Trinta e Quatro

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Enquanto eu permanecia ali, perdida na imagem à minha frente, escutei passos se aproximando

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Enquanto eu permanecia ali, perdida na imagem à minha frente, escutei passos se aproximando. Virei-me rapidamente, quase envergonhada de estar ali, bisbilhotando uma parte tão pessoal de Christopher. Ele estava parado na entrada da sala, observando-me em silêncio por um momento antes de entrar.

— Sou eu e meu pai. — aponta suavemente com a cabeça para o porta-retratos que segurava. — Ele me ensinou tocar quando era criança. — o sorriso curto que ele me ofereceu mostrava uma mistura de nostalgia e melancolia.

— Eu não sabia que você tocava. — minha voz saiu mais suave do que eu pretendia, quase hesitante, enquanto olhava novamente para o piano.

Enquanto Christopher passava os dedos pelas teclas do piano, ao se aproximar, o som suave que emanava delas parecia carregar uma melancolia que refletia seus sentimentos. A maneira como ele falou sobre o pai e o piano revelou uma camada de sua vida que eu não esperava encontrar. Ele sempre foi tão reservado, tão calculado, que ver essa vulnerabilidade me deixou sem palavras por um momento.

— Era uma das poucas coisas que conseguíamos fazer juntos. — continuou ele, sua voz baixa, quase um sussurro. — Quando podia, ele passava horas comigo tocando piano. — sorriu fechado. — Mas isso foi há muitos anos. — colocou o tampo sobre as teclas mais uma vez.

O loiro fitou seu sobrenome cravado no tampo de madeira em letras douradas e jurava que havia ouvido um suspiro seu antes de seus olhos azuis voltarem-se para mim. Eu quis perguntar o motivo dele falar como se não tocasse mais, já que parecia ser algo tão significativo para ele, mas não quis invadir seu espaço.

Toda a cidade conhecia a família Wayne, afinal era uma das principais responsáveis por tornar Toronto em tamanha referência em tantas áreas diferentes; o sobrenome carregava respeito até mesmo antes de um de seus membros chegarem, e você certamente não iria querer desagradar qualquer um deles. A história oficial era de que a fortuna de bilhões havia sido construída através do ramo alimentício, mas as ruas diziam e sabiam que não era apenas isso, e eu sabia que não, por causa de meu pai.

De qualquer forma, uma das histórias sobre os Wayne era sobre o filho do meio, Christopher Constanzi Wayne. Os mais antigos da cidade se lembravam dele, ainda criança, nos eventos com seus pais e seus irmãos; mas, de repente, ninguém mais o viu. Era como se ele tivesse se transformado em um fantasma.

Claro que não faltaram justificativas para este sumiço, mas ninguém nunca realmente soube a verdade. A maior parte dos moradores acreditava que ele tinha sido morto, e para dizer a verdade, razões não faltavam, por isso não se falou de outra coisa quando Christopher apareceu em carne e osso no velório de seu pai.

Por causa de tudo isso, também quis perguntar se seu sumiço de Toronto tinha relação com o piano e seu pai, já que ele falou de uma maneira tão dolorosa.

Eu gostaria de saber muito mais do que Christopher me dizia, não apenas sobre a sua relação com a música, mas sobre ele.

Enquanto eu permanecia ali, observando Christopher com uma curiosidade crescente, ele parecia imerso nas lembranças que aquele piano evocava. Havia tanto que eu queria saber, tantas perguntas que se formavam em minha mente, mas todas as palavras que eu poderia dizer pareciam insuficientes diante da profundidade do que ele estava compartilhando.

FAMÍLIA WAYNE | FINALIZADA Onde histórias criam vida. Descubra agora