Nossa mente é feita para imaginar, mas nunca imaginei encontrá-la novamente. Jamais pensei que pudéssemos respirar o mesmo ar de novo. Claro que nos primeiros anos entre muitas lágrimas e pesadelos horrorosos, eu imaginava rever Faye. Imaginei diferentes cenários. Avaliei os riscos, deduzi o que faríamos em determinada situação, pensei em como me comportaria, mas jamais... Jamais imaginei que pudesse realmente acontecer este reencontro.
A mulher que despedaçou meu coração estava ali com sua calça azul larga e blusa preta. Os inseparáveis óculos escuros presos acima da cabeça, o relógio no braço e os anéis nos dedos. A única diferença era o cabelo. Continuava lindo, mas estava pintado de vermelho. O que a deixou ainda mais gostosa. A boca num batom que me chamava em tão poucos segundos de visualização. Fora aqueles olhos penetrantes que se fixavam nos meus como imã.
Não parecia nervosa, mas estava irada, tenho certeza. Ver um homem comigo, ainda mais um que abriu a porta de toalha e nós dois saindo de um banho em seguida... A cabeça dela devia estar fervilhando. Quer saber? Bem-feito! Tivesse cuidado melhor de mim. Não devo explicação alguma!
Só que ao vê-la ali, quase implorando para conversar comigo me trouxe dores que eu não queria sentir. Precisamos deixar a dor nos atravessar, pois somente assim não causará estragos maiores em lembranças. Foi o que deixei acontecer nos primeiros dois anos na Austrália. Não era para eu estar sentindo nada agora, mas meu peito vez ou outra dava pontadas dolorosas só pela presença dela na minha frente. Faye trouxe tudo de volta como se tivesse sido ontem.
Quando decidi sair do Brasil e fui para Austrália, eu sabia que poderiam me achar. Seria fácil! Por isso, eu sempre enviava currículos para ONGs internacionais baseadas em outros países. Foi quando recebi a proposta de vir para Tailândia e não deixei meu paradeiro a ninguém no Brasil. Imaginei que jamais veria pessoas conhecidas novamente. A cena de tê-la ali, bem na minha frente, dentro do meu apartamento trouxe uma força que jamais imaginei que pudesse ter.
Pedi a Bryan que nos deixasse a sós. O dia da conversa cruel pós-término havia chegado. Tem feridas que só cicatrizam quando são bem esfoliadas, senão cascas insistem em crescer e causar dor. Era hora de pôr um fim a esta situação. Era necessário debridar a ferida.
Bryan não ficou satisfeito e me olhou com raiva. Entretanto, ficou nítido que queria demarcar território e fez questão de me beijar na frente dela. Mesmo sem graça, eu correspondi. Me abraçou com força e saiu.
Quando a porta se fechou, eu sentei no sofá em frente ao que ela estava. Nós nos olhamos por alguns segundos até que o silêncio foi quebrado.
- Fale o que veio fazer aqui e vá embora, por favor. – Disse friamente.
- Vim buscar você para jantar conosco. Não leu o cartão que minha mãe deixou em seu colete?
Lembrei que D. Lucia havia posto algo em meu bolso. Levantei e fui ao cesto de roupas do banheiro. Voltei com o colete em mãos vasculhando os bolsos. Ela me observava enquanto lia o cartão de costas para ela, pegando copos na cozinha.
"Aguardamos você para jantar no El Toro Steakhouse (The House of Meat) às 20 H. Não me deixe esperando! Sou uma senhora de 68 anos. Preciso me alimentar no horário. Não aceito "não" como resposta. Ass. Sogra!".
Eu sorri sem deixar transparecer para Faye, já que eu estava de costas. Ler este bilhete foi engraçado. Quando me virei para falar, Malisorn estava atrás de mim.
- Você vem comigo, não vem? Deixei um dos copos cair, mas a engraçadinha pegou no ar antes que espatifasse. Estávamos próximas demais! Aquele perfume doentio que insistia em me desiquilibrar... Não me deixava respirar direito.
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Como amar uma Garota? - FayeYoko
FanfictionYoko retornou ao Brasil após três anos de intercâmbio. A readaptação ao país, o convívio com a mãe, a presença de uma funcionária inesperada e a descoberta de um amor 'impróprio' por sua nova professora. Muitas emoções aguardam essas personagens.