6 - Ligações

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" Você se foi, e eu tenho que ficar chapada o tempo todo
Para te manter fora da minha mente"

Habits (Stay High) - Tove Lo

Luna Águila

Tomei um banho demorado na banheira, o calor da água aliviando, temporariamente, a tensão que fervia sob minha pele

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Tomei um banho demorado na banheira, o calor da água aliviando, temporariamente, a tensão que fervia sob minha pele. Fiquei ali por uma hora, até que a água esfriasse e se tornasse desconfortável. Finalmente, saí e vesti uma blusa de gola alta e mangas cumpridas, e um short curto, sem me importar com o vento noturno que entrava pelas janelas da mansão. Acendi um beck e fui para a sala, onde o silêncio era quebrado apenas pelo farfalhar das folhas lá fora. A noite era densa, quase sufocante, quando ouvi o som de passos ecoando pelo corredor. Antônio e Jennie haviam chegado.

Jennie tinha voado da Rússia assim que atualizei os dois sobre o meu encontro com Lexia. A tensão na sala era quase palpável, como se o ar estivesse saturado de desconfiança e expectativa. Quando abri a porta, o olhar de Jennie, afiado e cansado, encontrou o meu. Ela sempre foi prática, mas o cansaço da viagem e as incertezas no ar a faziam parecer ainda mais tensa. Antônio, por outro lado, mantinha a calma, mas seus olhos atentos revelavam que ele estava tão ansioso quanto nós.

Sentados no sofá, os dois fingiam paciência, mas eu conseguia sentir o nervosismo nas sutis batidas dos pés de Jennie contra o chão e nos dedos inquietos de Antônio tamborilando no braço da poltrona. Eu tragava o beck, deixando a fumaça lenta escapar pelos lábios, tentando me acalmar. Mas a verdade é que, por dentro, eu também estava em frangalhos. Lexia não era qualquer um, infelizmente. Ela era a Don da porra da Innocenti. Uma mulher que fez da incerteza e do caos as suas armas mais afiadas. E agora, ela acreditava que eu tinha assassinado seus conselheiros.

— Lua — Jennie finalmente quebrou o silêncio, com sua voz grave. — Estamos lhe dando tempo, mas acho que você poderia adiantar e nos dizer o que aconteceu de fato? — Seus olhos castanhos estavam fixos nos meus, tão sérios quanto os de um juiz prestes a proferir uma sentença. Antônio apenas assentiu, esperando.

Suspirei, buscando as palavras certas enquanto a memória do encontro me atingia com força. Cada segundo naquele stand de tiro parecia agora um pesadelo lúcido.

— Encontrei com Lexia no stand de tiro. — As palavras saíram com um peso que eu não conseguia esconder. Vi Jennie se endireitar na cadeira, como se seu corpo todo estivesse em alerta. Antônio franziu o cenho, mas permaneceu em silêncio.

— Na verdade, ela foi até mim — continuei. — Me ameaçou. Pelo o que me disse hoje, entre linhas, e o que você e Coco me disseram no galpão — mirei Antônio — ela está realmente convencida de que fui eu quem matou aqueles filhos da puta da Innocenti.

Traguei fundo, sentindo o alívio temporário que a fumaça trazia ao descer queimando pela garganta. Mas mesmo isso não conseguia dissipar a sensação de que cada passo que eu dava estava sendo observado de perto por ela. Cada palavra que Lexia sussurrou naquele stand agora fazia sentido, e essa clareza me enchia de um frio incômodo.

— Falem algo — resmunguei, impaciente com o silêncio.

— Não foi você, foi? — A pergunta de Jennie foi como uma lâmina cortando o ar, afiada e direta. O choque dela era palpável.

Aquela pergunta me irritou. Sério isso?

— Claro que não!

— Desculpa — ela levantou as mãos em sinal de rendição, mas a franqueza continuou em sua voz. — Mas, você tem motivos. Eu não seria contra, nunca. Inclusive ajudaria.

Antônio revirou os olhos, claramente exasperado.

— Vamos focar no ponto principal — interrompeu, inclinando-se para a frente, os cotovelos apoiados nos joelhos enquanto me encarava. — Precisamos provar que você não tem nada a ver com isso. Reunir seus álibis para os horários dos assassinatos, verificar câmeras de segurança e encontrar qualquer pista que nos leve ao verdadeiro responsável. Porque, se fosse uma retaliação nossa por tudo o que ocorreu antes, isso é uma coisa, e se fosse por ordens de seu pai para atacar os Innocenti, mas não é essa a situação. Não fizemos nada. Durante todos esses anos seu pai não deu uma única ordem de ataque.

O que é estranho, por sinal.

Por um breve momento, senti um vislumbre de alívio. Antônio sempre foi o estrategista, e vê-lo traçando um caminho me deu uma sensação de controle mínimo.

— Mas as câmeras de segurança estão no território Innocenti — retrucou Jennie, alternando o olhar entre nós. — Conseguimos acesso a elas?

Sorri de lado, sentindo uma fagulha de desafio acender em mim.

— Eu consigo. — Dei de ombros, despreocupada. — Ou Coco. É fácil.

— Vou mandar uma mensagem para Coco agora — Jennie já estava com o celular em mãos, digitando rapidamente.

Mas Antônio não deixou a questão morrer tão rápido. Ele me olhou com seriedade, quase apreensão.

— Outro ponto — começou ele, hesitante. — Quem está tentando te incriminar? Porque claramente alguém está.

Essa era a pergunta que vinha ecoando em minha mente, e eu não tinha uma resposta clara.

— Não faço a menor ideia — admiti, frustrada.

— Cosa Nostra? Bratva? — Jennie começou a ponderar, soltando o celular ao terminar de enviar a mensagem. — A Cosa Nostra sempre nos odiou. Isso iniciaria uma guerra entre Águila e Innocenti, o que tornaria muito mais fácil nos derrubar quando estivermos...

— Enfraquecidos — completou Antônio, pensativo.

— Exato — continuou Jennie, jogando os cabelos loiros para trás com um gesto elegante, mas impaciente. — E os russos estão furiosos com os ataques que lançamos contra eles nos últimos meses.

Revirei os olhos, jogando a cabeça para trás, cansada dessa dança de suposições e teorias.

— Lua — A voz firme de Antônio me chamou de volta. — Vai dar certo. — O olhar determinado dele me deu uma centelha de esperança. Assenti, quase acreditando nisso.

— Não vamos envolver meu pai nisso, entendido? Não será possível por um tempo, mas o fato do meu encontro com Lexia tem que ficar entre nós — Minha voz saiu mais dura do que eu pretendia, mas era preciso. Ambos concordaram sem hesitar. Eu precisava mantê-lo fora disso. — Ótimo.

Fechei os olhos, tragando mais uma vez, sentindo a fumaça acalmar os nervos tensos. Passei a mão pelo braço, sentindo as cicatrizes sob o tecido da blusa, enquanto uma sensação desconfortável arrepiava minha pele. Algo estava errado. Algo além de Lexia, além dos ataques. Era como se uma sombra pairasse sobre tudo, mas eu não conseguia identificar o que era.

— Luna. — Jennie me trouxe de volta à realidade. — Seu celular. — Ela apontou para o aparelho ao meu lado. — Está tocando.

Peguei o celular, vendo o nome “Liz” piscando na tela. Nem tinha percebido que estava tocando. Me afastei da sala, indo até a cozinha para atender.

— Alô. — Atendi com a voz mais calma possível, embora soubesse que a tensão ainda se agarrava a mim. — Já disse que não pode me ligar tantas vezes assim, querida.

Desculpa. — A voz do outro lado era infantil e chorosa. Meu peito apertou instantaneamente.

— Me diga, o que houve? — Perguntei, apoiando-me no balcão, enquanto ouvia o relato dela, tentando afastar a preocupação crescente. Algo estava muito errado.

Set me on fire | Romance LésbicoOnde histórias criam vida. Descubra agora