Capítulo 10

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A noite avançava, e eu ainda estava presa na sensação incômoda que aquela conversa deixou para trás. Hazel tinha o dom de bagunçar meu interior com um simples sorriso provocador. E pior, ela sabia disso. Sabia como mexer comigo, sabia onde apertar para me deixar desconfortável. Agora, a imagem dela rindo com aquele tal de Tomás não saía da minha cabeça.

Eu já havia lidado com todo tipo de provocação vindo dela antes, mas isso era diferente. O ciúme. Nunca achei que sentiria isso por alguém, muito menos por Hazel, alguém com quem eu estava presa nessa relação de cuidados que, no fundo, me incomodava desde o começo. O problema é que agora, incomodar não era mais o verbo certo. Era... descontrolar.

Soltei o ar pesadamente, passando a mão pelos cabelos enquanto tentava focar na série que passava na TV, mas nem o som, nem a imagem me capturavam. Minha mente continuava voltando àquela cena, ao abraço, ao sorriso de Hazel. Ao jeito casual como ela disse "é só um amigo" e, principalmente, ao modo como ela jogou a pergunta na minha cara: “Tá com ciúmes?”

Maldita.

Por que aquilo mexia tanto comigo? Eu não tinha nada a ver com quem Hazel saía, quem ela abraçava, ou como ela sorria para outras pessoas. Eu deveria ser a adulta, a responsável. Mas, em vez disso, aqui estava eu, tomada por um sentimento que parecia totalmente inadequado.

O som de passos suaves descendo as escadas me tirou do transe. Hazel estava de volta, com o mesmo olhar relaxado de sempre, como se não houvesse nenhum tipo de tensão no ar. Ela parou ao pé da escada, observando a TV por um instante antes de me encarar.

— Ainda acordada? — perguntou com aquele sorriso irônico que sempre me fazia perder o fio dos meus pensamentos.

— Sim. — Respondi, um pouco mais defensiva do que pretendia. — Não consigo dormir.

Ela deu de ombros, como se aquilo não fosse nada importante. E talvez não fosse para ela.

— Bom, eu tô indo dormir. Amanhã tenho aula cedo. — Hazel disse enquanto pegava um copo d'água na cozinha. Ela olhou para mim de novo, o que me fez sentir como se estivesse sendo lida. Ela sempre parecia saber quando eu estava escondendo algo, como se pudesse ver através de mim.

Eu não devia perguntar, mas as palavras saíram antes que eu pudesse me controlar.

— Vai encontrar o Tomás amanhã? — perguntei, tentando soar casual, mas o veneno no tom era inegável.

Hazel parou por um segundo, antes de virar para mim com um olhar curioso. Ela não respondeu imediatamente. Estava me avaliando, tentando entender por que eu me importava tanto. Finalmente, um sorriso lento apareceu em seu rosto, aquele sorriso que me dava nos nervos e me deixava ao mesmo tempo intrigada.

— Talvez. — Ela deu de ombros, ainda me observando com aquele olhar brincalhão.

Eu sabia que ela estava se divertindo com isso, mas não tinha forças para rebater. Sentia como se estivesse perdendo o controle de algo que nem sabia que estava segurando. Hazel se virou, prestes a subir as escadas novamente, quando parou no primeiro degrau.

— Sabe, Billie... — Ela começou, sem me olhar, a voz suave e quase provocante. — Se você quiser saber sobre meus amigos, é só perguntar. Mas acho que isso não é o que está te incomodando de verdade, né?

E então, antes que eu pudesse responder, ela subiu as escadas, me deixando sozinha, mais uma vez, com os meus pensamentos. Hazel sempre soube jogar esse jogo de forma habilidosa, mas dessa vez, eu não sabia como reagir.

O pior de tudo é que ela estava certa.

Eu não sabia exatamente o que estava me incomodando, mas sabia que era muito mais do que um simples "amigo".

A BABÁ QUE EU ODEIO - B.EOnde histórias criam vida. Descubra agora