Capítulo 10 - Desabafo (Fafá de Belém)

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Há dez dias não ouço nada sobre Hélia. Desde a saída dela daqui do meu apartamento para viajar novamente. Parece que eles estão em lua de mel. Quando visitaram tal a amiga no interior de São Paulo, vieram com uma certa distância que parecia que o noivado não ia bem. Mas eu estava enganado. Deus, por que sempre fico assim com o relacionamento deles? É inveja por eles terem esse jogo de gato e rato, do mesmo jeito que tivemos? Ou despeito, como ouvi Justine "falar para seu grupo de amigas"? Bufo. Ela falou deliberadamente para eu ouvir. O que essa mulher tem contra mim, afinal? Gosto muito do meu carcamano do Sergipe, mas a mulher dele...

Ouço o sininho anunciar que mais gente está chegando e me pego ansioso pensando se era finalmente ela. Quase todo mundo está aqui, mas nada dela. Até as pessoas que trabalham com ela estão aqui. As amigas dela não param de me olhar de rabo de olho, alguns olhares parecem que estão me avaliando, como se eu estivesse numa prova, e eu vejo esses mesmos olhares para Iolanda. Mas o da gringa da fala enrolada é mais pesado. Ela espera o pior de mim, eu sinto. Parece que estou andando na corda bamba e ela espera que eu caia. Para Iolanda também, é até mais pesado. Ela desconfia de cada coisa que minha noiva faz.

Afasto meus pensamentos e continuo a tarefa que meus filhos me deram. Era o primeiro aniversário de Vivi, a primeira filha que meus filhos tiveram juntos. Eu sei que Nelinha ama Pedro como se fosse dela, mas é algo mais especial fazer o aniversário da primeira filha. Dela e de Zeca. Do amor deles. Por sorte Pedro não está aqui. Ficou com a mãe, que saiu recentemente da cadeia. Eu espero que ela não arrume mais problemas e tenha uma nova vida. Nara foi convidada para a festa, mas duvido que ela venha. Muitos aqui ainda não gostam dela e do que ela fez, mas o importante é que nossa família superou. Já passamos por muita coisa, para manter rancores.

Cumprimento a família do Ramón que chegou mais cedo para ajudar e ainda mantenho uma pontada de decepção por não ser ela ainda. Há tanto para conversarmos e nunca encontramos tempo. Tanta coisa para esclarecer, dúvidas para acabar... Depois de escutar aquela conversa dela com o Zeca e um pedaço muito pequeno da conversa da Iolanda com a Goretti, eu preciso realmente conversar com a Hélia. Minha filha e minha noiva escondem algo de mim e sei que tem a ver com ela. Que pedido de desculpas é esse que Goretti deve a Hélia, se sou eu que devo, ao menos, um pedido de desculpas a ela? Uma conversa franca, como aquela que tivemos quando ela estava prestes a viajar com o falecido JP.

Ouço o sininho novamente enquanto carrego os últimos enfeites de mesa para finalizar a arrumação. Não sei se estou fazendo certo, mas é o que minha filha pediu. Regeane está supervisionando e sei que ela colocará no lugar o que estiver bagunçado. O perfume dela é a primeira coisa que meu corpo capta, através da brisa leve, seguido da risada maravilhosa que ela tem. Hélia sempre foi calorosa do seu jeito e está ainda mais vestida com um vestido simples, cheio de detalhes verdes e brancos. Ela parecia leve, os cabelos balançando com o vento suave e com seus movimentos, ao cumprimentar todos os presentes pelo caminho. Ao contrário dos encontros anteriores, dessa vez ela está firmemente agarrada a uma Nara nervosa e completamente deslocada, conforme caminha para mais próximo a casa. Pedro há muito correndo por aí com as primas, procurando pai para mostrar o avião novo que ganhou da mãe.

– Espero não ter chegado muito tarde, tem alguma coisa para fazer? – Hélia diz com um sorriso culpado, cumprimentando a nora e a minha filha Regeane.

– Não, dona Hélia, você já fez muito indo atrás do que te pedi. Deu certo? – Nelinha pergunta após sair do abraço e recebe um aceno como resposta. – Que bom que veio, Nara. É muito importante para nós que viesse. Principalmente para nosso Pedro. Ele estava que não se aguentava falando sem parar em trazer você aqui. Sinta-se à vontade. Você está entre família. – Disse olhando bem nos olhos da outra mulher. Ontem ela nos fez garantir que Nara não fosse destratada. Eu estou tão orgulhoso da minha filha e olho para Hélia que olhava para a antiga nora com um olhar de "eu te avisei".

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