Capítulo 55

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Jimin

Assim que aterrissei em Busan, senti um bolo gigante se formar em meu estômago enquanto pegava o carro alugado.

Já fazia mais de um ano que eu não via meu pai, e não sabia ao certo o que esperar.

No entanto, quando parei na frente da casa dele e fui até a varanda da entrada, meu coração se partiu na hora.

— Jimin — murmurou meu pai, surpreso por me ver ali. Ele estava um caco, como se não tomasse banho havia dias. Os cabelos estavam desgrenhados, a barba, por fazer, e ele tinha engordado um pouco desde a última vez que nos vimos. — Oi. O que você tá fazendo aqui? Você tá bem?

Olhei para além dele e vi que a casa estava um lixo.

A mesinha de centro estava coberta de embalagens de comidas nada saudáveis e havia roupas espalhadas por toda parte.

Ergui uma das sobrancelhas.

— Você tá bem?

Ele se mexeu de leve, tentando bloquear minha visão, mas eu já tinha visto tudo que precisava ver.

Ele começou a tossir, cobrindo a boca com a palma da mão, e eu tive a impressão de que meu pai iria perder um dos pulmões a qualquer instante.

— Estou bem, estou bem. Vivendo um dia de cada vez — respondeu ele, coçando a nuca.

Os olhos dele eram vazios.

Ele parecia um tanto pálido.

E triste.

Meu pai parecia tão triste.

Mas isso não era novidade.

Nos últimos 16 anos, ele havia sido um homem triste.

Esse era o novo “normal” dele.

— Posso entrar? — perguntei, dando um passo à frente.

Ele fez uma careta e bloqueou minha entrada.

— Tá uma bagunça aqui dentro, Jimin. Talvez seja melhor a gente sair pra comer alguma coisa.

Ele se sentia envergonhado, mas eu não me importava. Eu era filho dele e o amava.

Independentemente do que ele estivesse passando, eu podia ajudar.

— Me deixa entrar, pai. Vou te ajudar a arrumar a casa. Além do mais, eu tava pensando em passar alguns dias aqui antes de voltar. Pra gente poder botar o papo em dia.

— Ah? Bem, não sei. Você podia ter me avisado, Jimin.

— Pai. Me deixa entrar.

Ele balançou a cabeça.

— Está ruim...

— Pai — insisti. — Me deixa entrar.

Eu o tirei do meu caminho e entrei na casa.

Estava mil vezes pior do que parecia quando espiei da porta.

Havia lixo por todos os lados, restos de comida no carpete, latas de refrigerante vazias, garrafas de bebida, pacotes de biscoito.

Embalagens de tudo quanto era coisa.

As roupas dele estavam amontoadas em uma pilha no canto da sala de estar, e a pia da cozinha estava lotada de louça suja.

Eu já tinha visto meu pai em momentos bem ruins, mas nunca naquele estado.

Ele estava vivendo na imundície e parecia que não se importava.

Ele começou a dar uma geral na casa, recolhendo algumas coisas, obviamente atordoado com a minha chegada.

— Não é sempre assim — mentiu ele. — As coisas têm estado um pouco caóticas ultimamente — murmurou ele.

— Você não pode viver assim, pai — falei, atônito. — Você merece mais do que isso.

Ele se encolheu.

— Não começa, Jimin. Você apareceu sem avisar. Não tive tempo de arrumar a casa.

— A casa nunca deveria chegar a esse estado! E olha pra você, pai. Você tem tomado seus remédios?

Ele fez uma carranca.

— Eu tô bem, Jimin. Não preciso que você venha até aqui pra me humilhar.

— Não estou tentando te humilhar, pai. Só estou preocupado. De verdade. Isso não é saudável, e você parece mais fraco do que da última vez que eu te vi. Só quero te ajudar.

A vergonha dele estava se transformando em raiva.

— Eu não pedi a sua ajuda! Não preciso da sua ajuda. Eu tô bem.

— Não, não está. Você está um caco, e já faz anos que está assim.

— Tá vendo? É por isso que não gosto de visita. Foi por isso que não deu certo a gente morar junto. Você vive apontando os meus defeitos.

— Pai, não é isso que eu estou fazendo! Só estou dizendo que estou preocupado.

— É, bom, para de se preocupar então. Não preciso da sua pena.

— Não é pena, é amor. Eu te amo, pai, e quero que você seja o melhor que pode ser.

Ele não disse que também me amava.

Isso sempre doía.

Ele baixou a cabeça e coçou a nuca.

Meu pai não olhava para mim com muita frequência, e eu tinha certeza de que era porque eu me parecia com a minha mãe.

Talvez fosse difícil demais, para ele, me encarar.

Talvez suas dores fossem piores.

— Talvez seja melhor você não ficar aqui. Não tô muito bem no momento e não quero que você se sinta mal por eu ser quem eu sou, tá bem? Talvez seja melhor você ir embora, Jimin.

Ele me dispensou.

Sem nem olhar para mim.

Ele me rejeitou e me mandou embora, e isso foi tudo.

Chorei durante todo o voo de volta para Seul.

Chorei por ele, de medo. De preocupação.

De dor.

E, então, rezei para que minha mãe cuidasse dele, porque eu tinha certeza de que não havia nada que eu pudesse fazer para trazê-lo de volta para mim.

Quando cheguei a Seul, comecei a procurar emprego.

Eu estava juntando os cacos do meu coração despedaçado e tentando ensinar os pedaços a baterem sozinhos novamente.

Volta e meia, pensava tanto no meu pai como em JungKook.

Pensava no coração deles e torcia para que os dois também estivessem batendo.

Fiz a única coisa que eu podia de fato fazer pelos dois em meio ao lamaçal em que todos nos encontrávamos: eu os amei a distância.

Love From The PastOnde histórias criam vida. Descubra agora