Sonhos ocultos

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A noite estava mergulhada em um silêncio perturbador quando Zero começou a se agitar na cama. Seu corpo estava coberto de suor frio, e sua mente o transportava para um pesadelo vivido como se fosse real. Ele estava de volta à infância, mas desta vez não estava sozinho. Thomas, seu irmão, estava ao seu lado, ambos imóveis, impotentes, enquanto presenciavam algo que mudaria suas vidas para sempre.

Eles estavam em uma sala escura, as paredes em um tom sombrio, sem nenhum detalhe que pudesse indicar onde estavam. À sua frente, seus pais, ajoelhados, suplicavam por suas vidas. E então, de dentro das sombras, emergiu uma figura. O encapuzado era maior e mais imponente do que qualquer inimigo que Zero já havia enfrentado. Sua presença era avassaladora. Ele andava com passos firmes, como se estivesse à beira de um julgamento inevitável.

Thomas segurou a mão de Zero, apertando-a com força, mas Zero não conseguia reagir. Seu corpo parecia paralisado, assim como seus pais, que mal podiam acreditar no que estava prestes a acontecer. O encapuzado parou em frente a eles, e com um movimento lento e deliberado, retirou um objeto do manto: uma máscara. Era idêntica à máscara que Zero já havia visto, ao lutar com o encapuzado anteriormente. O homem encarou os pais dos dois garotos, e, com uma voz grave e sombria, pronunciou as palavras que ficariam gravadas na mente de Zero:

- Me desculpem.

Sem mais uma palavra, ele colocou a máscara e, antes que Zero pudesse compreender o que estava acontecendo, o som frio de metal cortando o ar ecoou pela sala. Seus pais caíram no chão, a vida esvaindo-se de seus corpos. A cena se repetia como um eco dentro do pesadelo de Zero, sem fim, como se o tempo estivesse preso naquele momento.

Zero queria gritar, mas sua voz não saía. Ele estava congelado, impotente, incapaz de salvar sua família, incapaz de mudar o passado. O encapuzado virou-se para os dois irmãos, e, por um momento, Zero pensou que eles seriam os próximos. Mas, em vez disso, o homem olhou diretamente para ele e desapareceu nas sombras, deixando apenas o som da respiração ofegante de Thomas ao seu lado.

Zero acordou, o corpo inteiro tremendo, coberto de suor. Ele respirava com dificuldade, como se ainda estivesse naquele pesadelo horrível. Seus pais... ele não lembrava de nada sobre eles, nada do desaparecimento, exceto agora, que as imagens da sua infância o invadiam de forma tão real e cruel. A mente de Zero estava confusa, tentando entender se o pesadelo era uma memória ou apenas mais uma manifestação de seus medos.

Sentindo que precisava de ar, ele se levantou rapidamente e saiu de seu quarto. A escuridão da madrugada envolvia a cidade de forma opressiva. Zero caminhou sem rumo, até que seus pés o levaram a um lugar familiar: o cybercafé de um antigo amigo de escola, um dos poucos lugares onde ele se sentia confortável. As luzes amareladas do lugar contrastavam com o nevoeiro denso que pairava pelas ruas desertas.

Ao se aproximar da entrada do café, Zero parou. Sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Foi então que ele o viu. Emergir das sombras como se fosse parte delas: o encapuzado que ele já havia enfrentado antes. Ele estava de pé, equilibrado em um parapeito do prédio ao lado, observando-o de cima, imóvel, como uma estátua na penumbra.

Zero recuou instintivamente, seus músculos se contraíram, preparando-se para o pior. O encapuzado manteve sua posição, a névoa densa da madrugada envolvia sua figura, tornando-o quase indistinguível do ambiente.

- Nós não somos inimigos. - A voz distorcida pelo modulador que ele usava ecoou pela noite.

Zero não relaxou. Seus instintos gritavam para ele não baixar a guarda. O silêncio foi interrompido pelo movimento suave da mão do encapuzado indo por dentro de sua blusa. Zero se preparou para atacar, certo de que seria um confronto iminente. Mas o encapuzado, sem pressa, tirou um envelope.

O envelope era lacrado com cera quente, um laço simples segurava o selo intacto. O encapuzado o jogou na direção de Zero, que o pegou sem desviar o olhar.

- Isso não vai responder todas as suas perguntas, mas espero que o ajude a entender. - A voz fria e calculada do encapuzado ressoou, enquanto ele lentamente parecia se fundir à neblina e à escuridão, desaparecendo no prédio mal iluminado.

Zero permaneceu ali, segurando o envelope. Por um breve momento, o peso daquele pequeno objeto parecia esmagador. O que quer que estivesse dentro dele, poderia mudar tudo. Para melhor ou para pior. Ainda confuso e agitado pelo pesadelo, Zero sabia que o próximo passo seria mais arriscado do que qualquer batalha. Ele olhou uma última vez para o parapeito vazio onde o encapuzado estivera e entrou no cybercafé, o envelope ainda firme em suas mãos, com a certeza de que, a partir daquele momento, o jogo iria virar a seu favor.

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⏰ Última atualização: Oct 08 ⏰

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