝙰𝚋𝚎𝚛𝚝𝚞𝚛𝚊 𝚍𝚘 𝚍𝚒𝚊 43 𝚗𝚊 𝚊𝚐𝚎𝚗𝚍𝚊 - 17/11/2024

Estou a 43 dias sem tomar o meu anticoncepcional. Também ficou na minha bolsa, no carro de Cinco, em New Grumpson. Entretanto, esse nunca foi um problema nesse metrô interdimensional… até eu ir ao banheiro hoje pela manhã. Encontrei sangue em minha roupa e levei um susto, pensando em todas as possibilidades, menos a de que meu corpo voltou às configurações de fábrica.

Só então o problema se alojou na minha cabeça.

Como vou fazer para conciliar o sangramento com a sobrevivência? Se mal encontramos comida, quem dirá absorventes?

É, eu posso pensar nisso depois. Agora preciso de roupas limpas. Qual opção seria menos pior: pedir para que Cinco traga roupas, ou ir até lá eu mesma com a calça manchada?

Ah, ele me deve essa.

Vou para a porta do banheiro e, abrindo uma fresta, grito pelo nome dele. Diversas vezes, até ele decidir me responder.

— O quê que foi? Você me acordou! — Ele se aproxima da porta, olhos meio fechados e inchados.

— Traz roupas pra mim? E meu sabonete.

— Você é preguiçosa, hein? Busca você. Já não tomou banho ontem à noite?

— O senhor pode, por gentileza, parar de fazer perguntas?

Ele bufa, coçando os olhos e virando de costas. Espero muito que não tenha me ignorado, e que tenha ido buscar minhas roupas. Eu volto para a cabine que eu estava antes, limpando manchas que ficaram pelo chão e tirando minha calça.

Quando escuto os passos de Cinco no corredor, o xingo mentalmente pela falta de privacidade, e apenas fecho a porta da minha cabine com força enquanto ainda posso. O rangido da porta principal ecoa na mesma hora, e a voz de Cinco perde a entonação quando encontra o interior do banheiro.

— Olha, eu vou deixar aqui no ch… O que é isso? Você tá bem?

— Estou ótima — Digo, da minha cabine. Ele certamente desconfiou das gotas no chão.

— Se machucou? Onde você tava?

— Estou bem, isso é natural.

Um curto momento de silêncio.

— Ah… Entendi. Vou fechar aqui, tá? Se precisar de algo você… você me chama.

Em seguida o som da porta se fechando. Respiro fundo, revirando os olhos pela situação. Foi desconfortável, mas pelo menos ele não irá entrar por engano outra vez. Saio da cabine, pegando o sabonete para tomar banho. Tempo esse que passei pensando em como estancar o sangramento. Como as mulheres faziam antigamente mesmo? Acho que vou ter que aderir.

Talvez eu encontre algum tecido para estancar, até eu encontrar um mundo com farmácias inteiras, e escolher entre um estoque de anticoncepcionais ou de absorventes.

Depois que eu tomo meu banho de pia, escolho qual peça de roupa minha será sacrificada. Pego a camiseta verde que eu usei por baixo de todas as camadas de roupa, e rasgo um pedaço dela. Uso o tecido enrolado para estancar, e em seguida visto minhas roupas limpas.

Aqui, nesse metrô infernal, não temos abundância de roupas. Na verdade, muitas noites passamos frio. Seria desperdício demais se eu só jogasse minhas roupas manchadas fora ao invés de lavar. Então foi isso que eu fiz.

Quase uma hora depois, deixando minhas roupas e o banheiro limpo, eu subo um lance de escadas para voltar à plataforma. Cinco está fervendo água no fogão improvisado, um milagre, se posso dizer. Ele raramente faz o café. Eu estendo minhas roupas no banco de madeira no final da plataforma, aquele que mal usamos, e deixo lá para secar.

O Exílio - Cinco HargreevesOnde histórias criam vida. Descubra agora