" Então eu vou beber esse vinho, como se fosse remédio para o cérebro
Na minha língua, porque eu ainda saboreio o seu amor
Tudo nos meus ossos, da cabeça aos pés
Cumprindo a sentença, tentando sarar
Faço qualquer coisa só para não te sentir"Feel ~ FLETCHER
Luna ÁguilaMeus dedos tremiam enquanto segurava o celular com uma força desnecessária, mas era a única maneira de impedir que eu jogasse tudo para o alto e fosse atrás de Lexia naquele instante. Cada parte de mim gritava para evitar essa ligação, mas o álcool já havia destroçado qualquer barreira de autocontrole. Estava à beira de um colapso. Sabia que a raiva, o rancor e a dor me conduziam a um caminho sem volta.
O som do toque do celular ecoava como um martelo, batendo em sincronia com a pulsação acelerada em minhas têmporas. Quando a chamada quase caiu na caixa postal, ouvi a voz que, mesmo após tudo, ainda causava um nó na minha garganta. Uma dor aguda, misturada com tristeza e ódio, me atravessou, me fazendo me arrepender de ter ligado.
— Luna? — A voz de Lexia era calma, talvez até um pouco surpresa, mas havia algo mais ali. Uma frieza subjacente que me fez apertar o celular com tanta força que meus dedos doeram. Estava surpresa por ela manter esse número ativo.
Soltei uma risada amarga, carregada de desgosto.
— Surpresa, Don Innocenti? — Minha voz tremia, revelando o peso de todas as emoções contidas. Mas eu não me importava. Estava bêbada o suficiente para ignorar qualquer fraqueza exposta. — Ou será que você só está decepcionada?
— Do que você está falando? — A resposta dela veio rápida, seguida pelo som de uma porta se fechando com força. — Você está bêbada? — Havia desdém em seu tom, uma nota de frieza que me atingiu como um tapa.
Ignorei a pergunta e continuei, minha raiva explodindo em palavras cortantes:
— Por que não faz assim da próxima vez, hein? Quando quiser me matar, faça você mesma! Deixa essa covardia de lado! Cadê a "Lady Killer" agora?! Onde está a coragem da Chefe da máfia?!
— Te matar? Que diabos aconteceu, Águila? — A confusão era palpável na voz dela, mas eu só sentia desprezo.
— PARA! — Gritei, gargalhando logo em seguida, um som histérico e vazio. — E ainda usou a quantidade errada de explosivo! — Ri de novo, um som cruel escapando de mim. — Logo você, a tão precisa e meticulosa Lexia Innocenti, errando na dosagem? Ou será que só quis me assustar, me empurrar de volta para a toca? Foi isso, não foi?
— Luna, eu não faço ideia do que você está falando.
— VOCÊ EXPLODIU MINHA CASA! — gritei, sentindo as lágrimas queimarem meus olhos. — Meu lar. A porra do meu lar!
— Eu não fiz nada disso!
— Fez sim! — Sussurrei com a voz quebrada, como se implorasse para ela confessar. — Seja mulher o bastante para admitir. Admitir tudo!
— Eu não tenho motivo para te atacar, Luna!
— Claro que tem! Matei seus conselheiros, não foi? — O silêncio dela foi ensurdecedor. — Lexia...
— Isso foi uma confissão? — A voz dela estava fria, analítica, como se já estivesse calculando as consequências.
— Não! — Bati com o punho contra a parede, sentindo a dor latejar em meus dedos. — É o que todos vocês acham, não é? Vocês querem me ver morta de qualquer jeito. Por que?!
— Eu não acho nada, Luna. — Havia um cansaço na voz dela, uma exaustão que quase me fez sentir algo. Quase.
— Pois eu acho que você é uma piromaníaca psicótica, que gosta de ver tudo virar cinzas.
— Não. Fui. Eu. — Ela falou cada palavra como uma lâmina afiada, cortando o ar. Mas eu só consegui rir, um riso vazio e bêbado, cheio de amargura.
— Que pena, Lexia. — Respirei fundo, sentindo o peito se apertar. — Acho que a sua palavra não vale mais nada agora.
Desliguei antes que ela pudesse responder, jogando o celular na cama com raiva. Fiquei ali, sozinha no silêncio, ouvindo apenas o som da chuva do lado de fora, as gotas caindo no ritmo dos meus soluços abafados. Mesmo que eu quisesse, não conseguiria fugir das feridas que continuavam abertas.
O álcool nublava minha mente, mas não o suficiente para apagar a realidade cruel. Mesmo no fundo do poço, mesmo coberta de cicatrizes, ainda existia um pedaço de mim que não conseguia deixar de desejar que as coisas tivessem sido diferentes. Que eu tivesse sido diferente. Que eu tivesse tomado decisões diferentes.
Que não tivesse traído minha família, todo um legado. Por ela. Ou talvez essa parte só quisesse não ter se decepcionado tanto com ela.
Mas essa parte estava morrendo. E eu a enterraria junto com qualquer resto da antiga Luna que existia ainda.
Afundei-me no colchão, exausta, vazia, mas com uma certeza: estava longe de acabar.
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Set me on fire | Romance Lésbico
RomansaLuna Águila e Lexia Innocenti, herdeiras de máfias rivais, compartilham um passado marcado por uma paixão intensa e proibida. Luna, conhecida como " A Química" da máfia Águila, é uma mente brilhante, com habilidades que vão da química à tecnologia...