Pov Narrador.
A adolescente latina respirou fundo e fechou os olhos com força por alguns segundos. As batidas de Dinah na janela do carro a assustou. Ela olhou, ainda sem muito ânimo e viu a amiga ao lado do dono do automóvel. Keaton estava com um sorrisão no rosto, a jaqueta de sempre e a mochila vermelha pendurada em um só ombro. Agora que estavam tendo a chance de se conhecer melhor, a garota pôde ver beleza por de trás daqueles olhos que antes a fez chorar. É estranho. Ela sabia disso, já tinha se questionado se fazia certo por confiar, afinal, poderia ser uma armação. Só que por algum motivo, apenas por pensar nessa hipótese, sentiu-se mal. As palavras do garoto pareciam sinceras, então resolveu dar-lhe o famoso benefício da dúvida. Pois pessoas mudam, pessoas aprendem com seus erros e crescem.
Ela soltou o cinto de segurança e saiu do veículo. Dinah, sem demora a abraçou apertado, resmungando.
— Eu tenho vários motivos para arrumar briga com você agora, mas sei que não é a hora certa. – se afastou, deixando um beijo na testa da menor. – Você está bem?
Cabello fez que sim com a cabeça e desviou o olhar, a verdade era que não estava tudo exatamente bem. Agora todos da escola sabiam sobre sua condição e isso era aterrorizante.
— Hey, olha pra mim. – ela voltou os olhos para a amiga e os fixou nos de Dinah. – Você não está sozinha, até o babaca do Keaton tá do nosso lado.
— Dinaaaah – o loiro cantarolou. – Estou tô aqui... Literalmente do seu lado.
A polinésia revirou os olhos arrancando um sorriso da amiga.
— Vamos ver por quanto tempo... – retrucou. – Desculpa por não estar contigo ontem na hora do rolo. – começou a se desculpar, mas Camila a interrompeu, pousando o indicador em seus lábios.
— Não precisa se desculpar, não tem culpa de nada. – sussurrou. – Você sempre está comigo, amiga. Depois conversamos melhor. – Dinah concordou, embora ainda que se sentisse culpada.
— O segundo sinal bateu, melhor irmos. – o loiro avisou. Dinah limpou os olhos, que começaram lacrimejar e concordou, pegando na mão da menor.
Eles passaram juntos pelos portões da International High School e nos corredores já não haviam tantos alunos, mas os que ali estavam, os encaravam. Alguns sem piscar, outros cochichando entre si.
— Credo. – alguém sussurrou.
— Credo digo eu, já se olhou no espelho hoje, Jordan? – o tal olhou espantado para Keaton. Ele também era loiro e alto e vestia a mesma jaqueta do time. – Quantas gramas cheirou no café da manhã? Essas olheiras sim dão nojo... – o garoto olhou para os outros ao seu lado, sem graça.
— Qual é, Stromberg? Vai ficar do lado da sapatão que roubou sua namorada?
Todos fizeram silêncio. Camila fez menção de sair, mas Dinah apertou sua mão, a mantendo ali. Cabello precisava saber que não estava sozinha.
— Não te devo satisfação da minha vida e se você conhecesse a Cami como conheço agora, também estaria desse lado. O lado certo, porque ela não fez nada de errado, mas por hora, o único lado que garanto que estará e o dos reservas.
Os que estavam por perto vaiaram, Camila fungou e DJ a puxou entre seus braços.
— Vocês não deveriam estar dentro da sala de aula? – a diretora Allyson surgiu do nada e colocou todos pra correr, digo... – E sem correr no pátio!
***
— Qualquer equação de 3° grau pode ser escrita da seguinte forma...
O professor de matemática explicava os exercícios e, normalmente Camila prestaria bastante atenção sem nem mesmo piscar, mas era inútil fazê-lo naquele momento. Sentia falta de algo e sabia bem o que era. Seu coração doía e a vontade de chorar era forte. Então fez o que sabia que a tranquilizaria. Abriu o caderno nas últimas folhas, mas deu de cara com seu ponto fraco.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Ela
Fiksi PenggemarCamila se apaixona pela garota mais linda e improvável do colégio, o que faria com que sua história se tornasse apenas mais um clichê, se não envolvessem mistérios, se não existissem segredos... Camila intersexual. Se não gosta, leia do mesmo jeito ...