Cap 18 - Um Adeus Diferente

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Dom Íris: visão noturna

Pico Marto: local para amadurecer dom recebido

Rapés: árvores extremamente altas

Beirando a um estado catatônico, o meio galaceano se atrofiou em amargura e tristeza. Vez ou outra, o corpo respondia de forma violenta ardendo de dentro para fora numa raiva misteriosa. Jalef o ensinou, contudo, a dominar a força interna.

Sem notícias da amada há mais de seis meses, o único sentimento a manter os punhos intactos era a esperança de que o professor localizasse seu paradeiro. Àquela noite, durante uma pesquisa na biblioteca, soube que o momento tão desejado o aguardava de braços abertos.

Numa mensagem relâmpago, o amigo o avisara que deveria encontrá-lo na manhã seguinte. A busca por Sofia cessara dias atrás.

— Você é um tolo, duna! Sabe disso? — Traium correu para alcançar o adversário na saída do recinto, porquanto adorava os monólogos com ele. — Foi e sempre será um mísero terráqueo, um praga-viva. Não importa o que agreguem a você!

O forasteiro tentou se esquivar, mas o sujeito se colocou na frente. Após o exílio da esposa, ele virara uma espécie de atividade favorita, sobretudo porque não revidava às provocações. Respirou fundo ao sentir uma queimação no estômago ao pensar que, de alguma forma, a ausência da galaceana também o massacrava.

— Foi interessante! — Sem medir o desprezo, apontou o dedo a milímetros do rapaz, fitando-o numa frieza que o congelou de cima a baixo. — Como Sofia suplicou pela vida na hora do banimento!

Alex nunca fora informado sobre o auge do momento na Floresta de Aycol. Com isso, sentia-se castigado duplamente. Entretanto, ali, na porta da biblioteca soube que Traium desrespeitaria a regra do chefe da SOTE. Afinal, fora a primeira vez que comentara sobre o ocorrido durante a captura dos dois.

"Não o desperte por inteiro." — O provocador engoliu a seco ao lembrar das palavras do pai.

O rosto do jovem, contudo, já se acomodava em uma seriedade demoníaca. Cara a cara com o galaceano, a pupila felina se transformou e a raiva adormecida estourou as correntes invisíveis que o seguravam. A íris azulada nitidamente passou a um tom arroxeado como o céu em dia de tempestade. Os punhos sufocaram o sangue, se apertando numa inconsciência enlouquecida.

— O que aconteceu com ela, seu verme? — Alex engrossou a voz e dobrou o tamanho dos ombros. — Ela sofreu? Sentiu dor? Agonizou até desaparecer?"

Ora forte, ora leve, a respiração começou a oscilar. Fraco, fraco — uma queixa alheia dentro dele cantarolou feito um disco riscado. Alex tampou os ouvidos e a vista focalizou o nada, transpassando o peito do outro. As palavras, no entanto, continuaram com a acusação.

Numa sequência de engasgo e tosse a inspiração se intensificou e foi a vez do pescoço se alargar. Traium deu um passo para trás se esticando na parede.

Faiscando as pupilas verticais, o transmutado o agarrou pelas vestes. Arrancaria uma confissão nem que perfurasse o um dos olhos do maldito.

— Calma, calma. Não houve sofrimento — os pés do galaceano saíram do chão e ele enrugou a testa com a mentira. — Eu não permitiria tal selvageria com a nossa guardiã!

O forasteiro esmagou as costas do provocador mais um tanto e o desceu num solavanco. Os pulmões arfaram duvidando da conversa e os pulsos vibraram parecendo ter vida própria, loucos para se estatelarem no conjunto de ossos a frente.

— Desembuche logo — Alex voltou a pressioná-lo, deixando o punho fechado a centímetros do nariz do insolente. — Antes que eu te arrebente, canalha!

Galácena E Os EscolhidosOnde histórias criam vida. Descubra agora