Capítulo 09

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BILLIE

O relógio ainda marcava cedo, mas eu já estava de pé, tomando o café em silêncio na cozinha enquanto tentava afastar os pensamentos que vinham à tona desde a última conversa com Hazel. Aquele "vamos tentar parar de brigar" que ela propôs mexeu comigo mais do que eu esperava. Nunca achei que a garota que sempre tentava me tirar do sério acabaria sendo a que mais me deixaria confusa.

Minha rotina com ela estava prestes a começar mais uma vez. Eu ia levá-la para a faculdade, como de costume, mesmo que cada vez que entrássemos no carro juntos a tensão no ar fosse quase sufocante. Hazel conseguia me desestabilizar de maneiras que ninguém mais conseguia.

Você tem que parar com isso, Billie

Eu me dizia mentalmente, como se isso fosse fácil. Sabia que não devia estar sentindo o que estava sentindo. Afinal, ela era Hazel, a garota que eu deveria estar cuidando, não pensando... bem, o que quer que estivesse acontecendo na minha cabeça.

Hazel desceu as escadas com aquele jeito despretensioso, como se o mundo todo fosse apenas um cenário para ela brilhar. Ela vestia uma calça jeans rasgada e uma camiseta larga, mas mesmo com algo tão simples, ela conseguia chamar a atenção de qualquer um.

— Vamos? — Ela perguntou, com o tom de voz despreocupado que eu tanto conhecia. Mas algo no olhar dela ainda era estranho para mim. Não havia mais aquela faísca de provocação de sempre. Ela estava... calma demais?

— Claro. — Peguei as chaves do carro e seguimos para a garagem

A viagem até a faculdade de Hazel foi tranquila. Tranquila demais, na verdade. Ela mexia no celular, mandando mensagens sem parar, enquanto eu tentava manter minha mente no volante. O silêncio entre nós não era mais tão tenso quanto costumava ser, mas ainda era desconfortável. Como se algo estivesse por acontecer a qualquer momento.

Quando estacionamos na frente da faculdade, Hazel olhou para mim brevemente, com aquele olhar de que tinha algo a dizer, mas talvez estivesse pensando se deveria.

— Valeu pela carona, Billie. — Ela disse, abrindo a porta do carro, antes de fazer uma pausa. — E... bom, a gente se vê depois.

— Claro — respondi, tentando manter a voz casual, mas algo no jeito como ela falou me deixou intrigada.

Hazel saiu do carro e começou a caminhar em direção à entrada da faculdade. Eu a observei, como sempre fazia, até que algo — ou melhor, alguém — chamou minha atenção. Um garoto, alto, cabelo bagunçado de propósito, vinha caminhando rapidamente em direção a ela. Ele estava sorrindo de orelha a orelha, e antes que eu pudesse processar o que estava acontecendo, ele a abraçou com familiaridade.

Meu estômago se apertou imediatamente.

Quem diabos é esse?

Pensei, sem conseguir desviar o olhar.

Hazel parecia relaxada, confortável até demais perto dele. O abraço durou mais tempo do que eu gostaria, e então, como se isso não fosse o suficiente, ele colocou as mãos na cintura dela de um jeito íntimo. A risada que ela deu, genuína e despreocupada, me atingiu como um soco.

Eu sabia que não tinha o direito de sentir o que estava sentindo. Mas o ciúme queimava dentro de mim de uma maneira que eu nunca havia experimentado antes. Tentei me convencer de que não era nada, que eles deviam ser apenas amigos ou algo assim. Mas cada célula do meu corpo estava gritando o contrário.

— Claro que ela tem amigos, Billie — murmurei para mim mesma, tentando racionalizar. — E você não tem nada a ver com isso.

Mas, droga, eu me importava. Me importava muito mais do que estava disposta a admitir.

Fiquei ali, no carro, observando como uma idiota, enquanto o garoto se inclinava um pouco mais perto de Hazel, falando algo ao pé do ouvido dela. Hazel riu de novo e, sem pensar, cruzei os braços, tentando controlar a onda de irritação que subiu por mim.

Isso é ridículo, pensei. Ela é só... Hazel.

E, no entanto, não consegui desviar o olhar até que os dois finalmente começaram a se afastar da entrada. Foi só aí que me dei conta de que minha mandíbula estava tensa e meus dedos apertavam o volante com força demais.

Droga.

Mais tarde, naquela noite, Hazel voltou para casa. Eu estava na sala, fingindo estar distraída com o meu celular, mas na verdade, esperando por ela. Não queria admitir, mas queria saber se ela iria mencionar aquele garoto. Queria entender o que estava acontecendo.

Ela entrou com a mochila pendurada de um lado do ombro e me lançou um olhar rápido. Seus passos eram despreocupados, como sempre, e ela caminhou em direção à cozinha sem dizer nada.

Eu me levantei, incapaz de me conter.

— Ei, Hazel — chamei, tentando parecer casual. — Quem era aquele cara hoje de manhã?

Ela parou no meio do caminho, me encarando por alguns segundos antes de arquear uma sobrancelha, como se estivesse surpresa pela minha pergunta.

— Que cara?

— O que te abraçou... — Minha voz saiu mais fria do que eu queria, e Hazel percebeu isso.

Um sorriso divertido apareceu no canto dos lábios dela, como se estivesse começando a entender onde eu queria chegar.

— Ah, o Tomás? — Ela disse casualmente. — É só um amigo.

Só um amigo. Claro. Porque amigos costumam segurar a cintura dos outros daquele jeito, certo?

— Só um amigo? — Perguntei, tentando manter a voz controlada, mas falhando miseravelmente.

— Uhum. — Hazel sorriu, notando meu desconforto. — O que foi, Billie? Tá com ciúmes ou algo assim?

Meu coração deu um salto. Eu sabia que ela estava brincando, mas a verdade era que... eu estava com ciúmes. E odiava isso.

— Claro que não. Só achei curioso. — Tentei disfarçar, mas o sorriso provocador no rosto dela indicava que ela não acreditava nem por um segundo.

Ela deu de ombros, rindo levemente enquanto se aproximava da escada.

— Relaxa, Billie. Você não tem que se preocupar com isso. — Ela disse, antes de subir para o quarto, me deixando sozinha com o turbilhão de emoções que agora fervilhavam dentro de mim.

E, enquanto eu ficava ali, sozinha na sala, tudo o que eu conseguia pensar era em como aquela simples interação mexeu comigo de um jeito que eu nunca imaginaria.

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Finalmente tomei coragem pra atualizar

A BABÁ QUE EU ODEIO - B.EOnde histórias criam vida. Descubra agora