Capítulo 15 - A Benfeitora

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A ONG nunca esteve tão agitada. Cheguei às cinco da manhã e já tinha uma equipe grande fora os terceirizados. Tudo estava sendo colocado em nossas vans para serem direcionados ao Parque Lumpini. Era lá que aconteceria a homenagem a ilustre benfeitora e de lá viríamos com as crianças para que ela conhecesse o nosso prédio.

Sonya Chanya era a Administradora da ONG australiana Child Education. Foi P'Sonya quem me recrutou na Austrália e trouxe-me para a Tailândia. Eu era a única brasileira da equipe formada por australianos, em sua maioria, dois americanos, uma italiana e dois franceses. Fora os terceirizados locais.

P'Sonya era exigente, elegante, mas muito meticulosa em detalhes. A ONG recebia doações do mundo todo. No entanto, a única colaboradora que era venerada por ela e toda a equipe de gestores era essa brasileira.

A chegada da Benfeitora ao país, para visitar os trabalhos, conhecer a rotina com as crianças e receber esta homenagem pública era muito aguardada. Segundo nossa ADM, ela foi a primeira benfeitora da ONG e nunca deixou de ajudar desde então. Era mantenedora fiel e seria tratada com muita honra por toda equipe. P'Sonya havia deixado claro. Quaisquer deslizes neste evento resultariam em demissões.

As crianças estavam felizes também, pois recebiam cartinhas desta ofertante todos os anos no dia 14 de janeiro, conhecido como dia das crianças nacionais de Tailândia, o DEK macilento. Aqui, a comemoração era uma oportunidade de criar consciência sobre o papel das crianças no desenvolvimento do país. Isto é, não era somente um dia de brincadeiras... Era dia de responsabilidade infantil! Cultura diferente. Nem imagino essa ideia no Brasil. Os defensores de crianças ficariam enlouquecidos.

Apesar de não ser da equipe de recepção, eu era da equipe de saúde por cuidar da saúde bucal dos pequenos... Como brasileira, eu fui designada a receber esta benfeitora. Já que falávamos a mesma língua! Assim, eu poderia traduzir para o Inglês e o Tailandês para toda equipe, o que gostaria de expressar e informar tudo que fosse necessário.

Já faz três anos que eu moro em Bangkok. Apesar da língua tailandesa ser um pouco difícil aos estrangeiros, com esforço, eu aprendi. Já me comunico muito bem. Recorro ao inglês em um contexto ou outro, poucas vezes.

...

O Parque Lumpini é um "Central Park Tailandês". Bom para um passeio relaxante em meio a barulhenta e agitada Bangkok. Nossa preocupação foi de montar todo nosso aparato e equipamentos em um lugar seguro para as crianças e nossas convidadas.

Vez ou outra era preciso olhar bem onde pisávamos, pois tartarugas andam por aqui como se estivessem passeando no quintal. Pior, que era o quintal delas mesmo! Por haver muitos lagos, a presença de lagartos gigantes era inevitável. Eles não atacam, mas é sempre bom tomar cuidado. Os lagos são cheios de vida, muitos peixes e o único barulho ensurdecedor são dos pássaros exóticos que cantam, gritam e voam por nossas cabeças em seus ninhos nas árvores.

Havia vários vendedores de comida de rua na entrada do parque, mas preferimos trazer tudo da ONG para evitar problemas gastronômicos em nossa convidada e suas acompanhantes.

Não demorou eu tomar um susto enquanto preparava o carrinho que as traria ao palanque montado. Dois esquilos pularam próximo a mim. A vida animal é muito presente na Tailândia, de esquilos a lagartos, de aranhas a pássaros, de borboletas a pernilongos indesejáveis.

Eu sempre corria no parque a noite e sempre via jovens e velhos se reunindo para praticar "Tai chi". Um dia ainda vou parar para praticar também. Na verdade, eu gostava mais do parque para fugir do calor. A Tailândia parece uma frigideira com fogo ligado.

Aliás, não entendi porque escolheram o parque para esta cerimônia, já que seria muito mais viável e confortável receber nossa benfeitora na própria ONG. Enfim... A hora se aproximava e recebi mensagem da equipe que fora buscá-las no hotel de que estavam chegando. Levei o carrinho até a entrada do parque e as aguardei. Não demorou e outro carrinho chegou. Era P'Sonya, que a receberia formalmente em nome da ONG antes de as levarmos à cerimônia.

Como amar uma garota? - FayeYokoOnde histórias criam vida. Descubra agora