A segunda-feira chegou com muitos fogos e barulho de helicóptero. Acordei às cinco da manhã com rasantes de hélices bem próximas. O som de tiros de metralhadora e de fuzis era ouvido ao longe. Uma operação policial acontecia no Morro do Salgueiro.
Levantei assustada. Olhei pela cortina do quarto no exato momento que o helicóptero passava baixinho.
- Putz! - caí no chão.
Já tinha esquecido como era quando a polícia resolvia subir uma comunidade.
Minha mãe abriu a porta do meu quarto e me viu no chão.
- Yoko! Você foi atingida? - Minha mãe achou que eu tinha sido atingida por uma bala perdida só porque eu estava no chão
Marissa entrou correndo no quarto.
- Vocês estão bem? Yoko! - Ela me ajudou a levantar e como minha mãe, ela me apalpou procurando ferimento e sangue.
- Calma, gente. Eu só tropecei no tapete e caí. Acordei assustada com este helicóptero.
- Venham, vamos para cozinha. É o local mais seguro do seu apartamento. Não é bom ficar próximo às janelas. - Marissa falou levando minha mãe e eu pelo braço.
A operação durou até às oito da manhã. Nisso, Marissa e eu perdemos dois primeiros tempos de aula. No meu caso, eu não perdi, porque Faye não tinha aparecido ainda.
Mais tarde soubemos que o carro dela havia ficado preso próximo à Praça Saens Pena no momento da operação. Ela chegou esbaforida na aula. Desculpou-se explicando a situação. Dois alunos entraram atrasados também pelo mesmo motivo.
Olhamo-nos de longe, mas na Faculdade, nós nos tratávamos como professora e aluna.
- Bem, pessoal. Hoje faremos a aula prática que expliquei no meu primeiro dia. Vamos ao Abrigo de Idosos do Bem. Eles já nos aguardam desde cedo. Como tivemos este imprevisto. Pedi ao professor dos últimos tempos que nos liberasse o horário e na semana que vem liberarei o meu para ele.
- A UVA já providenciou um ônibus para nos levar. Está estacionado aqui próximo. Lá no Abrigo, vocês aplicarão flúor, farão limpeza das dentaduras, avaliarão possíveis próteses e verão, se houver necessidade de extração, um encaminhamento para uma Clínica da Família do Sistema SUS.
- Vamos? - Disse sorrindo.
Faye saiu primeiro guiando a turma. Todos estavam animados.
Na entrada do ônibus dava um papel com o número da poltrona em que devíamos sentar. A auxiliar dela entregava um kit lanche e um folder que falava sobre o Abrigo e como era o funcionamento e possíveis doações.
Na minha vez, ela entregou o papel rapidamente e passou para o próximo aluno sem falar comigo. Peguei o kit lanche e me dirigi para a poltrona 44. A última do ônibus. Aff! Perto do banheiro. Pelo que vi no Maps levaria quase duas horas até chegarmos em Pedra de Guaratiba, onde estava o Abrigo.
Sentei e coloquei meu fone de ouvido. Fiquei olhando pela janela enquanto os demais alunos iam entrando e sentando. Quando todos entraram, eu achei estranho ninguém sentar ao meu lado. No entanto, eu fiquei de boa. Era mais espaço para mim. Vesti o blazer que eu sempre carregava comigo. O ar condicionado estava começando a ficar forte. O motorista ligou o motor e saiu devagar.
Enquanto eu olhava pela janela, senti alguém sentar na poltrona ao lado. Quando me virei, era ela.
- Oi. - Ela disse com aquele olhar pequenino que só ela conseguia dar.
- A senhora não deveria sentar lá na frente? - Falei formalmente.
- Minha auxiliar está lá. Prefiro sentar atrás. A companhia é melhor.
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Como amar uma Garota? - FayeYoko
FanfictionYoko retornou ao Brasil após três anos de intercâmbio. A readaptação ao país, o convívio com a mãe, a presença de uma funcionária inesperada e a descoberta de um amor 'impróprio' por sua nova professora. Muitas emoções aguardam essas personagens.