Capítulo 02

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Estava deitada no meu quarto, encarando o teto, quando comecei a pensar em como tudo isso havia começado.

Como cheguei a esse ponto de odiar tanto Billie Eilish?

Não era um sentimento que surgiu do nada, claro. Era algo construído ao longo do tempo, e eu podia lembrar perfeitamente o momento em que isso começou.

Foi há três anos, em uma daquelas viagens forçadas de família. Meus pais tinham alguns amigos de longa data em Los Angeles, e, como parte da nossa viagem, eles decidiram que seria uma ótima ideia passarmos alguns dias na casa deles. Eu odiava essas viagens. Sempre me sentia deslocada, sendo forçada a ficar com gente que eu mal conhecia e fingir que estava me divertindo.

Quando chegamos à casa deles, tudo parecia normal. Eu estava entediada, mexendo no meu celular enquanto meus pais conversavam animadamente com Patrick e Maggie, os pais de Billie. Parecia ser apenas mais uma visita comum e sem graça. Até que ela apareceu.

Billie desceu as escadas, vestida com suas roupas largas e com aquele ar de quem não se importava com nada. Lembro de olhar para ela e pensar como ela parecia arrogante, como se o mundo inteiro fosse insignificante para ela. E, aparentemente, eu também fazia parte desse mundo insignificante.

- Ah, essa é a nossa filha, Billie - disse Maggie com um sorriso enquanto Billie se aproximava. - Billie, esses são, Jonh, Mary. Hazel essa é minha filha, Billie. Vocês devem ter quase a mesma idade, né?

Billie me olhou de cima a baixo com um olhar indiferente, quase como se estivesse me julgando.

- Oi - foi tudo o que disse, sem muito entusiasmo.

Revirei os olhos imediatamente, já irritada com a atitude dela.

- Oi - respondi secamente, voltando a olhar para o meu celular.

Não queria nem tentar fingir que estava interessada em conhecê-la. Ela parecia o tipo de garota que se achava melhor do que todo mundo, e isso era algo que eu simplesmente não suportava.

- Por que não levam Hazel e Billie para darem uma volta por aqui? - sugeriu meu pai, tentando animar o ambiente. - Assim, vocês se conhecem melhor.

Antes que eu pudesse protestar, Billie deu de ombros e se virou para mim.

- Quer sair ou prefere ficar aqui? - Ela perguntou, sem esconder o tédio na voz.

Olhei para meus pais, que claramente esperavam que eu aceitasse a ideia, e suspirei. A última coisa que eu queria era sair com Billie, mas não estava disposta a enfrentar uma discussão sobre isso naquele momento.

- Tanto faz - respondi, guardando meu celular no bolso. - Vamos logo.

Saímos juntas, caminhando pelas ruas de Los Angeles. Billie não fazia questão de esconder o quão desinteressada estava em conversar comigo, e eu retribuía o sentimento. Cada passo que dávamos, o silêncio entre nós se tornava mais pesado.

- Você não parece gostar muito dessas coisas, né? - perguntou Billie de repente, quebrando o silêncio, embora seu tom ainda fosse indiferente.

- Que coisas? - perguntei, irritada.

- Sair, conversar, sei lá. Você parece... entediada com tudo.

Eu bufei.

- Engraçado você falar isso, porque você não parece exatamente animada também.

Billie deu um sorriso de lado, como se eu tivesse acabado de confirmar algo que ela já sabia.

- Touche - respondeu, como se estivesse se divertindo com a minha irritação.

Continuei andando ao lado dela, sentindo minha raiva crescer a cada minuto. Como ela conseguia ser tão irritante? Parecia que estava sempre tirando sarro de tudo e de todos, como se estivesse acima de qualquer coisa.

Chegamos a uma praça, e Billie foi até um banco, sentando-se e pegando o celular. Eu a observei por alguns segundos, sem saber o que fazer. Ela claramente não queria interagir comigo.

- Sabe, você não é tão diferente de mim - disse ela de repente, sem olhar para mim, enquanto mexia no celular.

Franzi a testa.

- Como assim?

Billie deu de ombros.

- Você parece detestar as mesmas coisas que eu. Conversas forçadas, pais que acham que sabem o que é melhor pra gente, essas viagens idiotas... - Ela riu de leve. - Não é à toa que você está me olhando como se quisesse me matar.

- Porque eu quero - retruquei, sem esconder o tom ácido na minha voz.

Billie finalmente levantou os olhos do celular e me olhou, aparentemente sem se ofender. Pelo contrário, parecia ainda mais interessada.

- Ah, sério? - Ela cruzou os braços e se inclinou para trás no banco, como se estivesse me desafiando. - E por que você me odeia tanto? A gente mal se conhece.

Eu queria gritar. Queria pegar aquelas palavras frias e jogá-las de volta na cara dela. Mas, em vez disso, apenas deixei escapar o que estava preso na minha garganta desde o momento em que a vi.

- Você é arrogante. Parece que se acha melhor do que todo mundo, como se nada fosse importante para você. E sabe de uma coisa? Isso me irrita.

Billie ficou em silêncio por alguns segundos, como se estivesse processando o que eu havia dito. Então, soltou uma risada baixa.

- Arrogante, hein? - Ela balançou a cabeça, ainda rindo. - Eu já fui chamada de várias coisas, mas essa é nova.

- Não acho engraçado - retruquei, cruzando os braços. - E não sei por que meus pais acham que a gente deveria ser amiga.

- Eles acham isso? - perguntou Billie, erguendo uma sobrancelha. - Porque eu não recebi esse memorando.

- Eles acham que só porque somos da mesma idade, devemos nos dar bem - eu disse, ainda irritada. - Mas, sinceramente, eu preferiria passar essas duas semanas sozinha.

Billie deu de ombros novamente.

- Eu também. Mas, aparentemente, estamos presas uma à outra. Então, que tal a gente fingir que pelo menos não se odeia até o fim dessa viagem?

Olhei para ela, incrédula. Como ela podia ser tão... despreocupada com tudo? Era como se nada a abalasse. Mas, no fundo, talvez isso fosse exatamente o que mais me irritava. A falta de reação, a maneira como ela parecia imune ao meu desprezo.

- Não sei se consigo fingir isso - respondi, finalmente.

Billie sorriu de lado, sem se ofender.

- Tudo bem, Hazel. Eu também não sou boa em fingir. Mas não precisa me odiar, sabia? - disse ela com um tom provocativo.

Suspirei, sentindo a raiva borbulhar novamente.

- Ah, você não tem ideia do quanto eu te odeio.

A verdade era que, desde aquele momento, o ódio que eu sentia por Billie só aumentava. Ela nunca fazia nada diretamente para mim, nunca brigávamos abertamente, mas a presença dela era o suficiente para me irritar. Billie Eilish era, sem dúvidas, a pessoa mais insuportável que eu já conheci.

Voltei ao presente, no meu quarto, refletindo sobre como essa viagem marcou o início de tudo. A cada encontro, a cada troca de palavras frias e provocativas, nosso desprezo mútuo só crescia. E agora, depois de tudo, ela estava aqui. Sendo minha babá.

- Eu odeio isso - sussurrei para mim mesma, me virando na cama e tentando bloquear os pensamentos.

Mas, no fundo, sabia que não seria tão fácil.

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A BABÁ QUE EU ODEIO - B.EOnde histórias criam vida. Descubra agora