18 - Mundo pequeno.

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Estávamos lá, à porta do chalé do vô Elias da Fahlada, lugarzinho charmoso, entramos logo após uma voz mansa autorizar com um "Entre minha filha".

Não sei descrever a emoção que senti ao ver aquele velhinho tão simpático, era como estar mais perto de meus pais de novo, ele devia ter uns 90 anos, andava devagar com uma bengala, usava um óculos redondo, tinha barba branca e olhos escuros como os de Fahlada.

- Olá minha filha, trouxe reforço para me convencer a ir pra festa? É uma moça linda, que vai perdoar a indisposição de um velho para essas festividades...

- Vôzinho... Essa é KornKamon Phetpailin, residente de neurologia, trabalha comigo, e, ela é de Valença, os pais dela eram médicos também... E...

- KornKamon? A filha de Anon e Pohn?

- Sim senhor – respondi com os olhos marejados.

- Meu Deus! Que alegria! Meu Deus – aquele senhor parecia esperar aquele momento a vida toda. – Venha aqui meu anjo, me dê um abraço!

Ficamos abraçados por minutos que pareceram nem se passar, abracei aquele senhor como se abraçasse meus pais, surreal o que senti.

- Sente aqui do meu lado meu anjo, Lada, seu velho tá emocionado... Você nos traria um copo de água?

- Claro vôzinho, Mon você está bem?

- Aham! – respondi enxugando minhas lágrimas.

- Meu anjo, seus pais foram como filhos para mim, fui professor deles na faculdade em Valença, os acompanhei como preceptor na residência em Belo Horizonte, fui padrinho do casamento deles, só nos separamos quando eles foram convidados a trabalhar em Valença mas nunca perdi a esperança de tê-los perto de mim de novo.

- O senhor tinha contato com eles? Não lembro do senhor em nossa casa.

- Na verdade não tivemos contato por um bom tempo, por quase dez anos, não os perdoei por deixarem Belo Horizonte, eu tinha grandes planos pra eles. Você devia ter uns cinco anos quando mudaram-se para Valença, não?

- Isso... Mas porque tanto tempo sem falar com eles? A foto que vi foi pouco antes do acidente não foi?

- Fiquei muito magoado, Anon queria um lugar mais tranquilo para morar, Pohn estava grávida novamente e queria estar mais perto da família, e eu fui egoísta demais os queria perto de mim, meu único filho não quis seguir minha profissão, veio embora pra cá ainda jovem, eu depositava meus sonhos em Anon e Pohn... Acabei perdendo a oportunidade de ver você crescer, o nascimento de sua irmã. E o principal... Perdi dez anos da vida com deles.

- Mas vocês voltaram a se falar antes da morte deles?

- A foto que você viu foi tirada quando eles foram me visitar em Belo Horizonte, eu estava me recuperando de um câncer, ao saber disso através de César, eles foram me visitar, e na volta...

- Sofreram o acidente. – completei.

Fahlada segurava minhas mãos como se quisesse dividir comigo a dor de relembrar a morte de meus pais e o senhor continuou emocionado.

- Durante todos esses anos me senti culpado pela morte deles, se eles não tivessem viajado para me ver não teriam sofrido o acidente, tentei acompanhar a vida de vocês, César sempre me manteve informado, até sua aprovação na residência, depois disso, minha Berenice adoeceu e me dediquei inteiramente a ela até o fim de seus dias.

- Foi um acidente, o senhor não teve culpa de nada.

- Foi um dia tão feliz. Eu iria no final de semana conhecer sua irmã e rever você. Contaram sobre as pesquisas que estavam desenvolvendo, eu explodia de orgulho deles.

Porque eu Sei que é AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora