Capítulo 14

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Jimin

Eu gostaria de poder dizer que rolou uma reviravolta mágica assim que nos mudamos para perto da praia, mas não é verdade.

A saúde da minha mãe só piorava a cada dia.

Durante meses, parecia que estávamos travando uma batalha atrás da outra e perdendo todas elas.

Depois de um tempo, ela precisou de cadeira de rodas.

Em alguns dias, não conseguia sequer se levantar da cama e, em outros, precisávamos correr com ela para o hospital porque minha mãe não conseguia respirar.

Depois da última ida dela ao pronto-socorro, no fim de abril, nós sabíamos que o tempo estava se esgotando.

Não falávamos sobre isso, porque verbalizar aquilo fazia tudo parecer mais real do que qualquer um de nós estava preparado para encarar.

Plim, plim.

Finalmente me conectei à internet em uma noite de abril.

Eu vinha evitando fazer isso há um tempo porque, toda vez que eu entrava, JungKook estava lá, esperando para saber novidades, e eu odiava o fato de que as últimas notícias estavam ficando cada vez mais tristes.

Naquela noite, eu precisava dele.

Só precisava falar com ele e, como JungKook era um cara muito legal, quando entrei, às dez da noite, ele estava lá.

JunHoops97: Oi, Minie! Só passando pra saber como você está. Você não tem ficado muito on-line, então, só pra avisar, sua caixa de entrada vai estar cheia de e-mails com pensamentos aleatórios meus.

PJHogwarts: Oi, foi mal. As coisas têm estado meio loucas aqui.

JunHoops97: Tudo bem. Eu entendo. Alguma novidade?

PJHogwarts: Só notícias tristes.

JunHoops97: Posso ouvir as notícias tristes também.

Suspirei, passando a mão pelo rosto.

PJHogwarts: Vou colocar um timer de cinco minutos e esse vai ser todo o tempo que vou dedicar às coisas tristes, tá? Senão vou acabar sufocado. Então, vou vomitar tudo de uma vez. Você não precisa nem responder. Eu só... Se eu te contar tudo, vai ser como se não estivesse tudo dentro de mim esperando pra explodir.

JunHoops97: Cinco minutos no relógio. Vai!

PJHogwarts: Acho que só hoje me toquei que minha mãe está realmente morrendo. Antes, havia uma crença surreal de que ela ia melhorar, uma crença de que chegaria um dia em que ela não precisaria mais da cadeira de rodas ou que se levantaria e conseguiria dançar de novo, ou pintar. Mas, hoje, quando estávamos sentados na praia, eu senti. Senti o fim se aproximando. Senti que a hora do adeus está mais próxima. Nunca tive tanto medo na vida e tenho uns pensamentos horríveis, que fazem com que eu me sinta a pior filha do mundo. Se ela nos deixasse, não sofreria mais. Se ela morresse, ficaria livre da dor. Que tipo de monstro sou eu? Como esses pensamentos podem sequer passar pela minha cabeça? Enfim, acho que é nesse estágio que estou agora, e eu vou entender perfeitamente se você quiser parar de falar comigo por um tempo. Porque, agora, esse sou eu: triste.

Estou sofrendo. Estou tão triste que, às vezes, só quero ficar na cama. Tão triste que, de vez em quando, tenho pensamentos muito, muito sombrios e não sei mesmo como controlá-los, e isso pode ser pesado demais. Eu posso ser pesado demais. Minha tristeza está pesada demais neste momento. E eu não sei como lidar com ela, então também não espero que você saiba.

Apertei “enviar” e esperei por uma resposta.

E esperei.

E esperei.

JunHoops97: O que mais?

PJHogwarts: Como assim, “o que mais”?

JunHoops97: Você só usou dois minutos dos cinco. Tem mais três pra abrir seu coração nessa tela. Não vou a lugar algum, Minie. Estou aqui.

As lágrimas escorriam pelo meu rosto, e eu respirei fundo.

Eu tinha recebido permissão para me expressar livremente.

Como isso era libertador.

PJHogwarts: Acho que é isso. É tudo o que estou sentindo.

JunHoops97: Você quer saber o que eu acho?

PJHogwarts: Não, agora não. Ainda não. Eu só precisava botar tudo pra fora, acho. Então, se a gente puder fazer qualquer coisa que não seja falar sobre coisas tristes, isso faria com que eu me sentisse bem melhor.

JunHoops97: OK.

JunHoops97: Então, o que o peixe disse pra peixa?

PJHogwarts: O quê?

JunHoops97: Estou apeixonado.

Eu sorri.

Obrigado, Jun.

DE: JunHoops97@aol.com

PARA: PJHogwarts@aol.com

DATA: 29 de abril, 22:54

ASSUNTO: Sei que você disse

Minie, Sei que você disse que não queria saber o que eu achava, mas, como sou um cara muito teimoso, eu quis te mandar um e-mail depois da nossa conversa de hoje. Eu só queria que você soubesse que não acho que está triste demais. Na verdade, você está triste na medida certa, porque está passando por uma situação de merda. Sinceramente, eu ficaria um pouco assustado se você estivesse feliz.

Fique triste.

Você pode ficar feliz depois.

E não precisa me afastar de você. Não acho seus problemas pesados demais pra mim. Eu quero estar presente na sua vida, e você não vai me impedir de fazer isso. Ser meu amigo significa isso. Significa eu ser insistente de vez em quando, verificar como você está e querer saber sobre os dias ruins. Significa que, quando você está sufocando, eu sufoco também.

Estou aqui pra te dar apoio, mesmo que eu esteja a dois mil quilômetros de distância.

Mais uma coisa, e não tenho como deixar isso mais claro: o fato de você não querer que sua mãe sofra não significa que você seja cruel, de maneira nenhuma.

Na verdade, isso faz de você uma boa pessoa, por não querer que alguém que ama continue sofrendo.

Isso não é ser um monstro — é ser um santo.

Não deixa que esses pensamentos te consumam à noite.

Você é uma boa pessoa, Park Jimin.

E se um dia você se esquecer disso, dá uma olhada nos meus e-mails.

Eu vou estar aqui pra te lembrar.

Jun

Love From The PastOnde histórias criam vida. Descubra agora