17 - Fahlada.

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A residência e o projeto de pesquisa estavam consumindo a maioria do meu tempo.
Vendo meu desempenho, Fahlada aumentava minhas responsabilidades, eu não me queixava, gostava disso, não só porque a pesquisa era fascinante mas porque isso me obrigava a passar mais tempo com ela.

Laila me ligou umas duas vezes, ainda ansiosa pela convocação da seleção brasileira para a disputa do Grand Prix, mas não parecia empolgada em aprofundar nossa relação como pareceu pessoalmente, decepcionei-me um pouco com isso, mas de certa forma, me deixava de consciência limpa para aceitar os convites para sair de Fahlada.

A minha superiora tratou de deixar minha sexta-feira com a noite livre no cronograma, não me restando alternativa - como seu quisesse outra - quando me chamou para ir ao cinema com ela. Não permitiu sequer que eu fosse em casa trocar de roupa, segundo ela, pra que eu não tivesse chance de escapar. Saímos do hospital direto pro shopping.

Cada vez mais, Fahlada se revelava uma pessoa descontraída, de companhia encantadora, o humor dela era leve, às vezes demonstrava uma inocência nos gestos e nas palavras, que discrepavam daquele jeito sedutor dela.

Ao que me parecia, toda aquela postura de mulher irresistível escondia uma mulher carente e insegura. E eu me sentia tentada a desvendar essas faces dela.
Escolhemos uma comédia, ela pediu que guardasse um bom lugar na sala, enquanto nos compraria pipocas, eu a obedecia como vício do trabalho, afinal ela era minha chefe.

Em poucos minutos vi uma das cenas mais engraçadas da minha vida: Fahlada entrava na sala, equilibrando um balde gigante de pipoca, com um copo de cerca de 1 litro de refrigerante e, pendurado no braço, uma sacola de plástico com dezenas de doces. Não me contive e caí no riso, enquanto ela se esforçava para subir as escadas sem derrubar nada.

Aquilo merecia uma foto. Dra. Fahlada Thananusak, neurocirurgiã conhecida internacionalmente, era uma criança grande, definitivamente.

- KornKamon, você não vai me ajudar aqui? - Fahlada falou baixinho em pé à minha frente.

- Mas você me parece tão habilidosa como equilibrista... Não achei que precisasse de ajuda.

- Ah, muito engraçada! Isso aqui é culpa sua! – disse se acomodando na poltrona vizinha a minha.

- Culpa minha? Ué... Eu por acaso te convenci que nas próximas duas horas sofreríamos uma catástrofe e ficaríamos privadas de glicídios e lipídios?

- Ah! – fez uma careta mostrando a língua. – Sua culpa porque não sabia se você gostava de pipoca doce ou salgada, então como não ia conseguir trazer dois potes separados, pedi que juntasse os dois tipos aqui, mas não me pergunte onde está a doce ou a salgada. O refrigerante também não consegui trazer os dois, assim fiz o mesmo, mas os dois são diet para equilibrar as calorias – sorriu.

- E esses doces, Chapeuzinho Vermelho, pra quem são? – perguntei sorrindo.

- Também sua culpa. Como não sabia sua preferência, saí colocando um de cada tipo, então temos: jujuba, chocolate branco, chocolate ao leite, com avelã, com castanha, com flocos, amargo, e também bala de menta, chicletes de vários sabores, amendoim salgado, paçoca. E... Ah! Bolinhas de chocolate – exibiu item por item retirando-os da sacola.

- Gente, temos quanto tempo pra comer tudo isso? Depois disso temos que tomar insulina para queimar tanto açúcar!

- Acho que tem outras formas de queimarmos açúcar. Atividade física, por exemplo. - tentou usar um tom inocente, sem sucesso.

- Ah não, você não vai querer voltar pra casa fazendo cooper, né? – brinquei fingindo não ter entendido sua sugestão.

- Deixa de falar besteira KornKamon!. O filme vai começar, começa aí também a comer essa pipoca.

Porque eu Sei que é AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora