Capítulo 14 - We can't be friends (wait for your love) - Ariana Grande

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A festa havia sido linda, repleta de luzes e sorrisos que contrastavam com o sentimento de algo não dito, algo guardado. Hélia estava lá, vivendo a euforia dissonante do momento, mas também se permitindo sentir as lacunas deixadas pelas suas próprias histórias, as completas e as incompletas. No discurso para minimizar o falatório que se seguiu com a revelação do não casamento e com a saída abrupta de Antonello, o prometido que pôs fim a história irresponsavelmente, diga-se de passagem – Fidélio, amigo da noiva desprezada ao pé do altar, havia dito durante a noite uma frase que ficou gravada em nossas mentes: "A maior ironia da arte é a dor também produzir beleza." Ele falava com a tranquilidade de quem já havia experimentado ambas – a dor e a beleza. E não estava errado. Tem algo de incrivelmente belo e poético na tristeza, especialmente naquela noite. A fragilidade, a humanidade... 

Ou talvez fosse a maneira como as luzes refletiam nas lágrimas discretas de Hélia, ou como sua risada, por mais sincera, escondia uma dor que ela não verbalizava. A vulnerabilidade pairava no ar como uma poesia não escrita, e aquilo tinha uma força magnética. Era como se, na exposição das fraquezas e medos, Hélia encontrasse o que há de mais humano. As festas podem ser para celebrar, mas às vezes elas também servem para trazer à tona o que fica escondido nos silêncios entre as palavras.

Leda Bertollini, para coluna Vida e Sociedade


***


Ainda odeio o fato de minha vida ser manchete. É algo da fama que nunca me acostumei. Tudo meu é visto, implacável e duramente analisado, questionado e com tomadas de decisões por pessoas que eu nem conheço, que não me conhecem, mas acham que pode ditar como devo viver. Ler essa carta de Nello, me fez ter mais essa certeza. Amo viver de arte, mas esse ônus da fama é doloroso de aceitar.

Não que a tal Leda Bertollini tenha sido cruel comigo. Com exceção óbvia de Lídia e de alguns poucos jornalistas sérios, a tal Leda foi justa. O que me incomoda é o fato dela ter me lido tão bem e eu nem faço ideia de quem ela seja ou como ela esteve presente na cerimônia, que era para ser intima. A única jornalista presente era Lídia, que era minha madrinha de casamento. Eu não sei como ainda fico abismada com a capacidade dos jornalistas brasileiros...

E, claro, me senti exposta. As debilidades que tanto fiz para esconder, escancaradas para quem quisesse ler. E eu volto àquele famigerado dia.


***

Meu coração errou as batidas quando a vejo parada na entrada da cerimônia. Mesmo linda em seu nada clássico vestido de noiva, a beleza do vestido, em conjunto cabelo e maquiagem, era enfraquecida pelo resquício de coragem que se agarrava mal em si, quando se viu parada diante de um grupo de pessoas atônitos de ver a noiva aparecer e o noivo não estar à sua espera. Algo não estava certo, seus olhos inchados, rosto e colo avermelhado, demonstrava tudo, menos ansiedade comum de noivas.

Cada passo que dava em direção ao altar vazio, sem a outra parte protagonista, meu cérebro e coração brigavam entre si. Ela não estava se casando, mas eu não podia ficar feliz com isso. Como ficar feliz se eu vejo a mulher que eu amo tão malditamente quebrada na minha frente?

O seu discurso de rompimento, explicando o desenlace da união, me deixava inquieto à medida que eu ouvia. Senti, um a um, pedaços dela se espatifando no chão e se partindo em mil pedaços, assim como um vidro temperado. Minha Hélia estava destruída. E isso me deixou em alerta. Me mantive ereto, na cadeira, olhando para ela atentamente, tentando de algum jeito apoiá-la, ao sentir sua voz oscilando enquanto se explicava aos seus convidados. Uma onda de raiva passou por mim ao olhar para trás e ver o homem que teve o privilégio de chegar até ali, deixá-la sozinha para dar uma satisfação a quem veio aqui celebrar a união deles. Ele ali, parado, um semblante inatingido, apenas ouvindo a mulher que disse amar, se despedaçar na frente de todos. Como eu queria esganá-lo. Como daria tudo para ser o cara que estaria esperando por ela naquele altar.

Tempos Modernos - A VoltaOnde histórias criam vida. Descubra agora