"Esqueça como se sente
A vida se vai com apenas um giro da roleta
Arma-te, pois ninguém mais aqui irá te salvar
As chances te trairão
E eu vou te substituir"You know my name - Chris Cornell
Lexia Innocenti
O clima no escritório estava carregado, uma tensão fodida que quase podia ser tocada. O aroma amadeirado do uísque em meu copo se misturava ao cheiro de tabaco queimando, criando uma atmosfera densa e sufocante. Kiara andava de um lado para o outro como uma fera enjaulada, os saltos de suas botas ecoando no piso de mármore. Seus olhos estavam quase selvagens de exasperação.
— Magno Galisteu, um dos conselheiros de Milão, morto dentro de um dos nossos cassinos, Lexia! Com a porra de um papel. Um papel! — Sua voz era cortante, cheia de incredulidade e frustração. — Uma carta. — Sua voz saiu baixa, mas carregada de incredulidade. — Ele morreu antes mesmo de abri-la. Estava escrito "Regresé". Resta alguma dúvida? — Levei o copo de uísque aos lábios, sentindo o líquido queimando a garganta como veneno. Jay permanecia em silêncio ao meu lado, absorvendo cada palavra de Kiara.
— Foi ela. — Jay finalmente quebrou o silêncio, me encarando como se esperasse minha confirmação. Mas eu permaneci impassível, tragando o cigarro e soltando a fumaça lentamente, como se quisesse atrasar o inevitável.
— Essa carta... — Kiara continuou, forçando as palavras a saírem como lâminas. — Fora os tiros de alta precisão. Ela é uma snniper, e uma química de primeira. Tem motivo e habilidade para fazer tudo isso.
— Tem. — Concordei, jogando a cinza no cinzeiro e observando a fumaça dançar na luz da lareira. Mas meu tom continuava desconfiado, como se eu estivesse esperando alguma peça restante se encaixar em minha mente. — Mas há outras pessoas também, com motivos e habilidades suficientes. Isso não falta nesse meio. — Minhas palavras soaram frias, calculadas, enquanto observava as chamas projetarem sombras distorcidas nas paredes.
Kiara não se deixou abater, batendo as mãos na minha mesa com força.
— Mas não como ela. É a que tem mais motivos. — A voz da loira estava carregava com a convicção de alguém que já tinha decidido o veredicto. — E é a mais habilidosa que conheço em toda a Itália. Isso pra dizer o mínimo. — Seus olhos penetrantes estavam fixos em mim, buscando algo que eu não estava disposta a entregar.
O olhar dela pesava como chumbo sobre meus ombros, e Jay apenas me observava, em uma expectativa silenciosa.
— Mesmo se for ela, já foi avisada. — Respondi, tentando manter a voz tranquila, mas senti o peso das palavras. Dei mais uma tragada no cigarro, sentindo o gosto amargo na boca. — Fui atrás dela.
O choque estampou-se no rosto de Kiara, enquanto Jay se manteve inexpressivo, o que de alguma forma fazia a situação ainda mais tensa.
— O que você fez? — Kiara demandou, quase incrédula. Respirei fundo, preparando-me para o que viria a seguir.
— Avisei a ela que, seja lá o que estiver tramando, eu vou descobrir. E não vou ficar de braços cruzados enquanto ela nos afunda. — Minha voz era cortante, cada palavra carregada de um aviso claro e imutável.
— Eu disse que eu, eu iria até ela! Que porra, Lexia! — Kiara explodiu, a raiva borbulhando em cada palavra. Mas eu me mantive firme, não deixando brechas.
— Kiara. — Jay interveio em um tom calmo, mas a tensão em sua voz era inconfundível.
— Não! — Ela virou-se para Jay, recusando-se a ceder. — Ela prometeu que não chegaria perto da Águila novamente! — Seus olhos se voltaram para mim, cheios de um misto de decepção e fúria. — Nós éramos um pouco próximas antes… Antes daquela merda toda. Eu poderia tentar falar com ela!
Ri, mas sem qualquer humor. A ideia de reconciliação era um sonho tolo que Kiara se agarrava desesperadamente, mas a realidade era muito contrária.
— Não adiantaria. — Jay bufou, sua paciência se esvaindo. — Você acha mesmo que ela não enfiaria uma bala na sua cabeça se tivesse a chance?
— Que se foda! — Kiara rebateu, seus olhos faiscando com uma mistura de raiva e mágoa. — Eu não tenho nada a ver com essa merda toda! Não fui eu que explodi a festa da minha ex!
Meu sangue ferveu com a menção daquele dia, e minha voz saiu baixa, mas afiada como uma faca.
— Acho melhor você calar a porra da boca antes que se arrependa, Kiara. Eu sou a Don, não aja como se não soubesse sua posição aqui.
Kiara parou por um instante, como se processasse a minha ameaça. Mas, em vez de recuar, ela avançou, com o dedo apontado para mim como uma acusação.
— Calar a boca como você, Senhora — riu irônica — fez todos esses anos sem explicar nada pra gente? Só olhando pra porra dessa lareira como se ela tivesse todas as respostas que você não tem?! — Suas palavras eram cortantes, e eu senti a tensão aumentar ao ponto de ser quase palpável. — Não a machuque, Lexia. — Ela me lançou um último olhar carregado de advertência antes de sair do escritório, batendo a porta com tanta força que o som reverberou pelas paredes.
O silêncio que ficou para trás era opressor. Jay me observava em silêncio, seus olhos avaliando cada detalhe da minha postura.
— Ela só... está estressada. — Jay quebrou o silêncio, tentando suavizar o ambiente, mas eu não estava interessada em continuar a conversa.
— Eu sei, Jay. — Interrompi, minha voz carregada de impaciência.
Ele hesitou, sabendo que estava pisando em terreno perigoso, mas decidiu continuar.
— Lexia... Se for ela mesmo, você vai precisar tomar atitudes.
Olhei para ele, meus olhos sombrios e resolutos.
— Eu já sei. — Cortei o assunto, não dando espaço para mais discussões. Esmaguei o cigarro no cinzeiro e me levantei com um gesto brusco, minha cadeira dando um solavanco para trás. — Vou treinar. — Saí do escritório, deixando Jay sozinho com suas preocupações.
~
No pequeno ginásio de meu apartamento, iluminado apenas pelo brilho fraco das lâmpadas, eu lançava golpes precisos contra o saco de pancadas. O som do couro sendo castigado preenchia o espaço, competindo com a minha respiração ritmada.
Cada gancho, cruzado e uppercut era um escape para as emoções. A raiva da conversa com Jay e Kiara, a frustração do encontro com Luna, e até mesmo uma ponta de medo se manifestavam nos socos quase descontrolados, transformando a energia negativa em força bruta. O suor começava a formar uma fina camada na minha pele, destacando a intensidade do treino.
Enquanto a luva encontrava o alvo, minha mente revisava a conversa no escritório. Os detalhes do assassinato, as acusações, as advertências de Kiara e Jay. Cada soco era um lembrete de que, seja qual for o jogo que estivesse sendo jogado, eu precisava estar um passo à frente.
A cadência dos golpes seguia um compasso próprio, um balé de força e estratégia. A imagem de Kiara, exasperada, e as palavras reverberavam nas paredes do ginásio. "Não a machuque, Lexia."
Entre sequências de jab e diretos, eu tentava canalizava a energia, transformando o caos interno em movimentos calculados. Cada impacto era um lembrete de quem eu era e do que era capaz de fazer. O treino tornava-se uma dança brutal, uma dança que refletia não apenas habilidade física, mas também a determinação incansável de proteger o que era meu.
Ao final do treino, permaneci no centro do ginásio, ofegante. O silêncio pós-luta era preenchido apenas pelo som da minha respiração. As palavras da conversa ainda ecoavam em minha mente, mas agora eu estava mais centrada, mais focada. Eu sabia que o verdadeiro jogo estava apenas começando, e eu estava pronta varrer qualquer um para fora do meu tabuleiro. Não importa quem fosse.
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Set me on fire | Romance Lésbico
RomanceLuna Águila e Lexia Innocenti, herdeiras de máfias rivais, compartilham um passado marcado por uma paixão intensa e proibida. Luna, conhecida como " A Química" da máfia Águila, é uma mente brilhante, com habilidades que vão da química à tecnologia...