Capítulo 14 - O Desespero.

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POV: Faye

Desespero foi o que senti.

Ouvir as palavras de Bianca em seu leito de dor me levaram a momentos difíceis de meu passado. Bianca e o esposo tinham sido essenciais em meu processo de recuperação após a morte de Jeff. Como eu poderia trair tudo que fizeram por mim? No entanto, como eu conseguiria virar as costas para a única pessoa que me tirou do lamaçal da depressão, que salvou minha vida no dia em que eu tinha decidido tirá-la, que havia arrebatado meu coração de volta a momentos de alegria, prazer e contentamento? Como eu poderia magoar minha "fedelha"? Como?

Fui me afastando de Bianca, já que virara as costas para mim.

Quando abri a porta do quarto para sair, a voz de Bianca ecoou: "Você me deve, Mali!"... "Afaste-se de Yoko!".

Não consegui olhar para trás. Sai e desci para lanchonete. Mil situações se passaram em minha cabeça. Não conseguia elaborar nada que pudesse me fazer ferir a única pessoa que eu queria ao meu lado para toda a vida.

Ao chegar na porta da lanchonete, a observei alguns instantes pelo vidro. Estava linda, mesmo com os olhos inchados de chorar. Estava perfeita! Aquela "fedelha" vai me fazer falta, mas preciso honrar o que os Aspara fizeram por mim. Ela é nova. Ela vai encontrar alguém. Eu conseguirei esquecê-la. Vou focar no trabalho. É isso! Vou falar que é por causa do trabalho. Vai funcionar.

Entrei cheia de firmeza, mas minhas pernas bambeavam. Sentei à mesa e antes de abrir a boca, as palavras de Bianca vieram à minha mente:

[Por favor! Se afaste dela.]

[Termine isso! Se afaste.]

A minha cabeça queimava... E falei:

- Yoko, você precisa de tempo para cuidar de sua mãe e eu preciso viajar novamente. Acho melhor nos darmos uma parada por aqui.

- O quê? – Ela já se agitou. – O que você quer dizer com isso? Está me dispensando? Faye, eu preciso de você mais que nunca! Por que essa conversa agora?

- Yoko, eu não tenho certeza se quero levar isso adiante e sua mãe precisa...

- PARA DE FALAR NA MINHA MÃE. Isso é sobre nós.

- ACABOU! – Eu gritei sem pensar. - Eu queria dizer de uma forma mais leve, mas você está dificultando as coisas. Acabou "fedelha". Eu não sirvo para te fazer companhia aqui. Eu detesto hospital, eu tenho minha mãe também, meu trabalho... Você é uma aluna! Foi bom o que vivemos, mas aproveite para viver com sua mãe os últimos momentos dela. Você vai se arrepender se insistir em se segurar a mim. – Despejei este monte de mentiras em segundos. Levantei e beijei a testa dela numa tentativa inútil de mudar de ideia, mas sai da lanchonete e chorei bastante.

...

Fui despertada com o telefonema de Marissa informando a morte de Bianca. Levantei correndo e pus uma roupa mais rápido do que jamais imaginei, peguei as chaves do carro e já ia saindo de casa para confortar a "Fedelha", aí lembrei: - Nós terminamos! Eu terminei com ela. - Pus as mãos na cabeça. Sentei no sofá e desabei chorar. Eu queria segurar as mãos dela, eu queria abraçá-la naquela hora... Eu queria estar lá.

Liguei para Marissa e pedi que me mantivesse informada sobre o enterro. Contei-lhe a situação com Yoko. Como nunca antes, senti que ela desaprovava minha atitude e defendeu Yoko com palavras duras ao telefone. Mais tarde, Marissa ligou novamente deixando as instruções de horário do funeral no Jardim da Saudade, que seria na tarde seguinte.

Aquela tarde fria de terça-feira devia estar uns 17 graus e o vento soprava gelado. Havia muitas pessoas no funeral. Reconheci muitos oficiais da Aeronáutica e lá estava ela, toda de preto, encolhida numa cadeira ao lado de Marissa e Lucas. Que visão terrível! Não consegui me aproximar. Fiquei entre árvores, um pouco distante, com um buquê de rosas em mãos para depositar na lápide.

Como amar uma Garota? - FayeYokoOnde histórias criam vida. Descubra agora