Gostaria de ter percebido a borboleta em minhas mãos,
por mais uma vez, na esperança de que minha mente lançasse o avisoessa ação terá consequências.
Onze de outubro, uma sexta feira.
Assim como era há cinco anos atrás,
depois da primeira queda
na escalada.Antes de tudo,
os céus anunciavam todo o cinza por vir.
Com a troca de cores,
o azul se tornou vermelho,
e o preto da fumaça gritava de forma escancarada
toda a desgraça que estava a caminho.Em sinais e presságios,
me questiono se eram mensagens, ou prefácios
de letras em papéis que eu ainda não havia escrito.
Em síntese, tudo se repete.
Procuro respostas em um índice remissivo,
mas tudo que encontro são as origens das perguntas.Estranho como sempre há uma linha invisível amarrando o início ao fim.
To the moon and back
mas existem duas luas
no céu.Lembrem-se da morte, eles dizem.
Piada engraçada.
De alguma forma para almas despedaçadas
pensar sobre a mortalidade se torna
uma esperança e uma nota ao aproveito das mínimas felicidades de uma vida perturbada.Lembro de por no papel,
no mês após a queda,
o dilema melancólico:Não há como cair estando no fundo.
Memento ruinam.
Apesar de parecer uma fundamentação rasa para justificar uma inércia depressiva e o pânico de sentir
não era o que significava.
Cair novamente se tornou uma esperança, não um medo, pois significaria que
eu atingi o topo, mais uma vez.
Por um momento, toquei o sol,
mas não somente.
Em um segundo eterno de calor
vi entre super novas e nebulosas
nos dois sois
a dança interstelar
do amor cósmico.E então, aconteceu.
A segunda queda.
Do paraíso,
ao inferno.Pensei que fosse Icarus, mas quem sabe eu seja Samael.
Olho para cima e tudo que vejo ainda são penas caindo, das quais uso para escrever
com meu próprio sangue,
sobre meu próprio sangue,
em meu próprio corpo
perfurando minha própria alma.Como Locke dizia sobre o homem,
uma folha em branco,
mas agora manchada
de tinta poética
em todas as linhas.As folhas que me fizeram voar,
agora se derretem com as escritas,
e aquele que um dia sabia planar
se encontra, cara a cara,
com o chão.Em meu coração, tudo que espero,
é que seu bater de asas
não se torne um furacão.

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(H) Arts
PoesiaQuase um cofre poético. Deposito de frases. Leitor, cuidado, conteúdo frágil. Alguns sentimentos deram duro para construí-las.