Princesa de Lua

Último Ano

— Sai da frente, esquisita — Andreas me empurrou com força fazendo com que eu batesse com o ombro contra o armário como se eu fosse uma pilha de lixo e foi até sua parte no enorme armário da Academia Fae onde calmamente abriu o cadeado e pegou seus livros como se não tivesse acabado de me agredir.

Levei a mão até meu ombro machucado, Fred finalmente chegou na entrada da Academia e ajeitou os óculos escuros que os vampiros costumavam usar para se proteger da luz do sol que embora não os matasse como diziam as lendas, era incômoda para eles, então me olhou com preocupação:
— Nossa Lia, você está bem? A gente devia falar alguma coisa com a diretora.
— Estou bem, acho que vai ficar só um hematoma e você sabe que não adianta falar nada com a Carlota, Andreas faz parte do grupo dos Alfas e é o melhor amigo do príncipe. — lembrei.
— Se eu pudesse cravaria minhas presas naquele pescoço e drenaria todo o sangue desse filho da puta. — disse Fred olhando para o grupo de lobos que se formava no final do corredor.
— Bobagem, eles fariam picadinho de você. Além disso é o nosso último ano nesse inferno, ano que vem se tudo der certo estaremos em Sampa no nosso novo ap bem longe daqui. — dei um tapinha nas costas do meu amigo vampiro tranquilizando-o.
Fred e eu éramos os dois fracassados da escola. A loba mais fraca do mundo e o vampiro mais fraco do mundo também, tanto que apesar de lobos e vampiros terem uma antipatia natural uns pelos outros a séculos e não serem vistos andando juntos, o bullying e a solidão nos aproximou fazendo de nós a excessão a regra, pois nos tornamos os melhores amigos e única companhia um do outro
— É, você tá certa. — disse Fred guardando as presas e baixando os olhos azuis.
Caminhamos até a sala de aula pensando que aquele seria mais um dia normal, mas naquele dia algumas pessoas começaram a cochichar sobre nós, acho que estavam entediados:
— Hey Alex, olha só aqueles dois que nojo, você sendo nossa alteza deveria fazer alguma coisa a respeito, imagina só se esses dois resolvem procriar que tipo de aberração vai sair. — disse Andreas no meio da sala de aula e alguns alunos começaram a rir.
Abaixei a cabeça rabiscando no caderno fingindo não ouvir, era o melhor a fazer.
— Não me meto em assuntos de ômegas, ainda mais esses do tipo tão fracassados, se essa puta quer foder com sanguessugas é problema dela. — disse Alex de forma fria e cruel.
A forma como me chamou de "puta" me deu arrepios, eu não era nada disso que ele estava falando e por isso senti as lágrimas querendo descer dos meus olhos. Fred levantou e começou a me defender.
— Olha aqui cachorro, lave a sua boca com sabão antes de falar da minha amiga!

E foi aí que tudo desandou naquela manhã, de repente o Príncipe dos lobisomens estava segurando meu amigo vampiro contra a parede e apertando seu pescoço, um alvoroço se fez naquela sala de aula e temi pela vida de Fred até que o Professor Caleb chegou na sala de aula e impediu o assassinato:
— Já chega Alteza, por favor, aqui na Academia não é lugar para isso. Se o aluno Frederico faltou com o respeito pode deixar que aplico a disciplina devida, mas por favor, solte o vampiro.
Alex soltou Fred que caiu violentamente no chão com as mãos no pescoço e eu me aproximei para ajudar meu amigo a se levantar.
Fred era bem franzino, magro, de estatura baixa, pálido com uma pele bem fria de vampiro e tinha um cabelo loiro  cacheado que costumava manter preso em um rabo de cavalo. Ele parecia uma garota, até poderia ser confundido com uma o que fazia da atitude de Alex uma tremenda covardia.
O Príncipe lobo era alto e forte, de peito musculoso e um belo rosto másculo que fazia com que todas as garotas da Academia gostassem de flertar com ele e as lobas de classe mais elevada como as alfas e betas sonhassem em ser suas parceiras, eu não sabia bem como funcionava isso de Parceria, mas sabia que acontecia de alguma forma mágica só com os lobos que tinham sangue da realeza Lupina, os descendentes de Selene e que quando os parceiros se uniam eles ficavam juntos para o resto da vida, inclusive quando um morria o outro costumava morrer logo depois, mas isso não acontecia com lobos mais fracos do tipo omega como eu que tínhamos o sangue diluído com o de humanos e que não fazíamos parte de matilhas.
Eu queria poder dizer a Alex Varcolac o quanto ele era um covarde mas se isso acontecesse ele não hesitaria em me matar.
— Você tá bem? — perguntei aos sussurros ao meu amigo com preocupação.
Fred fez que sim com a cabeça e o professor Caleb o conduziu para a diretoria.

Meu melhor amigo não voltou para a sala de aula naquele dia e horas mais tarde, em casa recebi uma mensagem de celular dele avisando que havia sido suspenso por uma semana.

Aquela injustiça me deixou com tanta raiva que me transformei no modo loba ali mesmo no meu quarto. Era lua cheia e toda vez que chegava naquela noite, nós lobos ficávamos com o sangue a flor da pele. Fiquei puta porque meu melhor vestido havia se rasgado com a transformação e saltei a janela correndo pelo bosque a dentro com muito ódio de Alex Varcolac, como eu queria pular no pescoço dele e estraçalhar com meus próprios dentes e enquanto eu corria freneticamente sem rumo mentalizava o rosto dele, os olhos escuros me encarando e a maldade na voz me chamando de "puta". Estava tão fora de mim que não vi quando outro lobo muito maior e mais forte se aproximou de mim e só senti de repente o peso dele nas minhas costas e a dor dos dentes cravados na minha nuca.
Soltei um uivo tão forte de dor e de repente só enxergava um clarão prateado a minha volta, meu coração desacelerou e quando dei por mim estava transformada de novo na forma humana, nua no meio da floresta me arrastando pra longe do lobo, ele era grande e branco, sem dúvida um alfa e assim que me viu na forma humana ficou tão assustado que também se transformou de novo e para meu horror, vi o príncipe que eu havia desejado estraçalhar com as minhas presas se levantando nu diante de mim e senti as bochechas queimando de vergonha diante do que vi, afinal Alex era o cara mais bonito da escola e não consegui deixar de notar que além de lindo ele era bem dotado demais para o meu gosto.

— Você? A esquisita do vampiro? — Alex me olhou com desgosto e depois olhou para o próprio pulso.

Notei uma marca de lua crescente no pulso dele brilhando com uma luz prateada como a que vi envolta de nós no momento da mordida e na mesma hora senti meu próprio pulso queimando também e quando olhei, vi que havia uma marca idêntica no meu próprio pulso.

— O que você fez comigo? — perguntei atordoada já que não entendia o que estava acontecendo, em todos os meus dezoito anos de vida nunca vi nada assim.
— Merda! Logo você! — Alex xingou evidentemente bravo, deu as costas e saiu correndo dali.

Me senti aliviada porque pelo menos ele não me atacou, mudei de novo para a forma de loba e corri de volta pra casa.

Ao voltar para a forma humana olhei de novo para o pulso na esperança de que a marca tivesse sumido, mas para a minha surpresa havia se transformado em uma espécie de tatuagem azul em formato de lua crescente, não brilhava mais, mas era algo difícil de esconder e o que quer que significasse deixou Alex tão atordoado quanto eu.