Piloto

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Luz piscando na sala de um apartamento apertado no centro de uma cidade sem nome. A única constante era o som das teclas sendo pressionadas com precisão quase mecânica. No meio desse emaranhado de telas e cabos, estava o jovem que todos conheciam pelo apelido Zero. Não era um nome escolhido por acaso; "Zero" representava o vazio entre os números, o espaço entre o código, o lugar onde ele se sentia mais confortável: no limiar da criação e destruição digital.

Zero, ou melhor, Victor "Zero", tinha 22 anos e era uma lenda nos corredores virtuais. Seu apelido, no início, era uma piada interna - o garoto que estava sempre começando algo do 0. Mas o nome cresceu, tomou vida própria. "Zero" passou a significar algo maior: o ponto de partida de todas as revoluções. E ele acreditava que uma revolução estava próxima.

Desde criança, Zero nunca foi normal. Aos 10 anos, ele já estava modificando os códigos dos jogos que jogava, mudando as regras a seu favor. Aos 14, descobriu que o mundo real era como um grande software, com linhas de código que podiam ser alteradas, manipuladas, reescritas. Ele foi expulso de três escolas por hackear os sistemas, e ao completar 18 anos, tinha um nome respeitado - ou temido - nos círculos mais fechados da web.

Agora, aos 22, ele tinha algo maior em mente. Ele não era apenas mais um hacker atrás de fama ou dinheiro. Zero via o mundo como um conjunto de dados, onde quem dominava o código, dominava a realidade. Governos, corporações, até mesmo vidas pessoais, estavam sendo moldados por algoritmos, sistemas de vigilância, e inteligência artificial. E no coração dessa teia de controle, havia um projeto que poucos conheciam: o Nômade.

O Nômade não era um simples software de vigilância. Era o sonho distópico de governos e corporações: uma inteligência artificial autossuficiente, programada para rastrear, prever e controlar cada movimento digital e físico de qualquer ser humano conectado à rede. O projeto já estava em fase avançada, sem que ninguém notasse. Mas Zero sabia. Ele sempre sabia.

Naquela noite, o apartamento de Victor estava tomado por um frenesi controlado. Seus dedos dançavam no teclado enquanto diversas telas exibiam janelas de código que pareciam se transformar a cada segundo. Ele estava no estágio final de um plano que vinha desenhando há meses. Seu objetivo? Inserir um código fantasma dentro do Nômade, uma falha deliberada que o permitiria controlar o sistema sem jamais ser detectado. Ele não queria derrubar o Nômade - seria impossível -, mas sim, dobrá-lo à sua vontade.

Zero não estava sozinho, claro. Fazia parte de uma organização secreta, os "ZB" ou "ZeroBytes", um grupo de elite, criado por ele e formado por mentes brilhantes da tecnologia. Eles eram como ele: visionários, mas sem a ingenuidade de acreditar que o sistema poderia ser consertado de forma tradicional. Eles queriam tomar o controle do digital para devolver o poder às pessoas comuns, sem que essas sequer soubessem o que estava acontecendo.

A sala parecia pulsar enquanto as linhas de código corriam pelas telas. O silêncio era quebrado apenas pelo som das teclas e o zumbido das máquinas. Zero estava focado, quase em transe. No canto de uma das telas, um relógio digital contava os segundos. O tempo era um inimigo invisível. Ele sabia que não estava sozinho nessa corrida. Outros grupos estavam atrás do Nômade, mas com intenções bem diferentes.

De repente, uma notificação apareceu no monitor principal. Era uma mensagem criptografada, enviada diretamente para o canal seguro que Zero usava apenas para comunicações internas dos ZB. A mensagem era curta e precisa: "Alvo."

Victor congelou por um instante, os olhos fixos na palavra simples que brilhava em vermelho na tela. Quem mais sabia? Ele imediatamente tentou rastrear a origem da mensagem, mas ela estava encriptada em múltiplas camadas de segurança. Mesmo para ele, seria impossível descobrir a origem sem um tempo considerável.

Seu coração disparou. O jogo havia mudado, e ele sabia disso. Agora, não era apenas uma questão de completar o código a tempo. Alguém o estava observando, alguém que sabia mais do que deveria.

Respirando fundo, Zero voltou ao teclado, ignorando o suor que começava a escorrer pela testa. Havia uma luta acontecendo, mas não era com armas ou soldados. Era uma batalha silenciosa, invisível, travada nas profundezas de linhas de código e algoritmos. E ele, Victor "Zero", estava no centro de tudo.

Se ele falhasse, o Nômade controlaria o mundo. Se tivesse sucesso, ele poderia redefinir o futuro. Tudo dependia daqueles próximos minutos.

O futuro do mundo estava nas suas mãos - ou melhor, em suas teclas.

"0"Onde histórias criam vida. Descubra agora