Capítulo 03

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Quando entrei naquela casa, depois de todos esses anos, a primeira coisa que notei foi o quanto Hazel havia mudado. Ela não era mais aquela garota rabugenta e mal-humorada que eu conheci na viagem com nossos pais. Não que ela tivesse deixado de ser rabugenta, longe disso, mas agora... havia algo diferente nela.

Hazel estava mais alta, mais confiante, e, eu odiava admitir, mas também mais bonita. Suas feições haviam se suavizado de alguma forma. A maneira como seus olhos verdes me perfuravam com desprezo era quase... cativante, se é que eu posso dizer isso. Havia uma certa graça em como ela cruzava os braços e me olhava de cima a baixo, como se estivesse pronta para me atacar a qualquer momento.

Eu me lembro de quando a vi pela primeira vez, aquela adolescente que se escondia atrás do celular, entediada com a vida. Agora, Hazel tinha uma presença marcante, alguém que, com certeza, não passava despercebida. Seus pais provavelmente achavam que isso era um sinal de amadurecimento. Eu, por outro lado, sabia que isso era apenas o tempero a mais que alimentaria as nossas brigas.

Eu me encostei na bancada da cozinha, observando-a do outro lado da sala enquanto ela se mexia impaciente. Ela não disfarçava o incômodo de me ter ali.

- Está me encarando por quê? - ela disse, com um tom tão afiado quanto uma lâmina.

- Só estava pensando em como você mudou, Hazel - respondi, tentando soar despreocupada. - Está mais... crescida.

Ela bufou, cruzando os braços e me lançando um olhar irritado.

- E você está com a mesma cara de sempre - retrucou. - Chata, presunçosa e, para variar, intrometida.

Eu soltei uma risada baixa, balançando a cabeça. Hazel sempre foi boa com palavras afiadas, mas agora parecia que ela estava afiada como uma navalha.

- Bom saber que sua língua continua afiada - retruquei, sem perder o tom leve. - Acho que é isso que sempre gostei em você.

Ela revirou os olhos e se aproximou, cruzando a sala com passos decididos, parando a poucos metros de mim. Sua postura me dizia que ela estava pronta para outra rodada de provocações.

- Ah, então é isso? Você gosta de uma boa briga? - ela perguntou, com um sorriso irônico no rosto. - Porque, se quer brigar, Billie, podemos começar agora.

Eu a encarei por um momento, divertida com a atitude desafiadora. Hazel, sem dúvida, tinha mudado. Ela estava mais confiante, mais irritante e, de alguma forma, mais intrigante.

- Não, Hazel, eu prefiro evitar uma briga logo pela manhã. Acredite ou não, estou tentando ser uma boa babá - falei com um sorriso provocador.

Ela bufou de novo, dessa vez mais alto, e deu um passo para trás.

- Eu não preciso de uma babá, Billie. E, francamente, você está apenas perdendo seu tempo.

Eu a observei por um segundo, percebendo que as coisas nunca seriam fáceis entre nós. Mas, por algum motivo, eu não conseguia deixar de me divertir com a nossa dinâmica.

- Sabe o que eu acho? - perguntei, me aproximando. - Acho que você está chateada porque, no fundo, gosta da minha presença.

Ela riu sem humor, um som seco e cheio de desprezo.

- Gostar de você? - Ela deu um passo à frente, invadindo meu espaço pessoal. - Você deve estar delirando. A única coisa que eu sinto quando te vejo é irritação. Você sempre acha que pode controlar tudo, que pode me dizer o que fazer.

- E estou errada? - retruquei, erguendo uma sobrancelha. - Porque, até onde sei, eu vou te levar para a faculdade hoje.

A expressão dela mudou instantaneamente. Seus olhos se estreitaram, e o desprezo em seu olhar ficou mais evidente.

- O quê? - A voz dela estava carregada de raiva contida. - Você acha que vai me levar pra faculdade? Eu não sou uma criança, Billie. Eu posso muito bem ir sozinha.

Eu sorri de canto, já antecipando a explosão. Ela estava furiosa, e, de certa forma, eu esperava por isso. Hazel odiava ser tratada como alguém que precisava de supervisão. O problema era que, com os pais dela fora, era exatamente isso que ela teria que aceitar.

- Seus pais pediram pra eu cuidar de você enquanto eles estão fora, e isso inclui te levar pra faculdade - expliquei com calma, me divertindo com o ódio estampado no rosto dela.

- Isso é ridículo! - Ela praticamente gritou. - Eu tenho dezoito anos, Billie. Posso dirigir, pegar ônibus, sei lá! Eu não preciso de uma babá. Não preciso que você me leve pra nenhum lugar.

Eu cruzei os braços, olhando para ela com uma expressão que dizia "pode reclamar o quanto quiser, mas isso vai acontecer".

- Sinto muito, Hazel, mas é o que temos para hoje. Agora, vai se arrumar. A gente sai em quinze minutos.

Ela ficou parada por alguns segundos, me olhando com uma mistura de raiva e frustração. Por um momento, achei que ela fosse me atacar ou sair correndo da casa. Mas, em vez disso, ela apenas virou nos calcanhares, bufando e subindo as escadas.

- Eu te odeio, Billie! - gritou do alto da escada antes de desaparecer no corredor.

Eu ri baixinho, sabendo que o ódio de Hazel era real, mas de certa forma... isso tornava tudo mais interessante. Hazel estava diferente agora, e eu não podia negar que essa versão dela me intrigava.

Quando ela finalmente desceu, quinze minutos depois, ainda estava com a expressão emburrada. Eu sabia que o caminho até a faculdade seria silencioso, cheio de tensão e, provavelmente, mais brigas. Mas, de algum jeito, eu estava preparada para isso.

- Vamos logo com isso - ela murmurou, pegando a mochila e saindo pela porta sem sequer olhar para mim.

Eu a segui, fechando a porta atrás de nós, e, enquanto caminhávamos até o carro, eu sorri para mim mesma. Hazel tinha mudado, sim, mas uma coisa continuava a mesma: ela ainda odiava a minha presença tanto quanto eu adorava provocá-la.

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A BABÁ QUE EU ODEIO - B.EOnde histórias criam vida. Descubra agora