Capítulo 4 - Você não me ensinou a te esquecer (Caetano Veloso)

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– Onde você foi, pai? Estávamos te procurando. – Regeane dispara assim que entro no apartamento.

– Fui caminhar um pouco, como faço todos os dias, por quê? Aconteceu alguma coisa?

– Não, nada. É que... – Ela hesita um pouco. Ofereço um lugar no sofá e ela senta do meu lado, se certificando que ninguém esteja ouvindo nossa conversa, o que me intriga.

– Então, filha, Portinho fez alguma coisa?

– Não, nada disso. Estamos bem. Eu estou preocupada com você.

– Comigo?

– É que dona Hélia está vindo. – Tento dizer algo, mas ela não deixa. – Nem tente falar que não, que não tem nada a ver. Eu vi como você ficou, pai. Ela ainda mexe com o senhor. Eu ainda lembro de como você ficou quando ela veio ao nascimento do Pedro, depois na festa de um ano... Principalmente quando o Zeca e a Nelinha viajaram para Itália e voltaram dizendo que ela estava leve e apaixonada. Você engana todo mundo, seu Leal, mas eu morando aqui com você, estando mais perto de você, é que sei como o senhor esconde as coisas. Não tente negar que essa volta dela mexeu com você, ainda mais agora que ela vem acompanhada.

– Filha, obrigada por se preocupar comigo. – Aperto sua mão. – Você, de todos os quatro, é a que mais sabe como eu sou, no momento. Eu realmente não esperava, eu não sei como devo me sentir em relação a ela. Tivemos poucos encontros depois do nosso término, muita coisa mudou nesses três anos.

– Para de se preocupar com o que deve sentir, pai. Você devia se espelhar na própria Hélia. Deixar fluir. Não force sentimentos, principalmente se não quer passar a imagem errada.

– Mas eu não quero isso. Que imagem errada é essa? O que-

– Calma, pai. Mas... Presta atenção em mim e responda com sinceridade, seu Leal. – Assinto. – Você está bem com a Iolanda? – Aceno. – Está feliz com o relacionamento de vocês, de como ele está agora? – Respiro fundo e aceno novamente. – Então por que você fica nesse estado, nesse...? Pai, você não é você quando ela está aqui. Parece um personagem, sabe, é falso.

– Regeane, eu...

– Não, pai, não que você seja uma pessoa falsa, não quero dizer isso, é que você não fica à vontade na presença da Hélia. Só depois de muita implicância, das brincadeiras, é que seu desconforto passa e você relaxa. Você se trava. Não tente negar.

– Eu não sabia que estava agindo assim, filha, eu juro. Deus, se você está me dizendo isso, a Iolanda...

– Olha, eu não sei se ela viu ou não. Pode ser que sim e ela finge não ver para não perder o senhor e pode ser que ela não tenha visto mesmo. Mas melhora essa situação aí dentro de você, porque dona Hélia está vindo, provavelmente com o cara por quem ela está apaixonada, não sabemos por quanto tempo, e parece que é mais do que os cinco dias que ela normalmente fica aqui. Se você não quer passar a mensagem errada e fazer quatro pessoas sofrerem... – Ela para ao ouvir vozes ficando mais fortes.

– Eu sei. Obrigada, meu amor.

Abraço minha filha e minutos depois ouço reclamações das outras duas, dizendo que agora só a Regeane ganha abraços. Nosso jantar foi tranquilo, era o aniversário de dois anos de namoro meu com a Iolanda. Decidimos não fazer algo grande, já que em duas semanas é aniversário de um ano da Vivi, a filha caçula da minha caçulinha, e Iolanda está ajudando Nelinha nos preparativos.

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