Fratura no código

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Zero sempre foi o melhor. Desde que aprendeu a dominar a linguagem dos códigos, a se mover com naturalidade entre linhas de comando como se fossem versos de uma música que só ele entendia, sua posição no topo nunca foi questionada. Ele era o líder da ZB, uma organização clandestina que agia nas sombras, controlando sistemas, subvertendo algoritmos e derrubando firewalls que, para qualquer outra pessoa, pareciam intransponíveis.

Aos 22 anos, Victor "Zero" já era uma lenda. Seu nome ecoava por fóruns escondidos e pelas partes mais escuras da web. Mas, ao contrário de muitos hackers que viviam da fama ou da destruição gratuita, ele estava além disso. Zero era movido por algo maior: o controle silencioso. Ele não queria que o mundo soubesse o que estava acontecendo; queria manter o caos sob controle, evitando que outros assumissem o trono digital.

Naquela noite, ele estava na sede da ZB, um lugar discreto, localizado no subsolo de um prédio qualquer, disfarçado por uma fachada trivial. Era ali que a mágica acontecia. As telas refletiam dados em tempo real, e as mãos de Zero voavam pelo teclado, movendo-se com precisão cirúrgica. O objetivo principal: se infiltrar no sistema do Nômade, uma rede de vigilância global, programada para rastrear e controlar tudo e todos. A missão era instalar um código fantasma, um vírus imperceptível que neutralizaria o poder do Nômade e o colocaria nas mãos da ZB, sem que ninguém percebesse.

Tudo corria como planejado. A equipe estava em sintonia, as linhas de código se alinhavam como peças perfeitas de um quebra-cabeça. Zero, sempre calmo e bem-humorado, lançava piadas ocasionais para manter o clima leve. Seu estilo descompromissado o mantinha focado. Ele sabia que a tensão podia ser esmagadora, mas preferia quebrá-la com humor. Afinal, para ele, salvar o mundo não precisava ser algo sério o tempo todo.

"Se alguém aqui achar que isso está ficando difícil, me avisa", disse Zero, com um sorriso confiante, sem tirar os olhos da tela. "Vou pegar um tutorial no YouTube."

Mas, então, seu telefone vibrou. Era raro ele receber notificações durante uma missão. Aquilo já o deixou alerta. Ele parou por um segundo e olhou para o celular. Uma mensagem anônima. Apenas uma linha:

"Usina nuclear comprometida. Invasão confirmada."

Zero franziu a testa. "Isso é algum tipo de piada, né?" murmurou para si mesmo, clicando na mensagem para verificar o conteúdo. Mas, assim que os dados começaram a aparecer na tela do celular, seu sorriso habitual desapareceu.

A invasão era real. Uma usina nuclear na costa leste estava sofrendo um ataque cibernético massivo. O sistema de controle da usina havia sido hackeado e estava prestes a colapsar. Não era apenas uma falha no sistema; era um desastre iminente. Se os protocolos de segurança não fossem restaurados em questão de minutos, a explosão seria inevitável.

"Merda..." sussurrou Zero, sua mão já voando para o teclado, mudando rapidamente de foco. Ele começou a acessar os sistemas da usina, invadindo o firewall e vasculhando os comandos corrompidos. Sua mente corria. Quem diabos tinha feito isso? Certamente não eram amadores. O ataque era preciso, sofisticado.

A equipe da ZB notou a mudança em seu comportamento. Zane, um dos mais jovens da organização, se aproximou. "Zero, o que tá rolando? Você parece tenso. E você nunca parece tenso."

Zero lançou um olhar rápido para ele, ainda com os dedos digitando furiosamente. "Um pequeno problema de explosão nuclear, Zane. Coisa básica. Nada que um café e uma boa dose de código não resolvam."

Zane arregalou os olhos, e os outros membros da ZB pararam o que estavam fazendo. "Você tá brincando, né?"

"Queria estar. Mas, agora, foco aqui, pessoal." Ele digitava mais rápido do que nunca, enquanto tentava acessar os sistemas principais da usina e restaurar os protocolos de segurança. "Alguém invadiu essa usina, e o colapso é questão de minutos. Se eu não reverter isso a tempo, pode haver uma explosão de proporções catastróficas."

A tensão na sala cresceu. Todos olhavam para Zero, confiantes de que ele, como sempre, conseguiria resolver tudo. Ele era o melhor, certo? Mas conforme os minutos passavam, a gravidade da situação se tornava evidente. O sistema estava travado em um bloqueio profundo, algo que ele jamais havia visto. Era como se cada comando que ele desse fosse rejeitado, e as paredes de código se fechassem em torno dele.

Os monitores piscaram, e uma mensagem em vermelho surgiu na tela principal:

"Falha no sistema. Explosão confirmada. Zona de impacto: 30 km."

Por um momento, o mundo parou. O silêncio na sala era absoluto. Zero largou o teclado, os olhos fixos na tela. Ele falhara. Pela primeira vez, ele não foi o melhor. A explosão não o afetaria diretamente, ele sabia disso. Mas o impacto emocional daquela falha o atingiu como um golpe no peito.

"Zero?" A voz trêmula de Zane quebrou o silêncio. "O que... o que aconteceu?"

Zero respirou fundo, tentando processar a magnitude do que acabara de ocorrer. Ele se virou lentamente para a equipe, ainda com a expressão séria, e por um segundo, todos puderam ver algo raro: incerteza em seus olhos.

"Eu falhei", disse ele, sem rodeios. "A explosão vai acontecer."

A sala ficou fria. O líder da ZB, o invencível Zero, tinha falhado. Milhões de vidas estavam em jogo, e ele, o melhor no que fazia, não conseguiu impedir.

Mas então, algo curioso aconteceu. Zero fechou os olhos por um momento, respirou fundo e, quando os abriu novamente, o sorriso voltou a seus lábios. Não um sorriso de alívio, mas um sorriso forçado, irônico.

"Bem, parece que hoje não é o meu melhor dia", ele disse, soltando uma risada curta. "Mas, ei, pelo menos o Nômade ainda está na mira, né? Uma explosão nuclear não é nada perto de uma rede global de vigilância."

A equipe olhou para ele com descrença. Mas Zero, mesmo sabendo que falhara em grande escala, não deixaria a situação arruinar seu espírito. Afinal, o que seria do caos sem uma boa dose de sarcasmo?

Com o coração ainda pesado e a mente atormentada pela falha, ele voltou ao teclado. A missão ainda não havia acabado. O Nômade continuava sendo seu alvo. E, de alguma forma, ele sabia que aquilo era apenas o começo do verdadeiro caos que estava por vir.

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