A priori

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E então eles acordaram. Despidos em um vazio imenso, sem lembrarem ou saberem de nada. Os barulhos aos seus redores se formavam aos poucos. Os pensamentos lentamente iam surgindo, e em um estralo, a primeira coisa que eles sentiram foi algo dentro de suas mentes, um barulho estranho. Eram seus primeiros pensamentos. Eles gaguejaram, caídos no chão tentando se expressar pela primeira vez, mas nada aconteceu, nada saía, eles nem se quer sabiam falar. Não havia memórias, sentimentos e nem nada, apenas um corpo adulto aprendendo a lidar com a sensação da vida. Quando abriram os olhos pela primeira vez, eles estavam cegos pela claridade da luz forte de uma bola gigante e amarela que brilhava no céu.

Os primeiros movimentos foram em suas pálpebras, elas abriam e fechavam, e eles evoluíam com o passar do tempo. Estavam desidratados e sentiam algo escorrendo pelo seu corpo, junto com uma sensação de que apesar de estar com eles desde sempre, eles não haviam aprendido a senti-la. As gotas de suor de seus corpos nu desciam e escorriam para a grama quente. Nada cobria seus corpos além dos fortes raios de sol que os matava aos poucos.

Leigos, e fracos, como páginas em branco, não faziam ideia do que estava acontecendo, e nem se quer sabiam ou podiam questionar. Para eles, a realidade era diferente. Após os primeiros minutos de consciência, seus primeiros pensamentos e movimentos, seus últimos segundos de vidas chegaram. Com suas peles secas, sonolentos e com algo dentro deles pulsando cada vez mais forte, a morte os dominou. Uma escuridão tomou suas visões, mesmos de olhos fechados, um formigamento subia da ponta de seus pés até suas cabeças, matando, conquistando tudo. E quando não restava mais nada para ser destruído, eles então abriram os olhos.

Eles ainda não haviam aprendido a morrer. 

(H) ArtsOnde histórias criam vida. Descubra agora