Mal presságio

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A sala de controle estava estranhamente quieta, exceto pelo suave zumbido dos servidores da ZB trabalhando incessantemente. Zero estava em seu habitual canto, observando várias telas piscarem com dados e códigos, mas desta vez, o brilho nos olhos dele parecia mais sombrio, distante. Zane observava-o de longe, a sensação de inquietação crescendo no peito.

"Ele pode até fingir que está bem... mas eu sei que não está", murmurou ela para Corvo, que estava encostado em uma das paredes, com os braços cruzados e o olhar sempre atento.

Corvo, o mais novo membro da ZB, tinha uma presença silenciosa, quase fantasmagórica. Seu apelido não era apenas um símbolo; era um presságio. Desde que se juntou à organização, ele aparecia nos momentos mais inesperados, muitas vezes quando algo de grave estava prestes a acontecer. Isso lhe rendeu o apelido de Corvo - um presságio de desastres. E ali estava ele, novamente, quieto, mas observador.

Zane suspirou, sentando-se ao lado de Corvo. "Sabe, entrei aqui quase um ano atrás, mas a organização já existia há três. Zero a fundou quando tinha 19 anos... um prodígio, já famoso entre os hackers. Mas dessa vez, algo está diferente." Disse o Corvo.

Corvo permaneceu em silêncio por alguns segundos antes de falar, sua voz baixa e grave. "E você... Acha que ele vai desmoronar?"

Ela não respondeu de imediato, mas seu olhar voltou-se para Zero, que ainda estava absorto nas telas. "Sinto como se algo de muito ruim estivesse prestes a acontecer. Eu o vi lidar com falhas antes, mas essa... essa é diferente. Eu já passei por muita coisa, vi o que uma perda pode fazer com alguém. Foi assim que adotei o nome 'Zane'." Ela fez uma pausa, como se reunir forças para continuar.

"Zane era o nome de alguém importante para mim. Alguém que... me salvou em um dos piores momentos da minha vida." Ela não olhou para Corvo enquanto falava, preferindo fixar o olhar nas mãos. "Eu estava perdida, confusa, sem rumo. Zane apareceu, acreditou em mim quando eu mesma não conseguia. Mas, como sempre acontece, o mundo é cruel. Ele se foi, de uma forma horrível, e eu jurei que nunca deixaria outra pessoa que me importasse seguir o mesmo caminho. Peguei o nome dele, para me lembrar de quem eu era com ele. E, às vezes, me pergunto se eu teria sido capaz de salvar Zane se tivesse sido mais forte."

Corvo ouvia em silêncio. Ele raramente falava sobre si mesmo, mas agora, talvez motivado pela confissão de Zane, ele se aproximou um pouco mais. "As pessoas me chamam de Corvo porque eu apareço antes de algo ruim acontecer. Mas a verdade é... eu não sou um presságio. Eu fui moldado pelo caos, pelas falhas e tragédias. E por mais que eu tente avisar, nunca sou suficiente. Nunca sou rápido o bastante para impedir."

Ele fez uma pausa, observando Zero do outro lado da sala. "Minha família estava toda em um prédio que desabou. Eu vi o perigo, soube que algo estava errado... mas ninguém acreditou em mim. Eu era só um garoto, com 'instinto demais' e 'razão de menos'. Agora, eu tento me antecipar ao caos, mas não importa o quanto eu tente, o desastre sempre chega antes."

Zane olhou para ele, surpresa pela abertura inesperada. Havia algo sombrio em ambos, uma profundidade que os unia de maneiras que poucas pessoas poderiam entender.

"É por isso que estamos aqui, não é?" disse Zane, com um meio sorriso. "Tentando impedir que a próxima tragédia nos consuma. Tentando salvar o Zero de algo que ele mesmo não percebe."

Corvo assentiu. "Sim. E acho que dessa vez... a tempestade será maior do que imaginamos."

Os dois ficaram em silêncio, observando Zero. Ele ainda parecia tranquilo, mas para quem o conhecia bem, havia uma tensão no ar que era impossível ignorar. Como se a verdadeira batalha estivesse apenas começando.

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