O silêncio pairava pesado no beco enquanto Zero e Zane se recuperavam da revelação inesperada. Thomas, o irmão mais novo de Zero, continuava parado ali, com uma postura relaxada, como se a tensão à sua volta fosse apenas uma leve brisa. Thomas sempre foi assim: um contraste gritante com Zero. Onde Zero era ação e velocidade mental, Thomas parecia caminhar pelo mundo com a certeza tranquila de que tudo eventualmente se resolveria, mesmo que ele tivesse que mexer algumas peças no tabuleiro por conta própria.
"Então, Nova York, huh?" Zero quebrou o silêncio, erguendo uma sobrancelha e cruzando os braços. Ele precisava processar o que estava acontecendo, e a presença de Thomas, em um momento tão caótico, não era uma coincidência. Não poderia ser. O garoto não fazia nada por acaso.
Thomas deu de ombros, mexendo no casaco como quem não se importava com a pressão da situação. “Sim. Fiquei um tempo por lá, tinha umas coisas pra resolver.” Ele falava num tom calmo e baixo, como se estivesse narrando o clima do dia, nada mais. Para qualquer outra pessoa, sua atitude poderia parecer uma fuga de responsabilidade, mas Zero sabia que o irmão sempre tinha algo em mente. Thomas nunca estava alheio aos eventos ao seu redor, e, se estava ali, havia uma razão calculada para isso.
Zane, ao lado de Zero, observava cada movimento com olhos atentos. A presença de Thomas a deixava inquieta. Não pelo comportamento despojado, mas pela sensação de que ele escondia muito mais do que dizia. “Resolver o quê exatamente?” ela questionou, seu tom direto. Ela estava acostumada a pessoas com segredos — fazia parte da ZB, afinal —, mas Thomas parecia uma incógnita com várias camadas.
Thomas lançou um olhar lateral para ela, um sorriso curto escapando antes de dar uma resposta evasiva. “Coisas… pessoais. Nada com o que vocês precisam se preocupar.” Seus olhos voltaram para Zero, ignorando a tensão que pairava entre eles. “E Ghostcity? Parece que cheguei na hora certa pra ver o show, não?”
“Você sempre aparece nos piores momentos, Thomas,” Zero murmurou, balançando a cabeça em descrença. Ele sabia que, apesar da calmaria, o irmão sempre se envolvia quando as coisas estavam prestes a ficar complicadas.
Thomas riu levemente, cruzando os braços de forma quase casual, mas seu olhar não deixou de avaliar o ambiente ao redor. “Nos piores ou nos melhores, depende do ponto de vista, não acha?” Ele inclinou a cabeça levemente, os olhos ainda fixos em Zero, com uma mistura de curiosidade e antecipação. “Vai me apresentar pro pessoal ou prefere que eu continue como o irmão fantasma?”
Zero suspirou, sentindo o peso de uma longa história de vida com o irmão. Aquela não era a primeira vez que Thomas surgia do nada e colocava suas habilidades à prova, geralmente em momentos em que Zero já estava no limite. Zane ainda observava, claramente tentando descobrir onde Thomas se encaixava naquela narrativa.
“Zane, esse é Thomas, meu irmão mais novo... e uma verdadeira dor de cabeça ambulante,” Zero disse com um tom exasperado, mas não completamente sem afeto.
Thomas sorriu de canto, inclinando-se ligeiramente em um gesto de cortesia. “Dor de cabeça? Talvez. Mas também sou solução, quando necessário.” Ele estendeu a mão para Zane, que hesitou por um momento antes de aceitar o cumprimento. O aperto de mão dele era firme, mas tranquilo, como se estivesse totalmente no controle, mesmo diante de pessoas que não conhecia.
Zane estreitou os olhos, não totalmente convencida, mas permitiu-se uma leve inclinação de cabeça em reconhecimento. “Vamos ver quanto de solução você realmente é.”
A conversa ainda pairava na superfície, todos sentindo que havia muito mais a ser discutido, mas antes que qualquer um pudesse avançar, um barulho repentino ecoou pelo beco. Uma lata de lixo foi derrubada com um estrondo e rolou, batendo ruidosamente nas paredes estreitas de tijolos. Todos viraram ao mesmo tempo, instintivamente alertas, até que um gato gordo e malhado disparou do fundo da confusão, suas patas pesadas batendo no chão de concreto enquanto ele corria para longe.
Zane soltou um suspiro de alívio, percebendo que a situação não era tão grave quanto parecia. No entanto, foi Thomas quem, como de costume, desarmou o clima com um comentário inesperado.
“Sabe,” ele começou, observando o gato enquanto ele se afastava. “Eu estava pensando em adotar um gato recentemente... Esse aí parece o tipo de companheiro que eu precisava. Tem estilo.” Ele apontou para o felino quase cambaleando, que agora escalava com dificuldade uma cerca próxima, equilibrando-se desajeitadamente enquanto seus olhos grandes observavam a cena lá de cima. “Só não posso competir com a destreza dessa bola de pelos.”
Zane não conseguiu conter uma risada, o som escapando de seus lábios antes que pudesse impedir. Ela levou a mão à boca, como se estivesse constrangida por ter sido pega de surpresa pela piada simples. Zero, por outro lado, balançou a cabeça, sorrindo com uma mistura de exasperação e alívio.
“O mesmo de sempre, Thomas,” disse Zero, ainda com o sorriso no rosto. “Nunca falha em quebrar o clima.”
Thomas piscou para o irmão, claramente satisfeito consigo mesmo. “Bom, se você não vai rir da vida, ela vai rir de você. E a última coisa que eu preciso é um gato rindo de mim.”
Aquela simples troca de palavras tinha quebrado o gelo de forma inesperada, o que era exatamente o que todos ali precisavam. Por um momento, as ameaças e perigos à espreita pareciam um pouco menos opressivos, e a presença de Thomas, embora misteriosa, começava a se sentir mais como uma lufada de ar fresco — ou, pelo menos, um caos calculado que Zero conhecia bem demais.
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"0"
Science Fiction"0" é um thriller tecnológico que acompanha Victor "Zero", um prodígio da programação que, aos 22 anos, se encontra no epicentro de uma revolução digital. Em um mundo onde governos e corporações controlam informações e vidas por meio de sistemas de...