Capítulo 6 - Vete de Mí (Caetano Veloso)

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– Por que a Hélia saiu daqui apressada? – Iolanda perguntou, entrando na cozinha.

– O que foi que disse? – Olhei para ela, assustado. Não vi quando ela entrou.

– O que foi? O que aconteceu aqui? – Se encostou na mesa, com os braços cruzados.

– A gente estava conversando sobre algumas coisas e ela acabou contando sobre o motivo de estar tão nervosa.

– É alguma coisa séria? Ela parecia tão aérea.

– Ela brigou com o Antonello e está com saudades dele. – Ela pareceu um pouco alarmada.

– Deve ser sério, para ela está nesse estado. Nem me viu e jogou um pedido de desculpa qualquer.

– Não deve ser nada tão sério. Ela disse que tem muita coisa acontecendo ao mesmo tempo. Às vezes uma coisinha vira algo grande. – Terminei de guardar as coisas que sei que Tertuliana reclamará por estarem no lugar errado. – Vamos?

– Vamos. Será que é melhor falarmos com o Zeca sobre isso? – Ela parece genuinamente preocupada, o que é novo para mim. Sei que elas são civilizadas uma com a outra, conseguem ficar bem no mesmo ambiente, mas não sabia que era tanto assim. Se bem que na última vez elas saíram juntas com minhas filhas. Talvez tenham se entendido de fato.

Amanhece e estamos todos, exceto Hélia, tomando café. Maria Eunice, que ficou de passar no quarto de Hélia para virem juntas à sala de jantar, voltou sozinha.

– Cadê minha mãe, Maria Eunice?

– Não sei, tio. Passei lá, mas ela não estava no quarto. A mala dela estava aberta na cama, mas nem sinal dela. – Minha neta se senta e eu respiro fundo, engolindo junto o café que eu tomava. Iolanda apenas me olhou, o que foi notado por todos.

– Pai, você sabe de alguma coisa? – Zeca olhava para mim e para Iolanda. – Iolanda?

– Fala, Leal, quem sabe ele pode ajudá-la. – Ela imediatamente abaixou a cabeça.

– Pai? O que aconteceu? Cadê minha mãe?

– Anda, pai, fala logo. Olha o estado do Zeca. – Regeane implorou. Goretti apenas me olhou, assim como Nelinha.

– Eu não sei onde ela está. Eu encontrei ela na cozinha de madrugada e ela estava nervosa com algumas coisas. – Olhei para Iolanda e ela me olhou como se me dissesse para falar tudo. – Parece que ela brigou com o Antonello e estava chateada com isso. – Engoli o resto do café com o gosto amargo do que acabei de falar.

– Mas eles estavam tão bem... – Nelinha falou. Goretti apenas olhou para Iolanda e tentou disfarçar. Olhei para as duas desconfiado. A campainha tocou e Tertu foi atender.

– Bom, o mistério acabou. – Tertuliana veio, acompanhada de uma Hélia vestida com roupas de academia, uma leggin preta, uma regata grande preta mal cobrindo o top preto e de tênis. Seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo bagunçado e carregava numa mão uma garrafinha e seu celular e na outra uma toalha, no qual enxugava o colo coberto de suor.

– Mistério? Que mistério? – Se aproximou da cadeira onde Pedro estava e deu um beijo na testa dele. – Então...? – Perguntou quando ninguém falou nada.

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