7 - Ashes

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"Eu me levanto das cinzas e vou queimar seu império."

Ashes ~ Céline Dion

Ashes ~ Céline Dion

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Luna Águila

Os fragmentos de um pesadelo recorrente ainda se agarravam à minha mente quando um estrondo ensurdecedor irrompeu o silêncio da manhã. O som da explosão, abrupto e cruel, reverberou nas paredes. Ainda grogue de sono, imersa na inconsciência, fui arrancada para a realidade.

Meu coração, antes calmo, foi lançado em um frenesi desordenado ao sentir o estrondo. Me ergui da cama em um sobressalto, o pulso da adrenalina pulsando através de minhas veias. O quebra-cabeça de sonhos se desfez, substituído pela urgência.

A fumaça já infiltrava meu quarto quando me dei conta. Fogo. Não, não, não. Pânico tomou conta de mim, e eu pensei ainda estar dormindo, presa em um sonho muito real. Cada respiração era um desafio, o odor acre e penetrante da fumaça já preenchendo todo o ar. Peguei meu celular e saí do quarto correndo indo em direção a sala de segurança onde ficava o botão de incêndio que liberaria água pela casa, e mandaria um aviso aos meus amigos, e o acionei, água começando a jorrar do teto me ensopando e o som estridente do alarme, que deveria ter soado ao primeiro sinal de fumaça. Mas, não soou. Ao descer as escadas, os passos reverberaram junto com os estalidos sinistros do fogo que consumia vorazmente o andar de baixo, e o chiado da água encontrando as chamas. O medo de ver aquelas chamas novamente me consumindo quase travando meus passos, mas o ignorei e desci.

O patamar inferior estava imerso no caos. As chamas rugiam, dançando com uma voracidade predatória. Corri para a cozinha pegando um pano sobre o balcão e o molhando na pia. Pressionei o tecido molhado contra o rosto, uma barreira fútil contra o hálito venenoso do incêndio. Entre destroços carbonizados, vislumbrei o que um dia foi a sala de estar, agora transformada em um inferno em chamas. Não sabia o que me impedia de respirar direito, a fumaça ou o pânico das memórias desencadeadas. Eu precisava me acalmar!

Meu treinamento, que deveria ser uma fonte de confiança, agora era um eco distante na minha mente. Minha preocupação sobre o que teria causado a explosão fundia-se com o terror iminente. Cada estalo do fogo soava como uma risada sádica do meu passado. A água jorrando do teto não adiantando muito.

Onde caralhos estavam os seguranças?!

Meu celular, em um tom agora estranhamente assustador, cortou o ar sufocado.

Luna! O que está acontecendo? O alarme de incêndio foi acionado! — A voz de Antônio, antes um ancoradouro, tornou-se uma nota dissonante em meio à sinfonia do terror.

— Minha casa tá pegando fogo! — Minha voz antes confiante, carregava agora apreensão, como se meu medo pudesse escapar a qualquer momento. Joguei meu celular para longe.

O calor pulsava ao meu redor, uma presença opressiva que se misturava com o zumbido inquietante da destruição. Eu persistia, meu corpo se movendo ao redor das chamas com a dança caótica do fogo.

As labaredas, como criaturas insaciáveis, se retorciam em um espetáculo de destruição. Entre os estalidos e rachaduras do ambiente em colapso, senti a persistência do medo sussurrando em meu ouvido, uma ameaça implacável, me lembrando da dor das queimaduras. Não pode acontecer de novo, não, não, não! Precisava sair dali, mas parecia que algo me prendia no lugar. Estava anestesiada, com pânico, mas anestesiada.

De repente, escuto um som estridente, elevando-se acima dos tumultos do incêndio. Me viro rapidamente, vendo uma parte do teto cedendo, lançando destroços ardentes diretamente para mim. Um lampejo de pânico me atravessou, mas antes que pudesse reagir, a estrutura comprometida desabou com um estrondo.

Me lancei para trás, escapando por pouco do abraço mortal do colapso. O calor agudo e a poeira impregnavam o ar. O que antes era um refúgio, agora tornava-se uma armadilha instável. Como se algo afiado tivesse estourado minha bola, me levantei rapidamente olhando ao redor. O caminho para a parte de trás da casa, onde fica a saída dos fundos estava engolida pelas chamas que se alastraram pelo corredor, mas por algum milagre, ainda poderia sair pela saída principal que tinha pouco, mas espaço suficiente, então corri em sua direção.

Quanto mais me aproximava da saída, mais parecia distante, coberta por escombros era como minha sala estava. O exterior, por mais cruel que fosse, prometia um respiro de ar fresco.

A explosão deixou cicatrizes visíveis em minha casa e em minha mente. O medo, agora uma sombra persistente, permaneceria gravado como um eco constante, uma lembrança viva da fragilidade que permeava minha existência.

A visão do caos expandiu-se além das chamas retorcidas e dos destroços carbonizados. Quando finalmente emergi da casa em ruínas, fui recebida por uma cena de horror ainda mais devastadora. Meus seguranças, uma vez imponentes ao redor de minha casa, agora estavam caídos, seus corpos inertes marcados por tiros.

O gosto metálico da amargura infiltrou-se em meus lábios enquanto absorvia a extensão do massacre. A poeira flutuava no ar, dançando em um balé mórbido sobre o campo de batalha que antes era minha casa. Meus olhos varreram os rostos familiares agora silenciosos, testemunhas mudas da brutalidade que havia se desenrolado.

As paredes rangiam, protestando contra o fogo que as consumia. Eu senti o sabor amargo do ódio na boca quando olhei ao redor, e vi gravado na porta da frente de minha casa em chamas, uma estrela de seis pontas.

Mordi com força meu lábio inferior, sentindo o gosto metálico do sangue. Haviam lançado sua ofensiva, deixando um rastro de destruição em seu caminho. Aquela filha da puta. Sua mensagem não podia ter sido mais clara. A comprovação de que ela acha que ataquei sua máfia. Meus olhos ardiam mais. Impotente, estava mergulhada na amarga realidade de que Lexia havia atacado onde mais doía. Rasgado mais ainda a ferida. Malditos.

Não foi uma tentativa de me matar, foi só um aviso. Um presságio.

Eu vou queimar Sicília inteira se preciso, mas não vai sobrar nem sombra de Lexia para contar a história.

Meus olhos ardiam, com lágrimas de ódio teimando em cair. Observei o cenário desolador, e eu podia imaginar a voz de Lexia na minha cabeça como um fantasma do passado. "Você foi avisada, Luna." As palavras sussurraram no ar, e a decepção, uma decepção irracional, mais penetrante do que nunca, reverberou na própria essência da tragédia que era minha vida.

Set me on fire | Romance LésbicoOnde histórias criam vida. Descubra agora