· Run baby

21 2 0
                                    

Satoru Gojo

Ainda estou encarando nossa garçonete quando Suguru sai do prédio, deixando-me sozinho sem uma única palavra de despedida. Pisco quando a luz do sol inunda de modo breve o chão, por um momento me permitindo ver o trabalho artístico com tema marítimo pendurado nas paredes de painel de madeira e o gigante peixe cantor montado acima do bar.

Nunca fui a um bar em Boston, não posso julgar com precisão, mas podia apostar minha vida que esta atmosfera é bem diferente da vida noturna de lá.

Talvez seja parte do charme da ilha pequena e cafona. Talvez eu esteja mal-humorado porque o melhor truque de Suguru parece ser me abandonar.

Gwen volta com uma tigela de cerâmica na mão, colocando-a na mesa na minha frente. Um vapor espesso sai do prato, seu cheiro de vômito chegando no meu rosto. Enrugando o nariz, eu o afasto, tomando um gole da bebida.

Colocando a mão no quadril, Gwen acena para a lasanha.

— Não vai comer o que pediu?

O tom dela apunhala meus nervos, corroendo minha determinação.

— Não sei. Você vai ficar vendo?

— Provavelmente não. Não quero testemunhar quando você colocar as
tripas pra fora.

Revirando os olhos, pego o celular da bolsa, verifico as mensagens não lidas. Não há muitas, algumas de Ariana pedindo minha opinião sobre seu guarda-roupa, uma de Luke dizendo que sente minha falta sendo o intermediário entre as escolhas de moda dele e de Ari, e uma de Mamma dizendo para não entrar em pânico, porque ela vem me buscar.

Pelo visto, mesmo que eu esteja em Aplana há mais de uma semana e não tenha enviado sinais de socorro para casa, meus pais ainda estão usando a história de que sou algum tipo de vítima relutante neste casamento.

Irônico, considerando que não tiveram problemas em me amarrarem ao mesmo destino com outra mulher, embora ache que minha relação com Iori os beneficiou de uma maneira que a minha com Suguru nunca faria.

Ainda assim, jamais me deram uma escolha de verdade. Era o jeito deles, ou enfrentar a morte pelas mãos dos Anciãos.

Eu deveria ter escolhido a morte.

No final, sinto que foi isso que fiz, de qualquer maneira.

Digitando uma resposta rápida aos meus irmãos, deixo a mensagem da minha mãe sem resposta, enfiando o celular de volta no bolso e saindo da cabine.

Gwen ergue uma sobrancelha loira.

— Sair sem pagar? Elegante.

Reviro os olhos e ignoro, relutante em
deixá-la saber que mesmo se eu quisesse pagar, não teria como fazer isso.

Não só meu marido superatencioso me abandona na cidade, mas também
me deixa sem dinheiro ou conhecimento do meu paradeiro.

— Pelo visto, meu marido é dono deste lugar, então… coloca na conta dele ou algo assim.

Girando, não espero pela resposta ao caminhar para a porta da frente.

Minha mão toca a barra corta-fogo, ao mesmo tempo que os dedos de alguém se enrolam no meu cotovelo e me puxam para trás.

Agitei meu braço às cegas, dando um soco na direção do meu agressor, e a parte de trás da minha mão se conecta com seu rosto, um som satisfatório de ossos ecoando pelo ar quando o atinjo.

-» Devotion / SatosuguOnde histórias criam vida. Descubra agora