06. O mundo aqui dentro.

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Roberto Nascimento
Rio de Janeiro 17:30

Após Rafael me chamar, me dispeço de Cecília ainda com seu perfume pairando sobre mim. É impressionante como tudo nela me encantava, eu não achei que depois de tanto tempo sozinho eu me interessaria por alguém. Ainda mais agora, mais velho.

Chego até a sala de Júnior, entro encostando a porta atrás de mim e me sento ao lado de Rafael.

— Demorou pai... - Rafael resmunga com os braços cruzados.

— Tava resolvendo umas coisas do batalhão Rafa. - falo rápido desviando logo o assunto — Eai, tudo certo então Doutor? - pergunto cruzando meus braços me virando para Júnior.

Júnior ri com a cena balançando a cabeça, vendo eu e Rafa na mesma posição.

— Sim Roberto, já expliquei para o Rafael e já deixei os dias certos para ele vir! A Enfermeria Cecília irá cuidar dos ferimentos até melhorar. - assim que Júnior termina de falar vejo um sorriso se formando em meu rosto e ao olhar para o lado vejo o mesmo sorriso em Rafael.

— Opa aí sim! - Rafa pontua com um sorriso travesso.

— Que isso Rafael, respeita a moça! - olho com repressão para ele.

Rafael sendo adolescente, me esqueço de como os hormônios ficam e de como esses meninos de hoje em dia tem o pensamento bem avançado. Logo corto as asinhas dele.

Júnior ri denovo; e se levanta nos acompanhando até a porta.

— Obrigada denovo Doutor! - damos um aperto de mão seguido de abraço curto.

— Te ligo para marcarmos o jantar Roberto! Foi um prazer te ver velho amigo! - ele reforça o abraço.

Assenti com a cabeça e eu e Rafael saímos de lá. Eu e Rafa vamos direto ao carro; após alguns minutos andando paramos em um restaurante próximo a casa de Rosane, que também era próximo de um campinho de futebol que íamos quando ele ainda tinha seus 5 anos e me ainda obedecia; bons tempos.

Sentamos em uma mesa próxima a entrada, onde o ar batia leve nos refrescando; enquando Rafael decide o que comer eu pego meu celular para enviar mensagem a Cecília.

Confesso que desde que saí da sala de Júnior minha ansiedade para mandar um oi a ela me fazia parece um garotão de 20 anos. Efeitos que a Cecília em tão pouco tempo conseguiu causar em mim.

Quando digito a primeira palavra Rafael me chama.

— Pai.. - seu tom de voz era baixo quase como se fosse sussurrar um crime; e seu olhar era tímido. 

— Que foi Rafa? Porque tá falando baixo assim? - abaixo o celular e o coloco sobre a mesa dando atenção ao momento.

— Mamãe...te contou que...ela tá grávida? . - ele passa a mão pela nuca; como se tivesse revelado um segredo.

Aquilo me deixou muito supreso, nunca mais me meti na vida de Rosane após o casamento com fraga. Mais de certa forma aquilo me mostrava que a vida tinha seguido; para todos ao meu redor. E para mim parecia que não. Eu ainda estava preso ao BOPE, uma relação balançada com meu próprio filho e nunca mais deixei ninguém entrar na minha vida.

Me lembro de como eu fazia planos com Rosane de um irmão a Rafael, de uma casa nova em um lugar verde e arejado. Da minha aposentadoria, e dar a eles o que não consegui dar em todos aqueles anos.

Eu sentia falta, não dela. Eu fiquei muito feliz por ela ter seguido a vida dela e estar realizando o sonho de ser mãe denovo, ela merecia toda aquela felicidade; e apesar das minhas diferenças com o fraga ele era um homem bom para ela.

Por que não eu ? | CAPITÃO NASCIMENTO Onde histórias criam vida. Descubra agora