Suguru Geto
Quando criança, eu me acostumei com o silêncio.
O tipo encontrado em quartos hospitalares tranquilos, escondido entre o bipe monótono e periódico de um monitor elétrico e o gotejamento constante de uma bolsa intravenosa. A cada interrupção, enfermeiras entrando para tirar sangue ou familiares chegando para dar falso apoio moral, meu corpo ansiava pelo vazio.
Eu me apaixonei pela quietude inata dele, a calma que proporciona, os segredos que você pode colocar em suas profundezas.
Aprendi a procurá-lo em tempos de caos, uma força para me conectar.Por fim, tornou-se uma necessidade.
O vício mais difícil de controlar.
Uma obsessão.
Uma… doença.
Meus colegas na faculdade, e mais tarde no trabalho, chamaram isso de transtorno psicológico. Disseram que meu cérebro tinha se acostumado a dar um curto-circuito sob certos estímulos, às vezes, bastava a existência de estímulos.
Senti que isso me tornava fraco.
Disfuncional.
Por conseguinte, ansiei por uma saída.
Algum lugar que eu pudesse ir e não me perder na falta da ausência do barulho. Em que a violência codificada no meu DNA pudesse ser satisfeita, que as partes de mim implorando pela morte e destruição ficassem saciadas.
Trabalhar para Rafael Gojo, o dono da família do crime mais importante de Boston – na época – nunca deveria ser uma coisa permanente. Ele me tirou das ruas e prometeu uma vida de luxo, se ao menos eu pudesse sujar minhas mãos um pouco.
Mas, como todas as outras coisas, saiu do controle.
Aprendi que desfruto muito do gosto da brutalidade em minha língua.
Amo a forma como desabrocha como uma flor surgindo da terra, atiçando uma compulsão como nenhuma outra.
Um desespero que só é aliviado pela sensação do coração de outro pulsando sob meus dedos, a vibração delicada e humana por natureza, petrificada e perplexa com minha presença.
Um desejo suprimido apenas por mãos e corpos ensanguentados mutilados por elas, as minhas mãos, as mesmas que estão sob um juramento de curar.
Deixei os mais sombrios desejos viverem dentro de mim, manifestados por minha obrigação com uma organização que entrei antes de saber o que estava fazendo, permitindo-me um desconto por causa da decência do meu trabalho diurno.
Era para ser o bastante.
Uma concessão moral que nem cheguei a pensar duas vezes até que as linhas se misturaram muito para eu distingui-las.
Até Satoru.
O mais proibido dos frutos.
O Anjo para meu Demônio, como alguns costumavam me chamar.
Primavera em um mundo repleto de morte e destruição.
Um homem que eu desprezava até ficar cego com uma nova obsessão.
Até prová-lo… a essência refrescante de sua pele suave, o sabor de sua excitação brilhando nas pontas dos seus dedos, o sal de suas lágrimas quando despedacei os últimos vestígios de sua inocência.
Quer ele saiba ou não, Satoru se entregou a mim naquela noite.
Entregou sua alma sob o pretexto da escolha.
E embora eu tenha ido embora como a Morte normalmente faz, silenciosa e antes do amanhecer, nunca foi minha intenção não voltar e coletar.
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-» Devotion / Satosugu
RomanceSatoru: Para a maioria, Suguru Geto é um vilão. Prenúncio da morte, guardião das almas, frequentador de pesadelos. Doutor Morte. Hades encarnado. Dizem que ele me roubou. Usurpou minha noiva e encheu as rachaduras no meu coração com promessas vazias...