16 - Dando a volta por cima em Fahlada.

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A semana começava com uma reunião do grupo de pesquisa, o final de semana me fez um bem enorme, cheguei com ótimo humor, estava segura, e disposta a mudar de atitude no projeto, antes de subir para a reunião marcada para as nove da manhã, passei no quarto dos pacientes que estávamos acompanhando a fim de me atualizar acerca da evolução clínica, já que fazia dois dias que não os via.

Na reunião, Fahlada começou provocando como sempre.

- Baixinha, já providenciou café e água?

- Acho que o Lucas pode pedir à Dona Josefa da cantina para trazer, não pode Lucas?

- Eu? Mas... É posso sim – falou meio sem graça.

Fahlada estranhou, mas não contestou, sentei junto à mesa, colocando sobre ela meu notebook e algumas anotações numa prancheta. Aline, uma biomédica, começou a explanar resultados dos exames dos pacientes que tratamos, com algumas interrupções de Fahlada, que não hesitou em ordenar de novo.

- Baixinha, anota pra mim o que nós vamos fazer.

- A letra da Carla é bem mais organizada, doutora Fahlada, você pode anotar Carla?

- Posso, claro.

Fahlada parecia intrigada com minha postura, ninguém ousou questionar minhas sugestões porque estavam todos visivelmente sem graça. A discussão dos casos continuou e, seguramente, dei opiniões, sugeri procedimentos, respondi todas as perguntas que Fahlada nos fez.

- Parece que tem gente que andou estudando.

Ignorei a observação dela, continuei a discussão trazendo os dados atualizados da evolução clínica dos pacientes, comparando-os aos pacientes com quadros semelhantes na pesquisa de Fahlada em Seattle. Ela parecia bestificada, olhava para mim com os olhos brilhando, não soube decifrar se era de raiva ou admiração. Deixei que Fahlada concluísse a avaliação de nossas atividades, até que ela me perguntou.

- Baixinha, você pode ficar aqui até a noite hoje? Sei que pelo cronograma você está de folga hoje, mas, gostaria que você detalhasse suas comparações. Pode ser?

- Sim, posso sem problema, Dra. Fahlada. A propósito, sou baixinha com orgulho, mas meu nome é KornKamon.

Saí da sala deixando todos sem ação. Fahlada me alcançou no corredor e pediu que a acompanhasse até seu consultório. Respondi positivamente com a cabeça e a segui.

- Sente-se Bai... KornKamon. Você não me surpreendeu hoje, pelo contrário, você até demorou a tomar uma atitude...

- Como assim? – fiz cara de interrogação.

- KornKamon, como você sabe, escolhi minha própria equipe, e li com atenção seus artigos, inclusive os da sua época de faculdade, seu desempenho na residência, conversei por telefone com seus preceptores, professores, os que orientavam seu projeto de pesquisa da faculdade. Você não está à toa no meu grupo...
Sei de sua competência.

- Mas por que você me tratava como sua secretária sabendo da minha capacidade?

- KornKamon, você estava apagada, intimidada, eu precisava te provocar pra que você ficasse motivada a me provar algo... Mas você não precisa me provar nada, precisa confiar em você, na sua capacidade. Se destacar, e isso sei que você pode.

Sorri incrédula, mudei de assunto e começamos a falar sobre os casos clínicos. Notei que o olhar de Fahlada mudou, não era mais frio e distante a mim, olhava-me com atenção, sem dizer muita coisa, o máximo que fazia era concordar, ou fazer perguntas. Perdemos a hora ali, até alguém bater a porta.

- Dra Fahlada, peço seu almoço? Já passa das 14h e a senhora não saiu pra almoçar, devo pedir o de sempre?

Afinal, ela tinha uma secretária, uma senhora de seus 50 anos, baixinha e franzina, que parecia cuidar bem dos horários de Fahlada.

Porque eu Sei que é AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora